Bióloga, mestra em Zoologia pelo Museu Nacional do Rio de Janeiro e professora nas redes estadual e particular do Rio de Janeiro.
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Nomes populares: enguia-elétrica, peixe-elétrico, pixundé, puraquê, puxundu e treme-treme
Nome científico: Electrophorus electricus
Estado de conservação: “pouco preocupante” (LC) na lista vermelha da IUCN e no Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção do ICMBio
Seu nome tem origem tupi e quer dizer “o que faz dormir” ou “o que entorpece”. Capaz de produzir e detectar campos elétricos no ambiente em que habita, o poraquê pertence ao grande grupo dos peixes-elétricos conhecidos.
Apesar das espécies com esta capacidade habitarem o mundo inteiro, seja em ambiente marinho ou dulcícola, é na região Amazônica, principalmente no Brasil, que a maior diversidade de espécies de peixes-elétricos ocorre.
As descargas elétricas produzidas por esses animais costumam ser fracas e usadas na navegação e comunicação. O poraquê, entretanto, é o único que produz descargas elétricas fortes na caça e defesa. Também as utiliza na comunicação, detecção de presas, reprodução e até mesmo para se movimentar e localizar objetos ao seu redor, já que não enxerga muito bem.
Dotado de órgãos elétricos que ocupam quatro quintos do seu corpo, o poraquê funciona como uma verdadeira pilha, já que a parte anterior do seu corpo tem carga positiva enquanto a ponta da cauda é negativa. Aliás, uma dica: não segure um poraquê por estas duas partes ao mesmo tempo sob risco de levar um choque!
Os órgãos elétricos do poraquê são compostos por células diferenciadas a partir dos músculos. Essas células, conhecidas como eletrócitos, produzem uma pequena descarga elétrica, mas como cada órgão é composto por milhares delas, que se descarregam ao mesmo tempo, podem ser gerados mais de 600 volts em uma só ação.
E por falar em corpo, o do poraquê não apresenta escamas, assemelhando-se ao de uma enguia. Também não tem nadadeiras dorsal, ventral e caudais. A nadadeira anal é longa e as peitorais são pequenas. O comprimento pode chegar a 2,5 metros, a cabeça é achatada e a boca retangular possui dentes afiados. Sua coloração é escura, muito eficiente na camuflagem em locais onde as águas tem a mesma característica e o fundo cheio de lodo. A parte ventral é amarelada.
Em relação à respiração, necessitam subir periodicamente à superfície, já que suas brânquias são pouco desenvolvidas. Sua cavidade oral é muito vascularizada, o que permite a captação de oxigênio diretamente do ar.
Quanto à reprodução, os poraquês são ovíparos. O macho produz uma espuma com a saliva, com a qual constrói o ninho, onde a fêmea deposita os ovos.
O poraquê tem hábitos noturnos e alimenta-se de peixes, invertebrados e pequenos mamíferos. Ao contrário do que se pensou por muito tempo, esse animal não é solitário, podendo caçar em grupos, os quais cercam as presas, liberando a descarga elétrica, que as atordoa, facilitando a captura.
Essa descarga não é necessariamente perigosa para nós, já que a amperagem é baixa e a corrente não é contínua. O poraquê dispara pulsos alternados e, após uma descarga forte, é preciso recarregar por alguns instantes. Entretanto, o encontro com um grupo de animais dentro d’água pode oferecer perigo, pois o choque pode provocar danos em pessoas cardíacas, possibilitando uma queda ou afogamento.
Recentemente, um jovem foi vítima de um acidente com um poraquê durante uma enchente em uma cidade no Amapá. Ele precisou ser levado ao hospital, em estado de choque, com parte do corpo tremendo. Ao ser internado, apresentava o lado esquerdo do corpo paralisado. Suspeita-se que o animal envolvido no acidente pertença a uma das duas novas espécies descritas após 250 anos: Electrophorus voltai e Electrophorus varii.
As duas espécies foram batizadas como Electrophorus voltai, em homenagem ao físico Alessandro Volta, criador da bateria elétrica, e Electrophorus varii, em homenagem ao zoólogo Richard P. Vari, pesquisador da Smithsonian Institution falecido em 2016. Elas ocorrem no rio Tapajós e no rio Xingu, que está sendo destruído pela usina hidrelétrica de Belo Monte.
A tensão elétrica dessas novas espécies está acima das registradas para Electrophorus electricus, podendo o Electrophorus voltai produzir descargas de 860 volts, o que pode provocar danos se atingir regiões que comprometam músculos, nervos ou o coração.
Seja qual for a espécie envolvida, devemos ter sempre em mente que a ação humana, como o avanço das cidades em direção às florestas, sempre trará consequências, nem sempre agradáveis.
https://www.youtube.com/watch?v=GF5DDndvQ9M
Reportagem sobre as novas espécies de poraquê – Imagens: Rede Bandeirantes
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