Possui graduação em Ciências Biológicas e mestrado em Ecologia pela Universidade de São Paulo (USP). Desde 2017, trabalha como analista portuária na função de bióloga na Portos do Paraná. No Porto de Paranaguá (PR), atua nos monitoramentos ambientais, os quais envolvem a fauna, flora e o componente abiótico do Complexo Estuarino de Paranaguá e os possíveis impactos da atividade portuária sobre os organismos.
Os navios de cruzeiros vêm se consolidando como uma forma de turismo bastante popular, alcançando 31,7 milhões de passageiros no mundo em 2023. Apesar de na América do Sul esse tipo de viagem atingir menos de um milhão de pessoas, houve um aumento de 6,6% no número de passageiros na comparação entre 2019 e 2023. E a projeção é de um aumento de 10% na capacidade até 2028 em escala global.
Um navio de cruzeiro pode acomodar centenas e até milhares de pessoas em uma única viagem, sendo que a a maior embarcação desse tipo consegue hospedar aproximadamente 10 mil pessoas, incluindo a tripulação. Esses navios consomem grandes quantidades de combustível não apenas para a propulsão, mas também para manter continuamente as instalações a bordo, como restaurantes, piscinas, teatros e sistemas de climatização. Além disso, geram grandes volumes de águas residuárias e resíduos sólidos.
Embora o transporte aquático já seja reconhecido como uma das formas mais eficientes de movimentar grandes quantidades de carga em termos de emissões de CO₂ por tonelada-quilômetro quando comparado com os demais modais de transporte (rodoviário, ferroviário e aviário), essa eficiência não se aplica aos navios de cruzeiros, que emitem significativamente mais dióxido de carbono (CO₂) por passageiro, inclusive em comparação com a aviação.
Para tentar reduzir as emissões de CO₂, assim como de óxidos de enxofre (SOx) e materiais particulados, algumas companhias utilizam o gás natural liquefeito (GNL) como combustível. No entanto, a combustão incompleta do GNL emite gás metano (CH4), cujo poder de aquecimento é 80 vezes superior ao CO2.
Em 2022, os navios de cruzeiros abastecidos com GNL na Zona Econômica Exclusiva da Europa emitiram gás metano equivalente a 62 mil vacas. Alguns navios de cruzeiro utilizam a tecnologia de scrubbers, que consiste na instalação de um sistema de lavagem dos gases de exaustão que removem as partículas e poluentes. No entanto, o despejo dessa água nos corpos hídricos sem o devido tratamento pode causar sérios danos aos ecossistemas locais. Além disso, os navios de cruzeiro emitem maior porcentagem de fuligem quando comparado com os demais tipos de navios (container, graneleiro, roll-roll), o que também contribui para o aumento do efeito estufa ao absorver maior radiação solar.
Os navios de cruzeiro também geram grandes quantidades de águas residuárias, incluindo esgoto humano e águas cinzas (provenientes de chuveiros, pias e lavanderias). Esses resíduos são tratados a bordo através de sistemas de tratamento para águas residuais, que incluem o uso de cloro e radiação ultravioleta para eliminar patógenos e filtragem. Porém, mesmo com tratamento, ainda há riscos quando os resíduos tratados são despejados nos corpos hídricos, especialmente em áreas sensíveis e próximas à costa. A eficácia desse tratamento é difícil de avaliar, uma vez que as companhias de navios de cruzeiros não divulgam essas informações, conforme relatado no Cruise Ship Report Card da Friends of the Earth.
Além disso, os navios de cruzeiros geram grandes quantidades de resíduos sólidos não contaminantes, cuja quantidade varia conforme o número e o estilo de vida dos passageiros. Um navio com 3.300 pessoas pode gerar 3,3 quilos por passageiro por dia. Em comparação, na cidade de São Paulo, a geração de resíduos sólidos é estimada em 1,7 quilo por habitante por dia em regiões de alta concentração de empregos e serviços e com perfil socioeconômico de renda mais elevado.
Diante do quadro de mudanças climáticas e da vigência do Acordo de Paris, as companhias dos navios de cruzeiros, assim como outros tipos de navios e os portos, estão buscando alternativas para diminuir os impactos gerados. Esse processo inclui pesquisas e desenvolvimento em combustíveis alternativos como hidrogênio e amônia, que não emitem CO2 durante a combustão; redução da velocidade dos navios, que pode diminuir significativamente o consumo de combustível e, consequentemente, as emissões de CO2; e onshore power supply (OPS)– conexão dos navios a fontes de energia em terra quando atracados, caso o porto disponha desse sistema de alimentação e que ela seja de fontes renováveis. Apesar dessas iniciativas, é necessário acelerar a transição para a descarbonização do setor marítimo, juntamente com regulações mais rigorosas por parte dos governos.
Referências
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Possui graduação em Ciências Biológicas e mestrado em Ecologia pela Universidade de São Paulo (USP). Desde 2017, trabalha como analista portuária na função de bióloga na Portos do Paraná. No Porto de Paranaguá (PR), atua nos monitoramentos ambientais, os quais envolvem a fauna, flora e o componente abiótico do Complexo Estuarino de Paranaguá e os […]
