
Engenheiro agrônomo e mestre em Sistemas Costeiros e Oceânicos. É coordenador geral do Programa Recuperação da Biodiversidade Marinha (Rebimar) da Associação MarBrasil e professor na pós-graduação em Biologia Marinha pela Universidade Espírita (PR)
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A fauna bentônica de substratos consolidados – costões rochosos, recifes e outros substratos duros naturais e artificiais – é caracterizada pela dominância de organismos sésseis, fixos ao substrato, como algas, esponjas, ascídias, zoantídeos e hidrozoários. Muitos organismos vágeis (que se movimentam sobre o substrato) ocupam também esse habitat, mas uma boa descrição da biota deve considerar especialmente aqueles principais ocupadores dos espaços disponíveis.
Amostragens dessa biota no sublitoral (região que vai da linha da maré baixa até a extremidade da plataforma continental) são realizadas idealmente a partir de mergulho autônomo, podendo ser destrutivas (raspagens e coletas de organismos) ou não destrutivas (fotografias e sensos in situ), e recentemente também feitas com uma nova tecnologia, os ARMS (Autonomous Reef Monitoring Structure).
A fauna de áreas recifais é caracterizada pela elevada biodiversidade, difícil de ser acessada plenamente pela maioria das metodologias tradicionais (raspagens, fotos, sensos, armadilhas, etc.), especialmente devido aos diminutos organismos ou à chamada biota críptica (dos animais que vivem escondidos entre as pedras e/ou no interior de outros organismos), que acaba negligenciada e subestimada na maioria dos estudos. Um método de amostragem eficiente para o levantamento e monitoramento da biodiversidade críptica, da abundância e distribuição bêntica em recifes artificiais e naturais é o emprego dos ARMS.
Os ARMS são amostradores que imitam a complexidade estrutural de ambientes recifais, confeccionados para atrair invertebrados bentônicos servindo como substrato e habitat. Essas estruturas permanecem no fundo marinho por meses ou anos e são depois retiradas para estudo dos organismos presentes.
Os ARMS são estruturas de atração e amostragem da biota de substrato consolidados desenvolvidos no programa Census of Marine Life (CoML) e Census of Coral Reef Ecosystems (CReefs), da National Oceanographic and Atmospheric Administration – NOAA. Cada ARMS é composto de oito a dez placas de PVC cinza (atóxico) tipo 1 (23 x 23 centímetros, com um centímetro de espessura) parafusados em uma base (35 x 45 centímetros).
Essas placas ficam afastadas cerca de 1,5 centímetro entre si por meio de espaçadores e são arranjadas em camadas abertas e obstruídas alternadas, proporcionando diferentes micro-hábitat para colonização. Essas estruturas são fixadas no fundo marinho com estacas ou poitas e cabos, usualmente em triplicatas em cada local de estudo, permanecendo entre um e três anos até a coleta.

As unidades são desmontadas placa por placa dentro do recipiente e as duas superfícies da placa são fotografadas para as análises da cobertura da biota séssil. Estes organismos são também processados para análises taxonômicas e genéticas. Toda a água do recipiente, juntamente com a fauna vágil presente, é então filtrada em peneiras sequenciais com malhas de 2 mm, 500 μm, e 100 μm para a obtenção de três frações de tamanho para posterior análises taxonômicas e genéticas.

Foto: Chris Meyer
No Brasil, o Projeto Rebimar (Recuperação da Biodiversidade Marinha) executado pela Associação MarBrasil, em parceria com o Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade Estadual do Paraná (Unespar), instalou essas estruturas nos litorais do Paraná e São Paulo com objetivo de estudar a fauna agregada ao fundo (bentos) e sua importância para a conservação da biodiversidade marinha brasileira, além de compreender a conectividade de unidades de conservação e propor a criação de corredores ecológicos marinhos para a conservação da vida marinha.
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