Por Marlon Cezar Cominetti
Biólogo, mestre e doutor em Doenças Infecciosas e Parasitárias pela Faculdade de Medicina pela Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (Famed-UFMS). É é coordenador do Centro de Reabilitação de Animais Silvestres (Cras) do Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul (Imasul) em Campo Grande.
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Estranho esse título? Mas é verdade. O centro de reabilitação de animais silvestres (Cras) é um lugar triste e doloroso, misturado com alegria e ânimo. Como isso pode ser verdade?
Até meados de 2017, o Cras de Campo Grande ainda aceitava visitações como parte de educação ambiental e turismo. Entretanto, visando mais cuidado e segurança dos animais e pessoas, as visitações foram encerradas. Com a publicação da resolução Conama nº 489, de 26 de outubro de 2018, ficou autorizada a visitação apenas em zoológicos, salvo as visitas técnicas.
Constantemente, o Cras é confundido com zoológico, tanto por falta de informação da população como pelo histórico, que permitia a visitação em tempos passados. Não é raro atendermos mais ligações telefônicas de pessoas que gostariam de visitar o centro para um passeio turístico do que de alguma atividade pertinente ao Cras.
Tendo apresentado esse breve relato, ainda não expliquei o título.
Quem acaba conhecendo o Cras – por vários motivos – sempre elogia o trabalho e comenta: “deve ser muito bom trabalhar aqui”. Mas não é, apesar de ser. Nós temos uma rotina de hospital e, como é de se esperar, nunca conheci uma pessoa que gostaria de fazer um passeio com a família ou com amigos em um hospital. Dessa forma, não é agradável trabalhar no Cras e muito menos fazer uma visita turística ou recreativa no centro, pois somos um lugar que recebe machucados, doentes, abandonados, torturados, etc.
Porém, também disse que é um lugar de alegria. De fato, nossa maior alegria é ver a recuperação de um animal e sua devolução à natureza. Mas esse processo completo não pode ser admirado em um passeio. São dias, semanas, meses e, em alguns casos, anos de cuidado e dedicação.
Outro problema da visitação quando os animais estão em processo de reabilitação é a proximidade do homem com os animais. Para os humanos há o risco de adquirirem doenças (difícil, mas não impossível). Para os animais, o risco de eles não terem medo das pessoas. De fato, nem todas as pessoas são maldosas e usarão isso para aprisionar ou caçar um animal silvestre, mas ali é um treinamento e não pode haver distrações.
Ainda temos casos de visitação, mas apenas a técnica, para universidades, e com agendamento e planejamento prévio. Também só é possível com o uso de EPI (equipamentos de proteção individual) que garantam a segurança dos alunos e futuros profissionais.
Dessa forma, para aqueles que gostariam de conhecer um Cras, essas situações devem ser apresentadas para que a compreensão do trabalho seja ampliada e, quem sabe, apoiada de forma mais concreta.