Projeto Bicho Folha: por uma Ciência popular e acessível

Em setembro último, entre os dias 17 e 22, foi realizado na Universidade Federal de Viçosa, no estado de Minas Gerais, o 7º Simpósio Internacional de Entomologia. Essa edição teve como tema “De fundamentos à prospecção de novas tecnologias”, com proposta de enriquecer o avanço tecnológico com um olhar atento aos fundamentos da Entomologia, a ciência encarregada de estudar os insetos.

Grande parte das abordagens realizadas no evento, que contou com mais de 500 participantes de todo o Brasil e do exterior, foi relacionada à valorização do diálogo com a sociedade de maneira geral, com forte ligação com a divulgação científica e o uso em práticas de ensino.

Até mesmo por isso, fui convidado para ser um dos palestrantes, o que, naturalmente, me trouxe certa notoriedade momentânea. Não propriamente por mim, mas pelo tema que apresentei, a Entomologia Cultural, muito atraente e interessante por si só. Felizmente, minha palestra foi logo uma das primeiras, o que me tirou logo o peso do nervosismo e da ansiedade por ter uma fala pública. Livre dessa pressão, pude aproveitar bem o evento, relaxadamente aprendendo com as apresentações dos colegas e com as conversas e contatos de corredor, algo de riqueza imensurável em um congresso científico.

Em certo momento, estava eu no auditório assistindo uma palestra quando um pequeno grupo de pesquisadoras me abordou, perguntando se poderiam tirar uma fotografia comigo – a tal notoriedade momentânea que mencionei acima, no meu caso muito mais devida ao tema da palestra do que ao palestrante. Enquanto saíamos do auditório, elas disseram ter gostado muito da minha apresentação e que trabalhavam também com divulgação científica. Quando me contaram a qual grupo pertenciam, fiquei muito feliz. Elas são integrantes do Projeto de Extensão Bicho Folha, da Universidade Estadual Paulista Júlio Mesquita Filho (Unesp), campus de Assis, estado de São Paulo, a quem sigo já há algum tempo no Instagram e do qual sou muito fã.

Segundo a página oficial da Unesp, o Projeto Bicho Folha une áreas do conhecimento biológico que estavam restritas a pesquisadores, colocando a seus componentes (estudantes e professores) a tarefa de popularizar o conteúdo teórico e prático do dia a dia da universidade pública. Essa aproximação entre comunidade acadêmica e população em geral se dá, principalmente, no âmbito dos moradores onde se insere a Unesp de Assis.

A divulgação realizada pelo projeto utiliza plataformas de entretenimento, ferramentas audiovisuais e de design, com foco nas ciências biológicas, convidando, sempre de modo descontraído, o público a uma reflexão de como a ciência funciona, onde ela está presente e qual é a sua metodologia, especialmente por meio de publicações nas redes sociais. O grande objetivo do projeto é popularizar o conhecimento científico aprendido e produzido na universidade, caracterizando-se como um instrumento de maior conscientização social sobre as atividades científicas. Seu desenvolvimento, ainda de acordo com a Unesp, atingiu a formação dos estudantes de Ciências Biológicas e fortaleceu a imagem da universidade pública, valorizando o trinômio ensino-pesquisa-extensão, fundamental para o progresso da Ciência e para a obtenção de apoio da sociedade.

Conversei com Maíra Encenha de Souza, estudante de Ciências Biológicas e participante do grupo de trabalho (GT) de Zoologia do projeto, e ela, muito gentilmente, me passou informações acerca do trabalho que realizam. A começar pela grande equipe. O GT de Zoologia, além da própria Maíra, é formado também por Gabriel Augusto Bastos, Júlia Caldas, Amanda Rezende Lopes, Ana Clara, Andriele Nayara Arruda Revo, Caroline Nogueira, Eduarda Pelegrini, Elen Vieira, Esther Albeani Caires, Isabella Martelli, João Lucas, Lívia Serazani Munhoz, Luana Martins de Godoy, Ryller Henrique de Souza, Thomas Abramo Baptista, todos estudantes de graduação da UNESP, e por Vanessa Perondini Passadori, do Programa de Pós-graduação em Biociências da Unesp de Assis.

Já o GT de Botânica é formado pelos estudantes Rafaella Munhoz, Beatriz Sabino, Bruna Garbellini Miacci, Gabriel Henrique Bettiol, Iasmim Ribeiro da Cruz, Isabella Beatriz Ferreira Guedes dos Santos, Laiza França Araújo Góes, Larissa Ferreira Brandão, Letícia Eduarda Monteira Fonseca, Maria Cecília Barni Franco, Maria Clara Andreotti e Renan Palma. Por fim, o GT de Limnologia é formado pelos estudantes Gabriela Nunes, Ana Clara Pereira Rufino, Ariane Gama, Clara Andrade Gonçalves, Enzo de Resende Stefani, Gabriel Araújo de Oliveira, Gabriel Campagnoli Mesquita, João Augusto Carrasco, Lívia Piovezani, Luan Augusto Pimentez, Luis Fernando dos Santos, Rafaela Vasconcelos e Yuri Vieira Campos.

Os coordenadores do projeto são os professores doutores Renata Giassi Udulutsch, taxonomista de plantas bignoniáceas, e Pitágoras da Conceição Bispo, especialista em insetos aquáticos, ambos do Departamento de Ciências Biológicas.

Ainda segundo Maíra, um dos principais fatores que motivaram a criação do projeto foi a necessidade de mostrar à população aquilo que é produzido dentro da universidade. Tudo começou em 2019 com a participação no evento “Bio na Rua”, com atividades pelo município de Assis, como em feiras e no Ecolago (estação de lazer em que a população tem contado com a natureza), onde foram mostrados exemplares, sempre com a intenção de interagir e tirar as dúvidas, especialmente das crianças. Atualmente, o projeto realiza atividades também em outros municípios do oeste paulista, como Maracaí e Paraguaçu Paulista, dentre outros.

Com relação às exposições mais voltadas ao GT de Zoologia, os insetos estão entre os bichos de maior destaque, sendo particularmente atraentes para o público os besouros e as borboletas, além das espécies com interesse médico. Nessas atividades, é muito gratificante ver o interesse das crianças pelos insetos, algo que sempre chama a atenção dos integrantes do projeto.

Já nas redes sociais, as postagens do Projeto Bicho Folha abordam aspectos gerais sobre a pesquisa científica, bem como tópicos mais específicos e relativos às localidades de Assis e arredores. Há séries temáticas muito interessantes, com destaque, por exemplo, à “Mulheres na Ciência”, quadro especial para exaltar as pesquisadoras do nosso país, aproveitando, assim, para ressaltar a Ciência feita por mulheres, algo que precisa ser sempre muito valorizado e difundido.

Em termos de planos para o futuro, o pessoal do Projeto Bicho Folha está aberto a propostas de parcerias. Além disso, é claro, pretende continuar contribuindo com a formação de biólogos e professores e levar um conhecimento científico ao maior número possível de pessoas. Algo que, a julgar pela qualificação, criatividade e disposição do grupo, vão tirar de letra.

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