Análise de Dimas Marques
Editor-chefe
dimasmarques@faunanews.com.br
“Uma onça parda morreu atropelada nesta quinta-feira (31) na BR-262 entre Aquidauana e Miranda. Fotos do animal morto nas margens da rodovia circulam nas redes sociais. A PRF (Polícia Rodoviária Federal) entrou em contato com a PMA (Polícia Militar Ambiental).
Porém, segundo a PMA, não há lugar para armazenar o animal para a realização de taxidermia para a uma futura utilização em educação ambiental. Com isso, o animal foi retirado da margem da pista e colocado em meia à vegetação, longe da rodovia, para evitar a parada de curiosos na pista. O trecho não possui a cerca que foi instalada pelo DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), para evitar que os animais atravessem a pista.
O MPF inclusive chegou a ajuizar ação para obrigar o DNIT em relação a melhorias da proteção com as cercas. Os cercados de um trecho ao outro nas laterais da rodovia foram instalados para ‘proteger a fauna silvestre de atropelamentos’ impedindo que os animais atravessassem de um lado para o outro, porém, o DNIT e o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) nunca informaram sobre a eficácia do material instalado na pista.
No trecho em que atravessa o pantanal sul-mato-grossense, entre Aquidauana e Corumbá, a BR-262 ostenta o título de estrada mais letal do país para a fauna silvestre. O pesquisador da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) Wagner Fischer monitora há 20 anos este trecho de estrada, classificando-a, em relação à vida selvagem, como “a mais mortal no Brasil e uma das mais mortais do mundo”. A recente estimativa dos pesquisadores da UFMS é de que, entre atropelamentos reportados e não reportados, o número já ultrapasse três mil mortes por ano, que atingem até 88 espécies de animais silvestres, entre elas algumas ameaçadas de extinção, como o macaco-prego e o cervo-do-Pantanal.” – trecho da matéria “Onça parda morre atropelada na BR-262 em MS” publicada em 31 de dezembro de 2020 pelo site Midiamax (MS)
Já dura alguns anos as discussões e embates envolvendo academia, Ministério Público Federal, DNIT e o Ibama sobre os atropelamentos de fauna silvestre no trecho da BR-262 que corta o Mato Grosso do Sul. Pesquisadores escancara a absurda mortandade de animais por atropelamentos, o MPF exige melhorias, o DNIT realiza algumas poucas alegando restrições orçamentárias e o Ibama nada faz de efetivo.
Enquanto isso, animais morrem.
A BR-262 é mais uma das rodovias oriundas do desenvolvimentismo capitaneado pelos governos militares durante os anos de 1960 e 1970. Preocupações ambientais, naquela época, praticamente inexistiam.
Esse quadro poderia estar sendo mudado com o processo de duplicação da rodovia, iniciado na década passada e ainda não concluído. A legislação atual já exige que essas obras de melhoria contemplem instrumento de mitigação dos impactos ambientais, o que inclui os atropelamentos de animais silvestres.
Mas parece que ainda temos interiorizados nas políticas públicas do país a ideia da incongruência entre desenvolvimento e conservação, o desleixo com a matriz ambiental dos projetos e a desconsideração com a vida. A velocidade de mudança desse status quo mostra-se insuficiente para conservar ecossistemas saudáveis e evitar a dor dos animais mortos e feridos.