NA LINHA DE FRENTE – A manutenção do silvestre como pet e o esquecimento da cadeia do tráfico

28 de janeiro de 2020

No novo lar, as agruras do tráfico desaparecem?

Por Vitor Calandrini
Primeiro-tenente da PM Ambiental de São Paulo, onde atua como chefe do Setor de Monitoramento do Comando de Policiamento Ambiental. É mestrando no Programa de Pós-Graduação em Sustentabilidade na Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP)
nalinhadefrente@faunanews.com.br

Sempre vemos notícias de tráfico de fauna como um ato terrível, em que  os animais são transportados sob condições de maus tratos, sem alimentação, água e até mesmo ventilação adequada. Essas condições levam muitos deles à morte.

Entretanto, quando esse animal chega a seu destino, ou seja, nas casas das pessoas que os manterão como de estimação, todos os problemas que o antecederam parece que desaparecem. Afinal, o animal virou um pet e toda a cadeia do tráfico passa a ser encarada como um fato inexistente.

E a falta de indignação com esses silvestres sendo cuidados como pets é o que alimenta a cultura da substituição do animal, quando há sua morte. O não sentimento de reprovação social estimula pessoas a criarem animais silvestres, pois o manejo e a manutenção do silvestre, ao invés de ser rechaçado, muitas das vezes é exaltado em redes sociais e até mesmo nas ruas, quando esses silvestres são levados para “passear”.

Esse tipo de cena é muito comum e é o motor do tráfico de fauna no BrasilÉ difícil imaginar que as pessoas que adquirem animais advindos do tráfico de fato gostem de silvestres, pois atualmente não é  segredo para ninguém a forma como eles chegam ao destino. Procurar animais silvestres para satisfação pessoal, atualmente, é o grande motor do tráfico no Brasil, pois, ao contrário do que acontece em países asiáticos e africanos, onde a caça é a furtiva, ou seja, visando parte de animais para satisfazer desejos medicinais ou até mesmo por desporto, por aqui ela se destina à manutenção em cativeiro.

Sendo assim, esta semana, o que peço aos leitores é que façamos a seguinte reflexão: gosto realmente de animais silvestres? Se gosto, devo retirar-lhes a possibilidade da vida livre para mantê-los como um souvenir em uma gaiola e expô-los aos amigos ou devo trabalhar para que continuem em vida livra e as futuras gerações também tenham a possibilidade de avistá-los na natureza?

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