Bióloga, mestre e doutora em Ecologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). É pesquisadora pós-doutoranda do Programa USP-Sustentabilidade vinculado ao Laboratório de Ecologia, Manejo e Conservação de Fauna Silvestre da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq/USP). Também é colaboradora do Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (Nerf) da UFRGS.
A notícia dessa semana foi o aparecimento de um tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla) no Parque Estadual do Espinilho, no Rio Grande do Sul. A espécie era considerada extinta no Estado há mais de um século. Para ser mais precisa, há 130 anos. Até o momento, há dois registros: o primeiro feito em junho e o segundo em setembro. Não é possível ainda dizer se são registros do mesmo indivíduo, mas o que importa é que a espécie foi identificada.
A notícia viralizou. Coincidência ou não, justamente na semana em que se comemora o Dia Nacional do Pampa. O bioma Pampa é o segundo menor bioma do Brasil, mas abriga mais de 12.500 espécies, sendo 1.136 espécies de animais vertebrados. Infelizmente, o Pampa está extremamente ameaçado pelo avanço agrícola e conta com menos de 3% de sua área em unidades de conservação (UCs). Segundo um estudo de 2021, mesmo as UCs de proteção integral no Pampa sofrem uma enorme pressão com usos antrópicos. Além disso, precisamos avançar, e muito, no reconhecimento da importância desse bioma, inclusive para os nossos governantes.
O Parque Estadual do Espinilho, onde o tamanduá-bandeira foi registrado, é uma importante unidade de conservação do Pampa. Por lá, também estão outras espécies ameaçadas, como o cardeal-amarelo (espécie essa que também já ganhou as mídias anos atrás por ser encontrada no Espinilho).
O parque se localiza na fronteira oeste do Rio Grande Sul, chegando às margens do rio Uruguai, fronteira com a Argentina. Inclusive, os biólogos e especialistas responsáveis pelo registro do tamanduá-bandeira suspeitam que ele tenha vindo da Argentina.
Mas o que o tamanduá, o Pampa e o Espinilho têm a ver com uma coluna Fauna e Transportes?
O Parque Estadual do Espinilho é cortado por uma rodovia, a BR-472, que liga as cidades do extremo oeste gaúcho à tríplice fronteira: Brasil, Argentina e Uruguai. Os conflitos entre tamanduás-bandeiras e rodovias são muito bem descritos para outros Estados, como o Mato Grosso do Sul – com destaque para os trabalhos do projeto Bandeiras e Rodovias do Instituto de Conservação de Animais Silvestres (Icas).
Até onde encontrei em uma busca rápida no Google (talvez tenha falhado em encontrar mais informações), para o Parque Estadual do Espinilho há um trabalho explorando o efeito da rodovia sobre diversidade de aves as margens da BR-472 junto à UC; um estudo com registros de fauna atropelada na mesma rodovia e não há outros trabalhos estudando os efeitos dessa rodovia sobre a biodiversidade dessa área protegida.
Para que outras espécies ou o único representante de tamanduá-bandeira no Estado não voltem à mídia por conta do impacto da estrada, fica aí um alerta e um chamado: precisamos conhecer mais sobre a biodiversidade tanto dentro quanto fora das unidades de conservação e também entender melhor os efeitos das rodovias que cruzam essas áreas, como a BR-472 e o Parque Estadual do Espinilho.
Bióloga, mestre e doutora em Ecologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). É pesquisadora pós-doutoranda do Programa USP-Sustentabilidade vinculado ao Laboratório de Ecologia, Manejo e Conservação de Fauna Silvestre da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq/USP). Também é colaboradora do Núcleo de Ecologia de Rodovias […]
