Por Gabriela Schuck
Graduada em Ciências Biológicas e mestra em Ecologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). É doutoranda em Ecologia e atua no Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (NERF) da mesma instituição
transportes@faunanews.com.br
Em algumas rodovias em que muitas vezes a manutenção está abandonada, principalmente no interior do Brasil, é comum encontrar aquela pista em que parte dela já está coberta com a paisagem adjacente. A vegetação cobre o asfalto e até a marcação da estrada desaparece. Não precisa ser uma estrada muito remota ou sem fluxo de veículos para acontecer essa situação, pois o descaso na manutenção é presente tanto em rodovias estaduais quanto federais, concessionadas ou não, e essa falta de manejo pode custar vidas.
As orientações de manutenção podem variar em cada órgão ou entidade com circunscrição sobre a via, mas é de consenso a indicação de manejo da vegetação marginal para auxiliar na visibilidade dos motoristas. Porém, além da segurança do usuário, também deve ser salientado a segurança da fauna. Talvez, apenas o manejo não seria o suficiente para diminuir atropelamentos, pois a falta de uma zona de transição entre a vegetação e a pista pode fazer diferença na percepção dos animais e dos motoristas.
Já comentamos que beira da estrada também é habitat e, às vezes, é a única vegetação nativa da paisagem adjacente. Pois na faixa de domínio não é permitido construções, portanto, em regiões desmatadas, a beira da estrada vira refúgio. Entretanto, ela pode também virar uma armadilha ecológica, em que os animais ficam restritos a uma faixa de vegetação nativa com uma quebra de paisagem muito drástica quando chega na pista, proporcionando riscos eminentes de atropelamentos.
A falta de uma zona de transição deixa muitos motoristas apreensivos em dirigir durante a noite em rodovias com presença de animais de grande porte. Conversando com alguns condutores de veículos da região do Pantanal, eles relataram que durante a noite transitam com o carro no meio da rodovia (usando as duas faixas) por medo de colidir com algum animal. Muitos moradores acabam suprimindo a vegetação da pista por conta própria, inclusive com uso de fogo, o que causa outros impactos.
Alguns estudos já avaliaram a influência da vegetação adjacente nos atropelamentos e encontraram relações positivas (quanto mais vegetação, mais atropelamentos), como em dois estudos para aves e mamíferos , em que ambos recomendaram manejo na flora marginal da rodovia.
Portanto, é muito importante cobrar o órgão responsável da via para manter o manejo em dia, independentemente do fluxo da rodovia. Considerando que a faixa de domínio pode ser um local importante para a conservação da flora nativa, é possível pensar em estratégias de criação de zonas de transição de ambientes, pelo menos uma faixa de poucos metros de supressão, para que os animais possam ter uma chance de perceber a troca de paisagens.
– Leia outros artigos da coluna FAUNA E TRANSPORTES
Observação: as opiniões, informações e dados divulgados
no artigo são de responsabilidade exclusiva de seu(s) autor(es)