Bióloga, mestra em Zoologia pelo Museu Nacional do Rio de Janeiro e professora nas redes estadual e particular do Rio de Janeiro.
olhaobicho@faunanews.com.br
Nomes populares: jacupeba, jacupema, jacu-velho, jacucaca (Rio de Janeiro), pava-chica, yacupoí
Nome científico: Penelope superciliaris
Estado de conservação: “quase ameaçada” (NT) na lista vermelha da IUCN
“O que come grãos”. Esse é o significado, em tupi, do nome desta ave, parecida com uma galinha de cauda grande (o que não é surpresa, já que pertencem à mesma ordem). Mas sua alimentação não é restrita a esse tipo de alimento: os jacus também consomem frutos, folhas, flores, brotos e insetos. Como sua dieta é predominantemente frugívora, atua como importante dispersor de sementes
Com uma distribuição que abrange Brasil, Paraguai e Argentina, o jacu habita florestas de baixa altitude, além de caatinga, capões de cerrado, capoeiras, matas, beiras de rios e lagos, vivendo nas copas das árvores e podendo descer ao solo em busca de alimento.
Os representantes dessa espécie alcançam cerca de 55 centímetros, pesando por volta de 850 gramas. Sua cor é escura e apresentam uma barbela vermelha, mais visível nos machos, além de um topete rudimentar.
São monogâmicos, ou seja, têm apenas um(a) parceiro(a) sexual por toda a vida. Constroem seus ninhos em cipoais, alto de árvores, em galhos sobre a água e até mesmo em rochas na floresta. Os ovos (dois a quatro) são lisos e brancos e a incubação leva cerca de 28 dias.
Geralmente, os jacus vivem em pares ou pequenos bandos de três a cinco indivíduos e são muito territorialistas, não permitindo que intrusos invadam seu espaço.
Mas qual a relação do nosso personagem com uma das bebidas mais consumidas no mundo, o café?
O Penelope superciliaris é responsável pela produção de um dos cafés mais caros e apreciados do mundo, o Jacu Bird Coffee, exportado para países como França, Japão, Austrália e Estados Unidos, simplesmente por ser produzido a partir de sementes retiradas das fezes dessa ave.
Como assim?????
Bem, a ave come o fruto maduro no pé de café e elimina as sementes no local. Os grãos, inteiros e envoltos por uma casca, são manualmente recolhidos dos resíduos que foram secos ao sol, limpos, torrados e moídos. A qualidade dos grãos é assegurada pelo fato de o animal selecionar e comer os frutos melhores, mais saudáveis e maduros, em um processo totalmente natural, sem a intervenção do homem.
O cultivo é realizado em um sistema de agrofloresta, ou seja, os pés de café ficam no meio da floresta nativa. Mas nem sempre foi assim.
No início dos anos 2000, uma fazenda no Espírito Santo sofreu, junto com outras fazendas, uma “invasão” dessas aves, que comiam até 10% da produção. O proprietário, após chamar as autoridades competentes a fim de resolver a situação, observou que elas sempre voltavam. Conhecendo a produção do Kopi Luwak (café feito a partir dos grãos de café retirados das fezes do civeta, um mamífero existente na Indonésia), decidiu fazer o mesmo, a partir do hábito alimentar do jacu. O resultado foi um café exótico e diferenciado.
Por ser uma espécie protegida, o Penelope superciliaris não pode ser mantido em cativeiro, o que torna a produção totalmente dependente do ritmo dos animais e muito limitada, contribuindo para o preço elevado desse café.
Infelizmente, essa é uma espécie ameaçada de extinção, seja pela destruição das florestas onde habita, seja pela caça ilegal ou ainda pelo crime ambiental que levou à morte do rio Doce, uma das regiões onde vive o animal. Assim, os únicos locais nos quais os jacus estão seguros são as reservas, onde a caça é proibida. De certa forma, o café salvou o jacu… Até quando?
https://www.youtube.com/watch?v=oPqHx0nPWG4
Matéria do programa Terra da Gente sobre a produção do Jacu Bird Coffee
– Leia outros artigos da coluna OLHA O BICHO!
Observação: as opiniões, informações e dados divulgados
no artigo são de responsabilidade exclusiva de seu(s) autor(es)