Venetoraptor, um fascinante ancestral dos dinossauros e pterossauros do Triássico brasileiro

O Triássico (entre 252 milhões e 201 milhões de anos atrás) brasileiro é conhecido por seu rico registro fossilífero, abrigando uma variedade de dinossauros primitivos e de outros animais notáveis. Destacam-se os exemplares com excepcional preservação, como o Maehary, um ancestral dos pterossauros, encontrado em excelente estado.

Recentemente, paleontólogos do Centro de Apoio à Pesquisa Paleontológica da Quarta Colônia (Cappa), da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), descreveram uma nova espécie enigmática da fauna triássica brasileira: o Venetoraptor gassenae, um lagerpetídeo. Esse fóssil é notável por apresentar um esqueleto completo, incluindo um crânio praticamente articulado.

O Venetoraptor foi descoberto nas camadas da Zona de Assembleia Hyperodapedon, dentro da formação Santa Maria, datada do período Carniano do Triássico Superior, há aproximadamente 233,23 milhões de anos. Além do Venetoraptor, diversas outras espécies foram recuperadas na mesma localidade, como o sinapsídeos, pseudosuchianos, avemetatarsalianos (incluindo vários dinossauros) e outros répteis.

O espécime holótipo do Venetoraptor foi encontrado especificamente em São João do Polêsine (RS). Este fóssil parcialmente articulado consiste em partes do crânio, vértebras cervicais, dorsais e caudais, uma cintura pélvica parcial e elementos dos membros. O nome Venetoraptor é uma referência à localidade turística “Vale Vêneto” com a palavra latina “raptor”, que significa “saqueador”. Já o nome específico “gassenae” homenageia Valserina Gassen, fundadora do Centro de Paleontologia da Universidade Federal de Santa Maria.

Característica físicas do Venetoraptor

A análise do fóssil revelou estrias na superfície da pré-maxila, sugerindo a possível presença de uma ranfoteca ou cobertura queratinosa semelhante a um bico no animal quando vivo. A ponta do dentário também exibe uma textura semelhante, indicando uma possível cobertura de queratina. No entanto, a presença de dentes no restante da boca permanece incerta.

Observou-se que o comprimento dos metacarpos (ossos das mãos) aumenta gradualmente dos dígitos I ao IV, seguindo um padrão semelhante ao dinossauro Saltopus e muitos pterossauros. Além disso, o Venetoraptor apresenta mãos com longas garras em forma de foice, um traço que pode indicar um estilo de vida escansorial – ou seja, que permitiria a escalada em árvores e consumo de alimentos com mais facilidade. Embora o bico recurvado e as mãos com garras grandes sugiram uma possível adaptação para rasgar carne e consumir frutas duras, a dieta exata do Venetoraptor ainda permanece um mistério. A análise dos membros sugere a perda do quadrupedalismo obrigatório, o que sugere um estilo de vida bípede para o Venetoraptor e seus parentes.

O Venetoraptor gassenae e suas características intrigantes, como o esqueleto articulado e as garras em forma de foice, acrescentam mais uma peça ao quebra-cabeça da evolução da fauna triássica. Essas descobertas não apenas enriquecem nosso conhecimento sobre a biodiversidade da época, mas também nos permitem especular sobre o comportamento e a ecologia dessas criaturas antigas.

Para ler mais

• Müller, R.T., Ezcurra, M.D., Garcia, M.S. et al. New reptile shows dinosaurs and pterosaurs evolved among diverse precursors. Nature 620, 589–594 (2023).