Graduada em Ciências Biológicas e mestre em Ecologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Atualmente, é doutoranda pela mesma instituição e está vinculada ao Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (Nerf).
Seus interesses estão voltados para os impactos antrópicos na fauna silvestre. Atua na área da Ecologia de Rodovias para compreender os impactos direitos e indiretos, bem como explorar alternativas de mitigação.
Muitos animais realizam migrações anuais em busca de novas áreas para se alimentar, reproduzir ou descansar. Como essas migrações são realizadas em um período específico, as mudanças no ambiente podem ser variadas de um ano para outro. Por exemplo, pensando em um ambiente terrestre, podem surgir áreas com atividades humanas, como plantações, criação de animais domésticos, construções de casas, cercas e até rodovias. Pelo ponto de vista da fauna silvestre, todas essas instalações e atividades se tornam obstáculos e barreiras, dificultando seus deslocamentos nas migrações.
Um caso muito bem documentado é a migração dos antilocapras nos Estados Unidos. O antilocapra é um mamífero ungulado de grande porte, podendo pesar mais de 60 kg e é um dos animais mais rápidos do mundo, podendo atingir uma velocidade de 80 km/h. A migração anual dessa espécie ocorre durante o outono/inverno, com os animais saindo do Parque Nacional de Grand Teton (norte do país) e se deslocando para a região do vale do rio Green (sul do país) para passar o verão. São mais de 240 km de percurso. Depois, eles retornam ao norte, para o Parque Nacional de Grand Teton, quando muda a estação.
Essa jornada ocorre há muitos e muitos anos – estima-se que mais de 6 mil anos – e os animais buscam realizar o mesmo percurso aprendido, o qual é passado de geração em geração. Porém, esse trajeto tem sido ameaçado pela rodovia US-191, além das cercas nas propriedades, expansão de áreas residenciais e o aumento no número de poços de petróleo e gás.
O cruzamento da migração dos antilocapras com a rodovia, além de ser um problema para a conservação da espécie, também gera um conflito humano direto. A colisão de veículos com esses animais resulta em acidentes graves. Apenas entre 2005 e 2009, a perda conjunta de vida selvagem e danos a veículos foi estimada em quase US$ 4,1 milhões.
Em 2008, como resultado de uma ação conjunta entre o Parque Nacional de Grand Teton, a Universidade de Wyoming, a ONG Wildlife Conservation Society e setores do governo foram construídas duas passagens vegetadas por cima da rodovia para manter a conectividade da rota de migração dessa espécie e o deslocamento de outros animais. Também foram incluídas seis passagens subterrâneas com cercas associadas às margens da rodovia para direcionar os animais para as travessias.
Esse trecho da rodovia ficou denominado como “Caminho das Antilocapras de Wyoming“. O investimento nas estruturas de travessia para fauna custou US$ 10 milhões, mas estimou-se que o dinheiro economizado com a redução de acidentes entre veículos e animais cobriria o custo em 12 anos.
Antes da construção das travessias para fauna, esse trecho de aproximadamente 19 km da rodovia US-191 registrava uma média de 85 colisões com fauna a cada ano. Pode não parecer muito, mas as perdas econômicas e de vidas humanas envolvidas representam o suficiente para se fazer algo para de redução de perdas e de impacto. Até porque essa é uma das poucas rotas de migração extensas ainda existentes, o que traz uma preocupação conservacionista grande.
Após a implementação das estruturas de travessia, identificou-se uma redução de 70% nas colisões com fauna. E também foi observado que os animais mantiveram seus trajetos de migração, utilizando as estruturas de travessia. Entretanto, em outras regiões sem esse esforço de mitigação ainda ocorrem colisões de veículos com os antilocapras, que ressalta a necessidade de ações mitigadoras.
Para isso é necessário novamente uma mobilização envolvendo ONGs, universidades e os governantes. Quando todos os setores necessários se comunicam em prol de algo em comum é mais fácil e ágil de concretizar ações mitigadoras.
Muitas vezes os entes públicos responsáveis pelas rodovias são relutantes em implementar estruturas mitigadoras devido ao custo. Entretanto, para discutir sobre custos de implantação, é necessário considerar quantas vidas estão sendo salvas e quanto de dinheiro está sendo economizado no longo prazo, como foi pensando nesse caso relatado. Há alternativas mitigadoras que permitem que nós, humanos, possamos manter e expandir nossas atividades com menos danos ambientais.
No caso dos EUA, foi possível encontrar meios de manter a migração anual dos antilocapra e a sobrevivência dessa população, além de manter a segurança da rodovia para as pessoas. Outros animais também foram favorecidos com a implementação das travessias, auxiliando na conservação de demais espécies da região.
É necessário que haja muitas outras iniciativas como essa, que buscam os melhores trechos para mitigar e, posteriormente, monitoram a eficiência e o uso da mitigação implementada para animais ameaçados de extinção, como os antilocapras, como também para sabermos quais outros animais também podem estar sendo beneficiados.
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Graduada em Ciências Biológicas e mestre em Ecologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Atualmente, é doutoranda pela mesma instituição e está vinculada ao Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (Nerf). Seus interesses estão voltados para os impactos antrópicos na fauna silvestre. Atua na área da Ecologia de Rodovias para compreender […]
