Por Bibiana Terra
Graduada Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Atualmente é mestranda junto ao Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (NERF) da mesma universidade
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As colisões com os animais são o impacto mais visível das estradas sobre a fauna. Porém, outros impactos não são percebidos pelos nossos olhos, como é o caso da poluição atmosférica. Nos últimos anos, o número de cidades de médio porte (população entre 100 mil e 500 mil habitantes) se expandiu rapidamente e, com isso, cresceu também o volume de veículos trafegando entre e nas cidades, o que inevitavelmente leva a um expressivo aumento na poluição atmosférica.
Em um estudo recente, os pesquisadores avaliaram a poluição atmosférica em Rondonópolis (MT), uma cidade de médio porte, com 215 mil habitantes, alta produção agrícola e que sofreu um grande aumento no número de veículos recentemente. Eles utilizaram pardais (Passer domesticus) como bioindicadores de poluição do ar e compararam amostras sanguíneas de indivíduos coletados próximos a áreas de tráfego intenso na BR-364 com indivíduos coletados em uma área-controle afastada da cidade.
Os indivíduos coletados próximos à rodovia apresentaram um aumento na concentração de hemoglobina e quase o dobro de células de defesa (heterófilos) que os indivíduos da área-controle. Essas mudanças fisiológicas são medidas compensatórias do organismo dos pardais aos efeitos dos poluentes absorvidos por eles. Além dos pardais, outros seres vivos (pessoas, outros animais e plantas) também devem estar sendo afetados pela poluição atmosférica emitida pelos veículos.
A utilização de organismos bioindicadores de poluição, como os pardais desse estudo, nos dá informações sobre os mecanismos de proteção fisiológica que existem nos seres vivos, mas ainda não se sabe qual é o limiar de proteção que um organismo é capaz de oferecer frente à crescente poluição. Com a expansão das cidades e o consequente crescimento de poluentes atmosféricos, é importante que se tenha programas de monitoramento e de melhoria da qualidade do ar. Porém, no Brasil, apenas 11% das cidades possuem esse tipo de monitoramento. O incentivo à adoção de meios de transporte coletivos com menor liberação de poluentes por pessoa, por exemplo, além de necessário é urgente.