
Gestor ambiental e fundador da Associação Protetora dos Animais Silvestres de Assis – Apass, que mantém um Cetras no interior paulista
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Sempre queremos trazer boas notícias, curiosidades, eventos importantes e matérias que alegram nossos dias, contudo, para quem vive nesse universo do mundo dos centros de triagem e reabilitação de animais silvestres, os Cetras, são mais notícias e acontecimento ruins do que bons, infelizmente.
O acontecimento mais recente em nosso centro foi a chegada de uma apreensão de sete macacos-prego recém-nascidos vítimas do tráfico de fauna e que iriam abastecer o mercado ilegal (ou legal, quem sabe) da venda de animais silvestres como “pets”.

No dia 19 de janeiro, recebemos os sete filhotes, sendo que dois deles estavam com seus cordões umbilicais ainda presos em seus abdomens, segundo a equipe da Polícia Militar Rodoviária, que realizou a apreensão na altura de Santa Cruz do Rio Pardo (município próximo da divisa com o Paraná) da rodovia BR-153. Os animais estavam com duas pessoas em um veículo alugado vindo de Londrina (PR). O fato de a numeração de placa indicar no sistema de monitoramento da PM que havia uma queixa de apropriação indébita relativa ao veículo, que não teria sido devolvido à empresa locadora, chamou a atenção dos policiais.
No momento da abordagem, os policiais rodoviários constataram que o motorista e a acompanhante já tinham sido flagrados por cometerem crimes ambientais e no momento da vistoria encontraram os filhotes em caixas, com dificuldade para respirar, passando muito calore extremamente desidratados. Dois deles apresentando febre intensa.
A dupla foi conduzida para a Delegacia de Sata Cruz do Rio Pardo e o motorista ficou preso, não pelo tráfico ou maus-tratos contra os animais, mas pela apropriação indébita do veículo.
Os filhotes estão bem no momento, os prognósticos são bons. Eles ganharam peso e estão evoluindo.
Mas dessa história toda, o que nos deixa mais intrigados é o delito ambiental em si. Percebemos que para essas pessoas, o crime compensa, pois as punições são brandas e os enquadramentos nos artigos da legislação são irrisórios. Eles mesmos dizem “a gente tira de letra, suave”.
Tal afirmação é verdadeira. Muitos criminosos são reincidentes e quase todos continuam em liberdade, ficando presos aqueles que cometeram outros crimes associados ao tráfico de fauna, como falsidade ideológica, documentação falsa, veículo roubado, tentativa de suborno, entre outras acusações. Nada acontece pela crueldade contra animais.

Essa falta de enquadramento no ato das apreensões se dá simplesmente porque os animais silvestres são tratados ainda como objetos ou coisas e não como um ser vivo, que tem necessidades especiais como as humanas. A atenção especial à questão dos maus-tratos contra animais tem se aplicado em ocorrências envolvendo animais domésticos. Por que será?
Muitos dizem que isso acontece devido interesses diversos, como a caça legal, por exemplo, ou o comércio de animais silvestres que podem ser considerados animais de estimação. A discussão é muito ampla.
O fato é que a modalidade de tráfico de macacos, aqui em nossa região, se tornou rotineira e já houve várias apreensões nos últimos quatro anos. Em 2020, houve duas apreensões de macacos-prego filhotes no mesmo dia, por equipes da mesma base da Polícia Militar Rodoviária, envolvendo pessoas da mesma família, todas reincidentes nesse tipo de crime.
Uma resposta enérgica por parte das polícias Civil e Militar do estado de São Paulo, e acredito que da Polícia Federal, por se tratar de tráfico entre dois Estados (São Paulo e Paraná), tem que acontecer com a finalidade de inibir esse tipo de crime. Os policiais já sabem de onde esses primatas são retirados todos os anos, quem os comercializa, quem captura, qual seu destino, suas redes de contatos, etc.
Além das fiscalizações por parte dos órgãos competentes e das forças de segurança é importante também estimularmos a educação ambiental, enfatizando sempre que se não houver o consumidor final que encomenda os animais silvestres, o tráfico diminui ou até se extingue por não haver interesse comercial.
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