Por Yuri Marinho Valença
Biólogo, mestre em Biologia Animal pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). É coordenador do Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) Tangará da Agência Estadual de Meio Ambiente de Pernambuco (CPRH), em Recife, e coordenador técnico do projeto de reabilitação, soltura e monitoramento de papagaios-verdadeiros intitulado de Projeto Papagaio da Caatinga
universocetas@faunanews.com.br
O projeto Papagaio da Caatinga é uma iniciativa desenvolvida desde junho de 2010 por meio de uma parceria do Centro de Triagem de Animais Silvestres Tangará da Agência Estadual de Meio Ambiente de Pernambuco (CPRH) com o Centro de Manejo de Fauna da Caatinga (Cemafauna) pertencente à Universidade do Vale do São Francisco (UNIVASF). O objetivo é conservar papagaios-verdadeiros (Amazona aestiva) na caatinga, bioma onde a população da espécie está em declínio. Naquele ano, foram soltos os primeiros 36 papagaios que passaram por todo o processo de reabilitação.
Atualmente, a parte de preparação dos animais em cativeiro é desenvolvida em dois centros de triagem de animais silvestres: o Cetas Tangará e o Cetas do Cemafauna da UNIVASF. A parceria entre as entidades permite que os animais possam ter o devido preparo de reabilitação com recintos de voo de cinquenta metros de comprimento por oito de altura.
Três áreas de solturas estão cadastradas para receberem os papagaios e nelas já foram realizadas sete solturas de grupos dessas aves. Essas áreas se localizam nas áreas rurais dos municípios de Exu, Salgueiro e Lagoa Grande.
Em Exu, a área, cadastrada desde 2012, fica localizada no Sítio Mangueiras e já foram realizadas três solturas que foram divididas desta forma: 36 animais em janeiro de 2013, 58 em julho de 2013, 38 em julho de 2014. Em Salgueiro, também foram realizadas três solturas divididas em 55 animais em agosto de 2014, 51 em outubro de 2016 e 51 em outubro de 2017. Em Lagoa Grande houve apenas uma soltura até o momento, que envolveu 63 animais em janeiro de 2019. Ou seja, ao todo já foram soltos 352 animais que, desde o retorno à vida livre, continuam sendo monitorados e fiscalizados.
Atividades de educação ambiental também são desenvolvidas. Elas abrangem desde vizinhos das áreas de soltura, que participam de cursos de vinte horas e recebem visitas mensais em suas residências para identificar os locais de passagem dos animais, até a população urbana dos municípios envolvidos onde é feita a divulgação em rádios e eventos nas praças públicas.
Foi possível também incluir os resultados do projeto no incentivo do turismo ecológico em Exu, onde se deu uma movimentação de turistas para conhecer a região devido à divulgação realizada através do projeto em redes sociais e em telejornais local e nacional.
Como função de vida, o projeto empenha-se em conservar a espécie Amazona aestiva na caatinga. Com a divulgação em todo país do sucesso das solturas, outras entidades de outros locais e Estados têm procurado a ajuda do projeto para dar a destinação correta a esses animais que, a cada dia, são mais explorados dentro do tráfico de fauna silvestre.
Com o início das chuvas no sertão, os animais já soltos começam a jornada pela reprodução. Em Salgueiro, obtivemos uma temporada reprodutiva muito boa. Nessa área de soltura foi possível localizar cinco ninhos ativos com dois deles já havendo a ocorrência de filhotes, que estão prestes a sair do ninho por estarem completamente emplumados. Esse período foi registrado entre janeiro e maio de 2018.
Na nova área de soltura em Lagoa Grande, na Fazenda Garças, no distrito de Juntaí, as aves da primeira soltura estão completando seu primeiro ano se adaptando ao ambiente de liberdade. Continuamos esse trabalho monitorando o desenvolvimento passo a passo e com bastante fé que novas áreas e novos conceitos de conservação serão formados em nossa sociedade já tão descrente de melhoras. O Projeto Papagaio da Caatinga tem isso na sua essência: trazer esperança àqueles que já se mostravam perdidos diante do mal causado por seu cativeiro e pelo amor egoísta dos seus carcereiros.