
Por Juliana Camargo
Presidente da Ampara Silvestre
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Quando pensamos em algum lugar do Brasil que tenha a fauna, as belezas naturais e o ecoturismo como símbolos, tenho certeza de que muitos pensam no Pantanal ou em Bonito (MS). Não há dúvidas de que o estado do Mato Grosso do Sul, que abriga esses locais, está entre os mais visitados do Brasil pelos amantes da natureza. Mas será que o contexto ao redor das atividades turistas e de sua infraestrutura presam por essa imagem?

De acordo com estudos realizados pelo Instituto de Conservação de Animais Silvestres (Icas), as malhas viárias do Mato Grosso do Sul estão entre as mais letais para a nossa fauna. Durante três anos, a equipe do Instituto monitorou 14% das rodovias asfaltadas do Estado para mapear onde os animais estão morrendo. No total, foram apenas 1.158 quilômetros monitorados e 12.398 animais mortos por colisões com veículos, incluindo 1.237 mamíferos de espécies classificadas como vulneráveis à extinção pelo Ministério do Meio Ambiente.
Para termos uma ideia do tamanho do impacto dos atropelamentos para a fauna, a cada três dias dois tamanduás são mortos nas estradas do Mato Grosso do Sul. Para piorar a situação, os números ainda estão muito subestimados porque é preciso considerar que várias carcaças somem antes de serem contabilizadas e que alguns animais morrem longe da rodovia onde foram atingidos por algum veículo. Não há dúvidas da existência de uma contradição entre a imagem de conservação e cuidados com a fauna e a realidade do conflito diário dos animais com os viários que cortam o Estado.
A situação crítica dos atropelamentos de animais é vista também na região de Bonito, considerada modelo de turismo do Brasil. A sociedade bonitense vem acompanhando e contabilizando os casos de colisões com a fauna e está cansada de ver espécimes sob as rodas dos veículos ou jogados nas margens das estradas. Foi a partir dessa triste realidade que uma petição pedindo soluções foi idealizada por moradores locais e apoiada pelo coletivo Unidos pela Serra da Bodoquena. Hoje, a petição já conta com mais de 6.700 assinaturas.

Sabemos que petições são apenas uma etapa do processo de transformação e a situação de Bonito é inaceitável. Sensibilizada pelo alto número de animais que encontrava atropelados ao longo das estradas de Bonito e com o sentimento da necessidade de mudança que Raquel Machado, presidente do instituto que leva seu nome, buscou soluções junto ao Ministério Publico do Mato Grosso do Sul, na comarca de Bonito.
Após entender a complexidade do problema, a solução encontrada foi unir diferentes organizações para trabalhar por soluções. E foi com a união de cinco organizações – o Instituto Raquel Machado, a ViaFauna, a Rede Pró-UC, a AMPARA Silvestre e a Fundação Neotrópica do Brasil, que nasceu o projeto #BonitoNãoAtropela.
O principal problema identificado está no fato de a expansão viária da região do município de Bonito não ter considerado os impactos específicos dos atropelamentos de fauna e de que as estradas representam uma barreira para os animais. Antas, cachorros-do-mato, tucanos e até os macacos-prego Sapajus Cay ameaçados de extinção, são vítimas constantes. Para se ter uma ideia, em uma das entradas da cidade é constante a presença de grupos desses primatas sobre a rodovia e, consequentemente, alguns acabam atropelados.

O projeto #BonitoNãoAtropela desenvolveu um plano de ação que pretende implementar medidas de mitigação dos atropelamentos, promover educação ambiental, e influenciar tomadores de decisão do poder público. Para que Bonito se torne um modelo no combate e redução de atropelamento de animais, é preciso chamar atenção e ganhar apoio da população, de personalidades, de possíveis parceiros e, principalmente, do poder público.
Dentre as ações previstas no projeto, estão a implementação de passagens superiores de fauna que, além de proteger os animais, vai reconectar os fragmentos florestais cortados pelas rodovias. Sabemos que as medidas de mitigação mais efetivas têm alto custo e necessitam de análises de engenharia. Para não ficar esperando esse moroso processo de mãos cruzadas, já estamos solicitando e viabilizando recursos para ações emergenciais, como a instalação de placas e de redutores de velocidade.
Assim, com essa união de forças, o projeto #BonitoNãoAtropela pretende conservar a fauna silvestre, minimizando acidentes e mortes nas rodovias, ampliando a conectividade dos habitat dos animais, trazendo inovação tecnológica para Bonito e servindo de exemplo de boas práticas ambientais para um local reconhecido internacionalmente pelo turismo ecológico.
Você também pode se engajar a essa causa divulgando e aumentando o alcance da campanha e cobrando o envolvimento do poder público!
– Instagram dos parceiros do #BonitoNãoAtropela:⠀
@amparasilvestre, @fundacaoneotropicadobrasil, @institutoraquelmachado,
@redeprouc e @viafauna.
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