Por Isabel Salgueiro Lermen
Bióloga pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) e mestranda na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) junto ao Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (NERF)
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Nós esperamos que isso não aconteça. Mas, se acontecer, as chances de ter ocorrido no Brasil são grandes.
Mês passado, participei do meu primeiro campo para monitoramento de fauna atropelada. Éramos três equipes de três pessoas, divididas para monitorar concomitantemente algumas rodovias do Rio Grande do Sul. O campo consiste basicamente em andar de carro, a 50 km/h, com observadores (motorista e co-piloto) monitorando as faixas de rodagem e acostamento de determinadas rodovias. Quando avistávamos (o que parecia ser) um animal morto, o motorista encostava, descíamos do carro, íamos até o animal, identificávamos, marcávamos o ponto no GPS e seguíamos viagem.
Embora o carro estivesse dentro da velocidade mínima exigida por lei e apresentasse muitas sinalizações como "mantenha distância", "em serviço" e "50 km/h", o ligar do pisca alerta por um momento parecia surtir mais efeito nos motoristas que trafegavam atrás. Apesar de toda sinalização, encontramos dificuldades com os colegas de via, como carros que andavam muito próximos – impossibilitando que parássemos quando precisávamos -, ultrapassagens arriscadas e motoristas que, incomodados com a velocidade, sentiam-se no direito de nos tratar com desrespeito.
Minha equipe era formada por três mulheres e, não raramente, quando parávamos, alguns motoristas buzinavam e passavam devagar, tentando nos intimidar e fazer com que nos sentíssemos inseguras. Além disso, alguns trechos do nosso monitoramento eram feitos a pé, por se tratar de um método mais eficiente para detectar anfíbios atropelados. É um trabalho que nos coloca em situação de bastante risco, pois grande parte das rodovias não possui acostamento. Agora, adicione a esses riscos as dificuldades relatadas acima…
Como já relatado, muitos riscos, tanto para a fauna quanto para os pesquisadores, podem ter aumentado com medidas recentes de cancelamento dos radares eletrônicos e com a nova política de impunidade do governo atual, que passam uma mensagem aos usuários das estradas de que tudo é permitido.
A Ecologia de Estradas é feita por pessoas! Já foi dito, e repito: você não é o único na estrada! Se você encontrar com essas (ou quaisquer) pessoas na via, sempre que puder, seja gentil e – se não puder ser gentil – apenas mantenha a distância e o respeito. Essas pessoas também estão cuidando da sua segurança.