
Graduada Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Mestra e doutoranda no Programa de Pós Graduação em Ecologia da mesma universidade, onde atua no Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (NERF). É integrante da Rede Brasileira de Especialistas em Ecologia de Transportes (REET Brasil)
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O planejamento de medidas mitigadoras de impactos negativos é uma etapa importantíssima na construção ou duplicação de rodovias e ferrovias. Algumas perguntas surgem durante esse processo, como “qual tipo de mitigação utilizar?” e “quantas medidas de mitigação instalar?”. Essas questões ainda precisam de respostas (e provavelmente a resposta mude caso a caso), mas aos poucos o conhecimento avança para respondê-las.
Embora eu não vá responder diretamente nenhuma das questões, quero que pensemos a respeito de uma discussão sobre planejamento de mitigação que achei interessante. Temos visto uma crescente presença de viadutos vegetados como opção para manutenção da conectividade entre os lados de uma estrada. Essa medida têm alto custo financeiro e são necessárias análises robustas para definição do local de instalação para que elas possam cumprir seu papel de estrutura de travessia.
Um artigo de opinião recente trouxe para dentro da Ecologia de Rodovias um debate recorrente dentro da Conservação: SLOSS. Em inglês, a sigla significa “single large or several small” e pode ser traduzida por “uma única grande ou várias pequenas”. Resumidamente, esse debate discute a melhor opção para a conservação da biodiversidade em ambientes fragmentados, explorando número e tamanho ideais de áreas a proteger: uma área grande ou várias áreas pequenas. O autor trouxe o debate para o contexto de estruturas de travessia de infraestruturas de transporte para animais de grande porte. Embora não tenha sido realizada uma análise comparativa entre as estruturas, o trabalho apresenta critérios para discutir se um viaduto vegetado grande é melhor do que várias passagens de fauna menores para o cruzamento da fauna entre os lados de uma estrada.

O autor apresenta diversos argumentos do porquê, para ele, investir na instalação de várias passagens de fauna ao longo de uma estrada pode ser a melhor opção para restaurar a conectividade em situações como:
– paisagens homogêneas, com pouca variação na vegetação;
– áreas em que os animais mudam suas rotas de cruzamento com frequência;
– regiões sem informação sobre deslocamento dos animais; e
– múltiplas espécies-alvo com diferenças nas preferências de habitat.
Essas e outras situações descritas no artigo são exemplos de fatores que podem ser considerados durante o planejamento de mitigação.
É importante destacar que esses argumentos foram formulados para um determinado contexto e que não devem ser generalizados e tomados como verdade para qualquer situação. Como o autor menciona, a mitigação deve considerar, por exemplo, o contexto da paisagem da região e as relações/características das espécies-alvo de mitigação. Um ambiente com remanescentes naturais e outro de área agrícola provavelmente terão planejamentos de mitigação diferentes. Assim como quando estivermos trabalhando com espécies-alvo com tipos de mobilidades e características diferentes.
Um passo interessante nessa discussão seria testar a opinião do autor em diferentes contextos para obtermos evidências sobre qual opção é melhor em cada situação, gerando subsídios para embasar as tomadas de decisão. Temos a oportunidade no Brasil, por exemplo, com os novos viadutos vegetados que foram construídos. Além de testarmos se eles estão sendo efetivos para o objetivo para o qual foram construídos, podemos compará-los com passagens subterrâneas em estradas em que tenham ambas as estruturas para sabermos qual a melhor opção. Mas, assim como para a área da Conservação, o debate SLOSS para a área de Ecologia de Rodovias ainda precisa ser mais discutido e avaliado para nos dar uma resposta.
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