![Fauna News](https://faunanews.com.br/wp-content/uploads/2021/11/tigre-dagua-RS-rumo-logistica.jpg)
Bióloga e veterinária com especialização em Clínica Médica e Cirúrgica de Animais Selvagens. É coordenadora dos programas de proteção à fauna da Rumo Logística.. Integra a REET Brasil
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A mitigação dos impactos à fauna, causados pela implantação de estradas e ferrovias, tem sido amplamente debatida entre pesquisadores, empreendedores e órgãos ambientais responsáveis pelo licenciamento e pela fiscalização desses empreendimentos. Dentre os impactos causados pelas ferrovias, destacam-se o efeito barreira, os atropelamentos e o aprisionamento de animais entre os trilhos, como ocorre com os quelônios (cágados, tartarugas e jabutis).
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O aprisionamento e a morte de quelônios em ferrovias têm sido relatados em diversos países. O acesso desses animais aos trilhos é facilitado por passagens em nível, local onde há o cruzamento entre o modal ferroviário e rodoviário.
Uma vez entre trilhos, a possibilidade de fuga é baixa, principalmente para quelônios de menor porte. Estudos sobre o comportamento desses animais expostos à uma barreira física apontaram que os indivíduos preferem percorrer toda a extensão do obstáculo do que tentar superá-lo, isso porque as particularidades anatômicas desses répteis, como a presença de uma carapaça rígida e de membros locomotores curtos, conferem-lhes baixa capacidade para transposição desses obstáculos.
Os dados de monitoramento de fatalidades em ferrovias mostram que a maioria das carcaças de quelônios encontradas entre trilhos não apresenta qualquer indício de trauma causado por atropelamento, reforçando a hipótese de que o óbito se dá como consequência do rápido aumento da temperatura corporal dos animais aprisionados dentro da via. Sabe-se que até mesmo em dias mais amenos, a temperatura da via pode superar 50°C, conforme já observado em ferrovias do Tocantins e do Rio Grande do Sul.
Frente a isso, a adoção de medidas mitigadoras para este tipo de impacto, tão específico, torna-se um desafio.
As primeiras passagens projetadas para quelônios em ferrovias surgiram de uma parceria entre a Greenbush Line Commuter e a Massachusetts Bay Transportation Authority, em 2003. Diversos estudos testaram e implementaram diferentes protótipos para travessia desses animais. No Brasil, os primeiros testes iniciaram no Rio Grande Sul, em 2016, com a instalação de canaletas de zinco em zonas mapeadas como críticas de fatalidades para tigres-d’água (Trachemys dorbigni), uma espécie de tartaruga de água doce, endêmica do extremo sul do país.
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De 2016 para cá, os designs dos protótipos brasileiros foram aperfeiçoados, considerando uma gama de fatores, como a utilização de outros tipos de materiais, a necessidade de sinalização da via para as equipes de manutenção e as particularidades das diferentes espécies encontradas nas demais regiões do país.
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Todavia, sabemos que diferentes espécies possuem diferentes necessidades e, no ano de 2018, um teste realizado em uma ferrovia situada no Tocantins comprovou que quelônios terrestres, como o jabuti-piranga (Chelonoidis carbonarius), na maioria das vezes, evitam descer em canaletas que apresentem degraus ou declives acentuados. Para esse grupo, portanto, é necessária a instalação de uma rampa para encorajar a descida e a evasão sob trilhos.
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Os primeiros resultados obtidos após a instalação dessas estruturas mostraram que tanto o tigre-d’água, quando o jabuti utilizaram suas passagens de forma adequada, conforme flagrante realizado pela concessionária responsável por essas ferrovias:
Tigre-d’água utilizando passagem – Vídeo: Rumo Logística.
Jabuti utilizando passagem – Vídeo: Rumo Logística
Nota-se que a instalação desse tipo de passagem em ferrovias não necessita de grandes investimentos, possui baixa complexidade e facilidade de instalação e manutenção. Os experimentos com protótipos de passagens para quelônios têm sido promissores e diversos testes para comprovação da efetividade estão em andamento. Acredita-se que outras espécies de menor porte também possam se beneficiar com a presença dessas estruturas ao longo da via, seja para evasão ou para incremento da conectividade.
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