Análise de Dimas Marques
Editor-chefe
dimasmarques@faunanews.com.br
Em Minas Gerais, durante o transporte
“Na manhã da última segunda-feira (15), durante a execução de operação preventiva referente ao período de carnaval, a equipe da Polícia Rodoviária Federal realizou a abordagem de um veículo VW com placas do estado de São Paulo, com 02 ocupantes. O veículo foi parado no posto de Perdões, da BR-381.
Os policiais localizaram grande quantidade de pássaros mantidos ilegalmente. Assim, foi acionado o apoio imediato da equipe da 6ª Cia PM MAmb com militares de Lavras.
(…) No total foram encontrados uma relação de 649 pássaros da fauna silvestre brasileira, sendo que os autores vieram de São Paulo e buscaram os pássaros na divisa com a Bahia. 45 pássaros se encontravam mortos.
(…) Os pássaros estavam sendo conduzidos de forma rude, estando em grandes quantidades em caixas muito baixas e pequenas (superlotação), com alimentação inadequada e até ausência dela, falta de água e em alguns casos, animais extremamente magros, evidenciando situação de cativeiro há algum tempo, e com lesões na cabeça e bico por brigas, penas arrancadas da cauda e cabeça”, contou a polícia.” – texto da matéria “Mais de 600 pássaros que eram mantidos em cativeiro são apreendidos na Fernão Dias”, publicado em 18 de fevereiro de 2021 pelo site Varginha Online
Estavam no carro canários, azulões, papa-capins, sofrês, galos-da-campina, tico-ticos, bigodinhos e pássaros-pretos. Eles receberam um primeira atendimento de um médico veterinário da região e foram levados para o Centro de Triagem de Animais Silvestres do Ibama, em Belo Horizonte.
Em Goiás, no depósito
“Cerca de 500 pássaros foram resgatados de uma casa no Jardim Alto Paraíso, em Aparecida de Goiânia, na Região Metropolitana da capital, na segunda-feira (15). O proprietário da residência foi preso em flagrante por captura e maus-tratos a animais silvestres, segundo o major da Polícia Militar Sérgio Penic, porque havia ave morte no local.
O nome do suspeito não foi revelado em razão da lei de abuso de autoridade e, por isso, o G1 não localizou a defesa para se manifestar sobre a prisão.
O oficial relatou ainda que o suspeito tem passagens na polícia pelo mesmo crime, além de receptação e associação criminosa. O homem foi levado para a Central Geral de Flagrantes da Polícia Civil.
(…) A corporação informou que os animais resgatados foram encaminhados para a Centro de Triagem de Animais Silvestres de Goiânia (Cetas).
Após receber uma denúncia, equipes do 45º Batalhão de Polícia Militar, do 7° Batalhão de Bombeiros Militar e do Batalhão Ambiental da PM foram até o local, onde encontraram cerca de 40 gaiolas com variadas espécies, como canário-da-terra, azulão e pintassilgo.” – texto da matéria “Homem é preso suspeito de maus-tratos e por manter ilegalmente mais de 500 pássaros em casa de Aparecida de Goiânia”, publicada em 16 de fevereiro de 2021 pelo portal G1
Mais de 80% da fauna apreendida com traficantes e em situações de cativeiro doméstico ilegal é de aves. É o grupo de animais mais traficado no Brasil.
Os pássaros (ordem Passeriforme) são as aves mais visadas por esse comércio criminoso. São canários-da-terra, coleirinhos, trinca-ferros, tico-ticos, curiós e indivíduos de inúmeras outras espécies que acabam capturados aos milhares por todo o país para serem vendidos como bichos de estimação. Cidadãos de bem, “acima de qualquer suspeita”, compram criminosamente esses animais dos bandidos.
Sim. Criminosamente. Comprar e criar animais silvestres retirados da natureza é crime ambiental. Tá lá no artigo 29 da Lei nº 9.605/1998 (Lei de Crimes Ambientais).
E pior. Essa compra incentiva os traficantes a capturarem mais e mais aves; seres vivos que nasceram livres e sofrerão o resto da vida em gaiolas, em um ambiente humanizado em que, provavelmente, lhe fornecerão uma dieta inadequada. Nunca mais voará. Nunca mais estará com os da sua espécie. Nunca mais cumprirá sua função na natureza.
Para a natureza, estará morto.
Impressiona a dimensão do tráfico de pássaros no Brasil. É gigantesco! Ainda mais se considerarmos que mais de 400 mil criadores amadores de Passeriformes estão legalmente registrados no SisPass (Sistema de Controle e Monitoramento da Atividade de Criação Amadora de Pássaros). E ainda há centenas de criadouros comerciais legalizados reproduzindo e vendendo passarinhos.
Ou seja, a possibilidade de criar legalmente esses animais não reduz o comércio ilegal.
Pelo contrário. Já há quem acredite que o fato de uma espécie ter permissão legal para sua criação (amadora ou comercialmente) ser um incentivo aos traficantes, pois estaria indicando o que o consumidor deseja. Tem lógica.
E olha que não estamos aqui discutindo o fato de que animal silvestre, seja de que espécie for, não deve ser criado como bicho de estimação. Essas espécies não passaram pelo processo de domesticação, como cães e gatos, e os animais têm comportamentos e necessidades incompatíveis com a vida em cativeiro. Eles sofrem.