Casal que há mais de 30 anos viaja até os lugares mais remotos do Brasil para fotografar a natureza. São adeptos da ciência cidadã, ou seja, do registro e fornecimento de dados e informações para a geração de conhecimento científico
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Em São Paulo, o comum é passarinhar em locais da Mata Atlântica ou do Cerrado. Mas é possível passarinhar em território paulista em um ecossistema semelhante ao do Pantanal. Um verdadeiro privilégio chamado Tanquã.
O Tanquã, em Piracicaba, é uma excelente opção para uma passarinhada com ares de Pantanal para aqueles que moram ou estejam passando por São Paulo. Um paraíso que estava ameaçado e agora está protegido por lei.
Um santuário ecológico
De uma vila de pescadores, o bairro Tanquã tornou-se vilarejo com dezenas de casas à beira-rio. As várzeas, que dão origem ao “mini Pantanal paulista”, são resultado da construção da barragem da usina hidrelétrica de Barra Bonita, há pouco mais de 50 anos. O local é chamado de Mini Pantanal devido à semelhança com o ecossistema do Centro-Oeste brasileiro.
As águas rasas e lentas atraem mais de 230 espécies de aves, das quais 19 estão ameaçadas de extinção. Abriga também mamíferos, répteis e anfíbios que perderam o habitat devido ao desmatamento da Mata Atlântica e do Cerrado.
Assim, o Tanquã se tornou não só uma área de refúgio para descanso, alimentação e abrigo, mas também um local para reprodução de aves migratórias.
Toda essa área corria o risco de ser coberta pela ampliação da hidrovia Tietê-Paraná, que elevaria em 5,5 metros o nível do rio, permitindo a extensão da via à região de Piracicaba. No entanto, a obra faria com que toda a região do Tanquã ficasse coberta pelas águas. Foram muitos os movimentos contrários dos moradores e dos ambientalistas, até que, em 2018, a área de 14 mil hectares foi transformada em Área de Proteção Ambiental (APA) pelo governo do Estado de São Paulo, protegendo esse que é considerado um santuário ecológico.
Entre a fauna é possível observar diversas espécies aquáticas, muitas delas típicas do bioma Pantanal.
Entre os mamíferos e répteis, foram avistados exemplares de onça-parda, ratão-do-banhado, ariranha e jacaré-de-papo-amarelo. Nas matas vivem famílias de monos-carvoeiros, espécie ameaçada de extinção.
Planejamento e logística
Fomos passarinhar duas vezes no Tanquã e em ambas saímos de São Paulo no dia anterior e nos hospedamos em Piracicaba para poder chegar bem cedinho no local. Importante destacar que o Tanquã fica a 230 quilômetros da capital paulista e a 60 quilômetros do centro de Piracicaba – é um bairro distante. O acesso é pela rodovia SP-147, que liga Piracicaba a Anhembi.
A melhor época para passarinhar no Tanquã é quando as águas estão baixas, pois pode-se registrar diversas aves nos barrancos do rio.
Fomos guiados pelo amigo Gustavo Pinto, que é um dos guias pioneiros no Tanquã e conhece muito bem as espécies do local. Ele se se encarregou de fazer com antecedência o aluguel do barco e a contratação do barqueiro.
O sentimento de estar no Pantanal
A passarinhada normalmente começa por volta das 7 horas e termina antes do almoço. Do barco se avistam bandos de diversas espécies de aves, sejam marrecas-toicinhos, pernilongos-de-costas-brancas ou os belíssimos colhereiros. A cada curva do rio surge uma surpresa, sendo muito comum encontrar as aves aquáticas com seus filhotes nos primeiros dias de vida. É a maravilha da vida num pequeno pedaço de rio.
Em nossas passarinhadas no Tanquã, registramos diversas espécies, destacando-se o tuiuiú, a cabeça-seca, o colhereiro, a sanã-amarela, a sanã-parda, o trinta-réis-grande, o talha-mar, a águia-pescadora, o marrecão, a marreca-toicinho, a marreca-cabocla, a marreca-cricri, a marreca-caneleira, o tricolino, o pernilongo-de-costas-brancas, o mergulhão-pequeno, o frango-d’agua-azul, a carqueja-de-bico-amarelo, a lavadeira-de-cara-branca, o arredio-do-rio, o carretão e o caminheiro-zumbidor.
Um local para voltar em diferentes épocas do ano
O Tanquã é frequentado por muitas aves migratórias durante o ano, sendo esse um excelente motivo para voltar diversas vezes e observar a cada viagem diferentes espécies.
Fontes: G1 – Terra da Gente, O Estado de S. Paulo e Wikiaves
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