Por Rubem Dornas
Biólogo, especialista em Geoprocessamento e mestre em Análise e Modelagem de Sistemas Ambientais na Universidade Federal de Minas Gerais. Integra o Transportation Research and Environmental Modelling Lab (TREM-UFMG) e o Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (NERF-UFRGS)
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A redução e o evitamento de fatalidades de fauna em estradas são temas constantes da seção Fauna e Estradas aqui do Fauna News. De modo geral, percebo que as pessoas que de alguma forma se relacionam com o tema de Ecologia de Estradas pensam de cara em “passagens de fauna” como sendo o principal método de mitigação de atropelamentos. A questão é que esse é um vício de pensamento a ser evitado.
Para um evento de atropelamento ocorrer, é necessário ter veículos trafegando na estrada e ter animais na estrada. Uma vez que paralisar o fluxo de carros é tarefa praticamente impossível, o ponto a ser enfatizado é evitar que animais acessem a estrada. E implantar somente passagens reduz as chances de a fauna continuar a frequentar a rodovia? Pouco provável, na maioria dos casos.
O que é realmente necessário para a redução de atropelamentos é a implantação de barreiras físicas, tipo as cercas. Assim, as passagens de fauna são um elemento importante, que possibilita a travessia, sendo um dispositivo crucial na manutenção do movimento dos animais, mas, se o objetivo é reduzir atropelamentos, elas devem ser construídas sempre em associação com cercas.
Embora pareça uma situação simples a de cercar determinado trecho onde existe agregação de fatalidades, essa tarefa deve ser cuidadosamente estudada dependendo de cada contexto, principalmente em relação à fauna que se quer evitar o acesso à pista. As cercas mais comuns, tipo alambrado, podem causar danos à fauna, tais como aprisionamento e estresse, ou mesmo direcionar as fatalidades para o final dessas cercas. A condição se torna ainda mais complexa em determinadas regiões em que a população furta as cercas, muito úteis para uma gama de aplicações, especialmente em áreas rurais. Ou seja, sem cerca, sem proteção para atropelamentos da fauna.
Um desafio que cabe a nós, como pesquisadores e como sociedade, é pensar em alternativas de cercamento que possuam ou menor valor agregado ou maior dificuldade de se furtar, evitando que as cercas sejam danificadas ou retiradas do lugar para o qual foram planejadas. Por exemplo, o cercamento de ferrovias com estacas extraídas de segmentos de trilhos é uma opção interessante que vem sendo utilizada e que deveria ter a sua eficiência testada. Precisamos do bom jeitinho brasileiro para trazer novidades e ideias para proteger a nossa fauna.