Bióloga pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) e mestranda na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) junto ao Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (NERF)
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Existe uma música dos Beatles que diz “A longa e sinuosa estrada/Que leva até a sua porta/Jamais desaparecerá/Eu já vi esta estrada antes/Ela sempre me traz até aqui/Conduz-me até a sua porta”. Olhe pela janela de casa. Há uma rua que vai até a porta de sua casa, não é? Você já se perguntou por que existe uma rua ali? Por que existem as estradas? Recentemente, aqui no Fauna News, comentamos que as estradas cumprem a função, entre outras tantas, de auxiliar a movimentação de bens e pessoas.
Enquanto sociedade, nós criamos a necessidade de transportar insumos e indivíduos, e – à medida que fomos expandindo esses acessos – fomos expandindo as demandas. Não trago com esses questionamentos a intenção de erradicação das estradas (a própria música citada reforça isso), mas sim o questionamento do valor das estradas. Nosso consumo está intimamente associado ao uso e à importância dessas estruturas e, uma vez que elas estão intrinsecamente ligadas à mortalidade de fauna, nosso consumo contribui para os atropelamentos. Haverá carros, haverá atropelamentos.
É importante que pratiquemos o consumo com sabedoria, sempre atentos para os custos ambiental e os desdobramentos ecológicos dele. O atropelamento é um deles. Mas existe outra forma de lidar com essa questão? Queremos e/ou precisamos consumir determinados produtos. Nesse sentido, a valorização da produção local é uma possibilidade muito interessante de mitigar o impacto das estradas.
Comprar do comércio local pode reduzir os atropelamentos, comparando ao consumo de produtos regionais ou internacionais? Em termos de colisão, se considerarmos que todas as demais variáveis da estrada são iguais, a chance de atropelar um animal aumenta à medida que a distância percorrida aumenta.
Considerando que um veículo que percorre mil quilômetros tem a mesma probabilidade de colisão que 20 veículos que percorrem 50 quilômetros, uma medida interessante é a unificação do transporte de produtos para feiras locais. Se substituirmos numerosos veículos de pequena dimensão por um com capacidade de cargas maior, diminuiremos a quantidade de veículos transportando produtos para o mesmo local. Dessa forma, tanto produtores locais – reduzindo o custo do transporte – quanto a fauna – que está exposta a possíveis atropelamentos – ganham.
Questionar o que e quanto estamos consumindo é muito importante, mas tão importante quanto é nos questionarmos de onde vem aqueles produtos. O atropelamento é apenas um dos fatores a serem contados no custo ambiental de produtos que percorrem longas estradas até nossas portas. Sempre que possível, opte e valorize a produção local, os processos de produção envolvidos tendem a ser mais respeitosos com o meio ambiente. A fauna que utiliza as estradas agradece!
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