
Por Ingridi Camboim Franceschi
Graduada em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde é mestranda, sendo integrante do Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (NERF)
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Sabemos que a construção de infraestrutura lineares, como rodovias, ferrovias e linhas de energia, é importante para o desenvolvimento socioeconômico de qualquer país. Entretanto é uma obrigação legal mensurar os impactos desses empreendimentos antes da sua instalação para sabermos se são viáveis ou não e se de fato terão um bom custo-benefício.
O processo de licenciamento ambiental para a construção de tais empreendimentos envolve estudos de impacto ambiental para identificar as potenciais consequências e prever sua magnitude e extensão. Esses estudos, em geral, falham em usar abordagens analíticas e preditivas que, de fato, quantifiquem e prevejam os impactos na paisagem e na fauna silvestre, seja para todas espécies ou grupos de animais específicos. Sendo assim, tais estudos dificilmente auxiliam diretamente na tomada de decisão e nos impedem de termos uma avaliação apropriada se as infraestruturas lineares devem ou não obter licença de construção. E por muitas vezes, elas obtêm mesmo quando não deveriam.
Outro ponto importante é que os estudos de impacto ambiental não consideram que espécies com diferentes características tenham diferentes níveis de impacto em diferentes paisagens. E já há trabalhos científicos comprovando isso.
Mais recentemente, um estudo realizou uma revisão e uma análise dos trabalhos com impactos de infraestruturas lineares em diferentes grupos taxonômicos considerando o tamanho corporal das espécies, dieta e o tipo de habitat no entorno da infraestrutura. O resultado principal encontrado pelos autores foi que o impacto das infraestruturas lineares varia entre espécies e também depende do ambiente do entorno (áreas abertas, como campos, ou áreas fechadas, como florestas). As respostas aos impactos nos mamíferos, aves e répteis são modulados pela dieta e pelo tipo de ambiente. Já o tamanho corporal influencia a resposta de impacto apenas nos mamíferos e o tipo de infraestrutura apenas as aves.
Focando apenas nos resultados para os mamíferos, espécies carnívoras e não-carnívoras respondem de forma diferente aos impactos. Foi relatado que os carnívoros são mais abundantes perto das infraestruturas, principalmente os de pequeno porte, e isso independe do tipo de habitat do entorno. Por outro lado, os mamíferos não-carnívoros apresentam o comportamento de evitar se aproximar das infraestruturas, logo sendo menos abundantes ao entorno delas.
Os autores associaram esse resultado ao fato de que os carnívoros podem se beneficiar das carcaças ou utilizarem as margens como corredor de dispersão. Já a resposta dos não-carnívoros é mais complexa, pois depende do tamanho corporal e do tipo de ambiente. Sendo os não-carnívoros de médio e grande porte mais afetados do que os animais de menor porte, pois apresentam áreas de vida maiores e então podem entrar em contato com as infraestruturas com maior frequência. E em áreas abertas essas respostas são mais exacerbadas do que em áreas fechadas. Enquanto os animais de pequeno porte são mais abundantes próximos as infraestruturas, pois podem usar as margens como refúgio de predadores ou habitat, principalmente em áreas abertas.
Dados como desse artigo mencionado podem e devem ser usados em estudos de impacto ambiental durante o processo de licenciamento, como informações prévias sobre os tipos e níveis de impacto para diferentes espécies em diferentes infraestruturas lineares. É importante fazer estudos posteriores à construção (preferencialmente utilizando o método BACI – sigla em inglês -, traduzido como Antes-Depois-Controle-Impacto) para confirmar ou não a avaliação prévia.
Dessa forma, realizando estudos robustos e que respondem de fato quais são os tipos e os níveis de impactos para as espécies em diferentes contextos, podemos aprimorar o conhecimento sobre os impactos das infraestruturas lineares. Após a identificação e predição dos impactos, é importante que eles sejam mitigados de forma adequada para cada grupo-alvo de espécies.
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