
Por Kamila Bandeira
Bióloga com mestrado em Zoologia pelo Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). É doutoranda no mesmo programa, além de pesquisadora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Suas pesquisas estão focadas em Paleontologia de vertebrados
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Documentários sobre a pré-história existem há décadas e atuam não apenas como uma integração entre os conhecimentos de Ciência disseminados, mas também como uma importante forma de entretenimento. Uma das obras de divulgação audiovisual mais conhecidas sobre dinossauros é o aclamado Walking with Dinosaurs, uma minissérie de televisão documental com seis episódios.
Produzido e lançado pela BBC e Discovery Channel em 1999, Walking with Dinosaurs retrata dinossauros e outros animais mesozóicos como animais vivos, no estilo de um documentário tradicional sobre a natureza. A série foi ao ar pela primeira vez pela BBC no Reino Unido em 1999, sendo posteriormente exibida nas Américas pelo Discovery Channel em 2000 – traduzido para o Brasil como Caminhando com Dinossauros e, alguns anos posteriormente, também apresentado de forma bastante reeditada pela TV Globo, no semanal Fantástico.
Walking with Dinosaurs separava as espécies de dinossauros de acordo com os períodos geológicos (Triássico, Jurássico e Cretáceo) e os grandes acontecimentos. Um outro diferencial desse documentário foi a recriação de diversas espécies extintas através do uso combinado de imagens geradas por computador com o uso de animatrônicos, que foram incorporados a imagens de ação ao vivo filmadas em vários locais de paisagens naturais, sendo as técnicas inspiradas no filme Jurassic Park (1993).

O documentário britânico foi lançado com aclamação da crítica e ganhou vários prêmios, incluindo, entre outros, dois BAFTA (British Academy Film Awards). Além disso, a maioria dos paleontólogos aplaudiu Walking with Dinosaurs pelo uso de diversas pesquisas científicas para retratar as espécies, mostrando ao público que os dinossauros eram animais como qualquer outro e não como monstros de filmes. É claro, algumas críticas científicas foram direcionadas à série por não deixar muito claro o que ainda era especulação e o que não era, assim como alguns erros pontuais que passaram. Um outro problema é que a série focou apenas em espécies que ocorriam na Europa e na América do Norte.
Mas o sucesso de Walking with Dinosaurs gerou um gênero inteiramente novo de documentários, que recriavam com computação gráfica, no formato dos tradicionais documentários sobre a natureza, a vida no passado. Junto com Jurassic Park, Walking with Dinosaurs é frequentemente citado como uma das representações de dinossauros mais influentes na mídia.
Entretanto, mais de 20 anos se passaram sem que outro documentário conseguisse alcançar o mesmo clamor popular e a mesma acurácia científica de Walking with Dinosaurs. Obras posteriores acabaram tornando-se reféns da “fórmula” do original e, muitas vezes, com erros científicos mais graves e pouca criatividade.
Porém, entre anúncios de projetos, suas concretizações e muito burburinho na internet, eis que finalmente surgiu uma série documental a altura de seu antecessor: Prehistoric Planet, que está disponível desde 23 de maio. Produzido pela plataforma de streaming Apple TV+, o novo documentário é uma produção conjunta da Apple em parceria com a BBC Studios, contando com um elenco de peso: o renomado ambientalista Sir David Attenborough participa como narrador, Jon Favreau (diretor de grandes filmes como Homem de Ferro e a versão mais recente de O Rei Leão) é um dos produtores executivos, e, por último, o compositor premiado Hans Zimmer assina a trilha sonora.

Prehistoric Planet prometeu uma recriação fiel de cenários do planeta Terra, mas ao contrário do seu antecessor, focando em apenas um único período: o Cretáceo – mais especificamente, a subdivisão chamada Cretáceo Superior, que compreende o intervalo entre 90 a há 66 milhões de anos. A série utilizou das mais novas técnicas de computação gráfica, bem como as mais recentes pesquisas paleontológicas para recriar, com grande rigor científico, os dinossauros e demais animais que conviveram nesse período. Um exemplo notável são várias espécies apresentadas cobertas de penas, como um jovem Tyrannosaurus rex.
Em cada um de seus cinco episódios, Prehistoric Planet explora diferentes ambientes – por exemplo, o primeiro episódio se chama Costas e aborda ambientes litorâneos e marítimos, enquanto o último, Florestas, se concentra na diversidade desses ecossistemas. Os episódios foram liberados diariamente ao longo da semana e se encontram disponíveis na plataforma da Apple TV+. Ao contrário de seu antecessor, Walking with Dinosaurs, a série da Apple TV+ trouxe uma visão mais ecológica dos dinossauros. Além disso, os episódios contemplam diversos lugares do mundo, revelando espécies de diversos países, ao invés de se centrar unicamente na Europa e na América do Norte.
Inclusive, pela primeira vez, uma espécie brasileira aparece num documentário: o titanossauro Austroposeidon magnificus, um dos maiores dinossauros que pisaram em território brasileiro.
Prehistoric Planet vem então para atualizar nossa visão dos dinossauros. Com tantas descobertas e debates científicos desde o lançamento de Walking with Dinosaurs, um documentário no porte e com a produção ultrarrealista de Prehistoric Planet era algo mais do que necessário para facilitar a comunicação entre o público e a Ciência, especialmente agora que finalmente estamos vendo uma espécie brasileira nas grandes telas.
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