Por Daniel Nogueira
Biólogo, especialista em Ecoturismo e analista ambiental do Ibama. É o responsável pelo Centro de Triagem de Animais Silvestre (Cetas) do Ibama localizado em Lorena
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Sem dúvida, a experiência e o diálogo racional e crítico sobre erros e acertos, em qualquer área do conhecimento humano, faz com que se cresça e se caminhe ao melhor grau de excelência possível. E para que esta experiência reverta em fator pedagógico, são indispensáveis o fluxo destas entre os atores do presente e o registro correto e significativo das ações do passado.
Então, como falamos de centros de triagem de animais silvestres (Cetas), surgem algumas perguntas quanto à nossa relação com o presente e com aquilo que fizemos no passado. Quantos e quais centros de triagem de animais silvestres existem no Brasil atualmente e quais que já existiram, ou seja, já ficaram na história? Qual é o tamanho da equipe de técnicos que atuam ou já operaram nessas atividades? A grande quantidade de dados e experiências adquiridas durante esta rica história está disponível para nós que estamos nessa tarefa atualmente ou, de maneira mais simples, os profissionais destes Cetas da atualidade estão em contato e trocando experiências?
Sem dúvida, aprofundar um estudo sobre esse assunto daria um dispendioso, mas rico trabalho. Incialmente, não poderia deixar de ser citada a importante iniciativa da Divisão de Fauna Silvestre da Secretaria do Vede e do Meio Ambiente do município de São Paulo, que já em 2018 propôs realizar o Encontro Técnico Nacional de Centros de Triagem e Reabilitação de Animais Silvestres (ENACS), evento que em setembro de 2020 terá a sua terceira edição no CRAS Parque Ecológico do Tietê, na capital paulista. Certamente tal evento tem como proposta trazer alguma luz para os questionamentos acima e apresentar boas maneiras de fazer as coisas em um centro de triagem. Contudo, estes questionamentos ficam aqui como propostas para reflexões futuras.
Minha intenção neste momento é citar uma experiência recente de registro de atividades de Cetas e de ações de soltura. Trata-se da iniciativa muito interessante realizada pelo Ibama, Superintendência de São Paulo, da criação de um registro escrito sobre centros de triagem e áreas de soltura e monitoramento de animais silvestres. Essa forma de registro teve início em 2006, reunindo pessoas e práticas interessantes de ações, além de dados de Cetas e de áreas de soltura de fauna silvestre. A proposta era fazer uma revista bianual com o intuito de apresentar as experiências e fazer um panorama do que estava sendo feito, não só no estado de São Paulo, mas em outras propostas e projetos espalhados pelo Brasil e no mundo. A publicação era uma "prestação de contas" ao público sobre as atividades de recepção e destinação de animais silvestres e, também, de propor ou provar de maneira firme e tecnicamente correta a seguinte tese: “Os Cetas são necessários e, sim, é possível e imprescindível devolver os animais para natureza”.
Os artigos e as contribuições entravam, então, como estudos de casos para corroborar essa tese positiva. Como reforço, e hoje como registro histórico, as revistas trouxeram muitas contribuições em textos, dados e opiniões de pesquisadores respeitados, o que dava força e caminho para o que se estava fazendo na época.
Complementando seu mérito, o lançamento da revista era acompanhado, como culminância do trabalho, por eventos presenciais denominados “Encontros de Cetas e Áreas de Soltura do Estado de São Paulo”, quando, obviamente, se jogavam as luzes e o foco na atuação das áreas de soltura, sem que se perdesse de vista o trabalho dos Cetas e de outras instituições que a eles se relacionavam e que deles eram parceiras. Também, não obstante a restrição geográfica presumida da referência ao estado de São Paulo, também foram apresentados e trazidos para o evento pessoas, ações e instituições de outros estados brasileiros, em uma prévia conceitual do evento ENACS realizado atualmente.
Não se pode deixar de citar, finalmente, o importante trabalho de concepção e de realização dessa revista e dos encontros de Cetas e áreas de soltura, que teve a dedicação principal do colega analista ambiental do Ibama Vincet Kurt Lo e com apoio dos colegas analistas ambientais Carlos Yamashita e Jury Patrícia Mendes Seino. Juntaram-se a eles muitas outras pessoas e instituições, que podem ser conhecidas caso o leitor aceite o convite da leitura dos quatro números da revista.
Foram quatro publicações e quatro encontros iniciados em 2006 e que tiveram a sua última edição em 2012, quando a gestão de Cetas e de áreas de soltura de São Paulo passaram do Ibama para o Departamento de Fauna da Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente do Estado de São Paulo. Contudo, ainda hoje, esse material escrito é referência pelo conteúdo e protagonismo.
Como semente que brotou e deu frutos, a experiência resultante desta publicação deverá ser trazida de volta como inciativa dos Cetas do Ibama no Brasil; esperamos que ainda este ano.
Disponibilizamos abaixo os quatro números das Revista Ibama de Cetas e áreas de soltura: