Bióloga, mestra em Zoologia pelo Museu Nacional do Rio de Janeiro e professora nas redes estadual e particular do Rio de Janeiro.
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Nome popular: Morcego-beija-flor
Nome científico: Glossophaga soricina
Estado de conservação: “pouco preocupante” na lista vermelha da IUCN e no Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção do ICMBio
Uma das maiores “sacadas” da evolução, foi, sem dúvida, o surgimento das flores completas. Suas pétalas coloridas e seu perfume, muitas vezes marcante, encantam, não apenas namorados e poetas, mas também… Os agentes polinizadores!
Na busca pelo néctar ou pólen usado como alimento, insetos e aves permitem que várias espécies vegetais se reproduzam através do transporte de pólen entre os indivíduos, muitas vezes separados uns dos outros por grandes distâncias. Porém, o que muitos não sabem, é que outros grupos animais também desempenham (e muito bem!) esse papel. Entre eles, os morcegos.
Como assim? Morcegos comendo pólen e bebendo néctar?
Sim! Ao contrário do que muita gente pensa, apenas uma pequena parcela dos morcegos é hematófaga, ou seja, alimenta-se de sangue, e, mesmo assim, de animais diferentes do homem. Essa história de vampiros, castelos e estacas é pura fantasia.
Há os que se alimentam de frutos, de sementes, de peixes, de outros pequenos vertebrados, de insetos… Dentre aqueles que consomem néctar, está o morcego-beija-flor (Glossophaga soricina), classificado como nectívoro-polinívoro.
Ocorrendo do norte do México ao Paraguai, norte da Argentina, Jamaica e Bahamas, os representantes dessa espécie apresentam pequeno porte, algo em torno de 20 centímetros de envergadura. A língua comprida, estreita e cilíndrica apresenta, em sua extremidade, tufos de pelos curtos, as papilas, que facilitam a obtenção do alimento de preferência. Além do néctar, também consomem pólen e pequenos insetos.
Apesar de lembrarem os beija-flores, ao pairarem sobre as flores, nossos personagens representam, para as plantas, um “veículo” mais eficiente no transporte de seu pólen, uma vez que voam grandes distâncias por noite, além de carregarem maiores quantidades por apresentarem pelos ao invés de penas.
Sendo essencialmente noturnos, ao contrário de animais diurnos que utilizam o mesmo tipo de alimento, não os morcegos-beija-flores não são seduzidos pelas cores vivas das flores e sim por outras características das plantas por eles visitadas, como cheiro bem atrativo (não para os humanos!), grande quantidade de açúcar no néctar, volume de néctar produzido, tamanho da corola (pétalas), etc.
Apesar de inofensivos, muitos morcegos são mortos por repulsa ou falta de informação. Além disso, a destruição de seu habitat, o uso de pesticidas e a disseminação de mitos a seu respeito os tornam tremendamente ameaçados.
Com um grande potencial de reflorestamento, devido a sua ação polinizadora e dispersora de sementes, além de contribuírem para o controle de pragas, não só os morcegos-beija-flores, como também as outras espécies, devem ser protegidas e conservadas. Afinal, nenhum deles chegará até você e perguntará: “Você sangra?”
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