Por Daniel Nogueira
Biólogo, especialista em Ecoturismo e analista ambiental do Ibama. É o responsável pelo Centro de Triagem de Animais Silvestre (Cetas) do Ibama localizado em Lorena
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Uma reflexão que já foi feita neste espaço de ideias é sobre a condição ou situação dos animais quando necessitam estar dentro de um centro de triagem de animais silvestres. É sempre o conflito, o impacto, a ação inapropriada ou criminosa que, infelizmente, levam milhares de animais para os Cetas. Estes, como já se sabe, devem receber, triar, tratar, reabilitar e destinar os animais silvestres, patrimônio da coletividade.
Quero agora fazer uma reflexão quanto a esse período de necessidade: o tempo no qual um animal específico passa dentro de um Cetas. Na minha opinião, a maior contribuição que a experiência, conhecimentos, desenvolvimento de técnicas e contribuições quanto ao dinamismo administrativo que se pode desenvolver em um Cetas é saber dosar este tempo e saber preenchê-lo com ações equilibradas e corretas.
De um modo geral, em uma avaliação genérica, esse período deve ser de breve duração, justamente para não fazer o que se tenta evitar, ou seja, interferir negativamente no comportamento e nas condições físicas e fisiológicas de um animal, piorando o que o acima citado “conflito” já fez. Também este período deve ser qualificado para poder reverter o máximo possível os danos físicos e comportamentais que já podem estar presentes no animal.
Então, tendo como referência um animal ou espécime, um Cetas pode significar a continuidade de sua importância e do cumprimento de seu papel; da perpetuação de sua vida. Contudo, o período que esse indivíduo passa em um centro de triagem deve ser, (quase que) obrigatoriamente, limitado. Portanto, os Cetas são locais de passagem, nos quais o fluxo, o caminho conta mais que a permanência, o acúmulo ou a estagnação. Dessa forma, como são instituições, usaremos aqui metaforicamente a ideia da porta de entrada, representando a entrada ou recepção desse animal pelos centros. No entanto, para que se confirme sua característica, continuando com a metáfora, devemos usar a porta de saída para que essa passagem ou período se confirme. Então, os dois extremos daquilo que se entende como função dos Cetas, que seriam a recepção (porta de entrada) e destinação (porta de saída), devem estar bem equilibrados para que esta passagem, este fluxo, possa ocorrer.
Um Cetas não pode desempenhar suas funções se não receber animais, é óbvio. Mas uma condição para o bom funcionamento, quase que inevitável, é a destinação. Se os centros de triagem existem para receberem animais que necessitam, também devem existir para procederem a sua destinação. A destinação é tão importante para a existência de um centro quanto a recepção. O quanto e como destinamos animais em um Cetas são fatores tão importantes quanto a quantidade de animais recebidos e os procedimentos que se realizam no seu funcionamento.
Sem dúvida, o maior desafio de um Cetas é buscar e encontrar maneiras corretas e ágeis para fazer a destinação dos animais que devem ser feitas. Centros de triagem que não destinam param de cumprir seu papel, pois, com o fluxo de passagem dos animais interrompido, passam a ser aqueles depositários em cativeiros dos animais que não são destinados. Lembrando que grande parte dos animais recebidos pelos centros chegam até lá exatamente pelo fato de estarem em cativeiro quando não deveriam estar.
Já que estamos usando metáforas para ilustrar o raciocínio, vamos para mais uma. Podemos dizer que é muito comum estarmos gratos, diante de uma necessidade extrema, quando nós ou um ente querido podemos contar com um hospital ou instituição afim, em um período de nossas vidas. Contudo, o que se deseja é sair dele o mais rápido possível, porque isso representa a recuperação, o reinicio da vida. Da mesma forma é o que se pretende de um Cetas.
Como já foi dito, nesses locais sempre existirão animais que não deveriam, mas que necessitam, estar lá e que devem sair o mais rápido possível.
O ideal seria que os Cetas gerassem com suas ações um benefício imediato para os animais. Contudo, é sempre necessário avaliar o quanto as ações e o contexto delas deve ser mediatas, continuadas, complexas. É esse balanço que os colegas dos centros de triagem devem exercer diariamente. As portas de entrada de um centro de triagem são sempre requisitadas. Contudo, as portas de saída devem ser constantemente postas em ação de maneira correta e responsável.