Rayane Silva Leal
Bióloga, técnica ambiental do Ibama e atual chefe do Centro de Triagem de Animais Silvestres do órgão federal no Distrito Federal.
O Centro de Triagem de Animais Silvestres do Ibama no Distrito Federal (Cetas-DF) desempenha um papel fundamental na conservação da biodiversidade do Cerrado. Uma peça importante nesse quebra-cabeça de preservação são as parcerias estratégicas estabelecidas entre o Cetas-DF e órgãos e entidades ambientais locais, além da comunidade.
Entre as diversas formas de realizar parcerias, destaca-se o Acordos de Cooperação Técnica (ACT). O primeiro ACT firmado pelo Cetas-DF foi com a Universidade de Brasília (UnB), que abriu portas para avanços significativos no atendimento médico veterinário. O apoio do Hospital Veterinário na UnB (HVET) não apenas fortalece a capacidade de reabilitação promovida pelo centro, mas também evidencia a importância da sinergia entre a academia e as instituições de conservação.
O HVET, com sua equipe altamente qualificada e instalações adequadas, tornou-se uma extensão crucial do Cetas. Através dessa parceria, a capacidade de diagnóstico, tratamento e cirurgias veterinárias do centro foi aprimorada significativamente. O suporte do hospital trouxe consigo uma expertise valiosa, permitindo um atendimento especializado que vai além do convencional.
Essa colaboração tem se revelado fundamental em emergências, em que o tempo é muitas vezes o fator determinante entre a vida e a morte para os animais silvestres. O Cetas, com o respaldo do HVET, pode oferecer uma resposta mais rápida e eficaz a casos críticos, salvando inúmeras vidas que, de outra forma, estariam em risco.
Não se trata apenas de números. São histórias emocionantes de animais que receberam uma segunda chance graças a essa parceria. Desde procedimentos cirúrgicos complexos até tratamentos intensivos, a intervenção rápida e especializada tem sido a mola propulsora por trás de muitas reabilitações bem-sucedidas.
Recentemente, um novo ACT consolidou uma aliança robusta entre o Cetas, o Instituto Brasília Ambiental (Ibram), o Zoológico de Brasília e a Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Basília (Sema). Esse acordo representa um marco, ressaltando a necessidade de cooperação entre os órgãos ambientais para enfrentar os desafios crescentes da conservação da fauna.
Outro grande impulso vem da parceria crescente entre o Cetas-DF e o Batalhão de Polícia Militar Ambiental (BPMA). Essa colaboração fortalece a segurança da fauna e representa um avanço significativo na qualidade dos serviços prestados à sociedade e ao meio ambiente.
Além disso, as universidades públicas e privadas da região, especialmente por meio dos cursos de Biologia, Veterinária e Zootecnia, têm desempenhado um papel crucial no apoio científico ao Cetas. Essas parcerias não só enriquecem o conhecimento técnico, mas também promovem uma abordagem baseada em evidências para a reabilitação e soltura de animais silvestres.
A rede de colaboração se estende às comunidades locais, com donos de áreas rurais cadastrando suas propriedades como Áreas de Soltura de Animais Silvestres (Asas). Essa iniciativa promove a conservação ambiental e cria ambientes seguros para a reintegração dos animais à natureza.
As Asas simples oferecem um ambiente seguro e propício à soltura de fauna silvestre. Elas são cuidadosamente selecionadas para garantir que os animais tenham recursos adequados e um hábitat que corresponda às suas necessidades naturais. Já as Asas com reabilitação são projetadas para oferecer recintos onde os animais que passaram por processos intensivos de reabilitação possam continuar a receber apoio, monitoramento e cuidados específicos. Com estruturas adaptadas às necessidades pós-reabilitação, as Asas com reabilitação são um elo vital entre o cuidado intensivo e a completa autonomia na natureza.
A importância dessas áreas vai além da simples soltura. Elas desempenham um papel fundamental na transição suave dos animais de volta à vida selvagem. Animais que enfrentaram desafios de saúde, traumas ou dependência humana encontram, nessas áreas, uma extensão do apoio que receberam durante a reabilitação. Isso maximiza suas chances de sobrevivência e promove uma adaptação mais eficaz às condições naturais.
Em resumo, as parcerias do Cetas-DF transcendem fronteiras institucionais, unindo esforços de diversas partes interessadas. Essa colaboração multifacetada é essencial para enfrentar os desafios complexos da conservação, mostrando que, juntos, podemos garantir um futuro mais vibrante para a fauna do Cerrado e do Brasil.
Ao ampliar a capacidade de atendimento veterinário, de pesquisa e de capacitações, por meio de ACT e outras parcerias, o Cetas-DF não apenas salva vidas, mas também abre um novo capítulo na forma como aborda a conservação da fauna. Juntos, estamos pavimentando o caminho para um futuro em que a colaboração entre instituições acadêmicas e de conservação não é apenas desejável, mas absolutamente essencial para proteger a rica biodiversidade do planeta. Essas alianças são uma lição de como, através da união de esforços, podemos criar um impacto duradouro na conservação das nossas preciosas espécies animais.
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