Análise de Dimas Marques
Editor-chefe
dimasmarques@faunanews.com.br
A situação do papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva) acima é consequência da falta de respeito do ser humano com outras formas de vida; da certeza de que a natureza existe para servir ao homem.
O papagaio, com altíssima probabilidade, foi capturado na natureza ainda filhote. Por horas foi transportado de forma cruel, com pouco espaço, sem água e ventilação adequada, até ~um local onde foi vendido ou dado de presente para alguém.
Confinado em uma gaiola, recebeu dieta inadequada, nunca voou e jamais conviveu com os da sua espécie. A ave não tem a menor ideia do que é ser um papagaio.
Estressado e com problemas psicológicos, torna-se agressivo. Acaba esquecido em um canto. Mal é alimentado e tem sua água trocada ou gaiola limpa. Passa a arrancar as próprias penas. Sobrevive.
Se esse enredo fosse aplicado a uma vida humana, seria um filme de terror. Mas como acontece com um animal não-humano, os algozes envolvidos ficarão impunes. A legislação assim permite.
O papagaio da imagem acima foi resgatado da tortura por policiais militares ambientais paulistas no domingo, 3 de janeiro, em Itanhaém (SP), conforme matéria publicada pelo site A Tribuna. Na casa onde estava o animal, havia também quatro pássaros. Todos vítimas do tráfico.
A situação do papagaio no momento da apreensão pelos policiais foi assim descrita por A Tribuna:
“Já o papagaio estava em um viveiro metálico enferrujado, com pouca alimentação, água contendo a presença de lodo, muitas fezes e coberto apenas por uma lona precária. O animal também não tinha penas na parte da frente do corpo e asas, e demonstrou sinais de estresse, ficando agitado e agressivo. Indagado, o proprietário disse que o papagaio não tinha acompanhamento veterinário e que ele, há muito tempo, tirava as próprias penas.”
O infrator foi multado em R$ 6 mil. Raramente essas punições administrativas são pagas, assim como dificilmente haverá alguma punição pelo crime ambiental cometido.
Ausência de projetos de educação ambiental e legislação fraca, que incentiva a impunidade, geram situações como essa.
O papagaio deve ser encaminhado para algum centro de triagem e de reabilitação de animais silvestres (Cetras) e, se tiver muita sorte e condições de saúde e comportamentais, fará parte de algum projeto que vise soltura.
Passado trágico e futuro incerto.