Por Elisângela de Albuquerque Sobreira
Médica veterinária, mestre em Ecologia e Evolução pela Universidade Federal de Goiás (UFG) e doutora em Animais Selvagens pela Universidade Estadual Paulista (Unesp/Botucatu)
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Em Goiás, onde resido, a vacinação contra a raiva dos herbívoros foi suspensa devido a falta de vacinas no mercado. Vale ressaltar que a raiva é considerada uma das zoonoses de maior importância em saúde pública, não só por sua evolução drástica e letal, como também por seu elevado custo social e econômico.
O principal transmissor da raiva dos herbívoros é o morcego hematófago da espécie Desmodus rotundus. Essa espécie é abundante em regiões de produção pecuária, motivo pelo qual vários países da América Latina desenvolveram programas para seu controle, uma vez que a vacinação de animais domésticos não impede a disseminação da virose entre as populações silvestres.
A raiva é uma doença infecciosa viral aguda, que acomete mamíferos, inclusive o homem, e caracteriza-se como uma encefalite progressiva e aguda com letalidade de aproximadamente 100%. É causada pelo vírus do gênero Lyssavirus, da família Rabhdoviridae. Os Lyssavirus foram detectados em diferentes espécies de morcegos do mundo todo. Esses mamíferos têm várias características (por exemplo, tamanho pequeno, vida longa e uma variedade de nichos ecológicos bem definidos) diferentes dos hospedeiros da raiva em carnívoros. Consequentemente, as características dos Lyssavirus adaptados aos morcegos devem ser diferentes daqueles que causam raiva em carnívoros. Os fatores envolvidos na manutenção dos vírus Lyssavirus em morcegos são pouco estudados.
A redução generalizada e sustentada da população de mamíferos transmissores com o objetivo de eliminar a raiva não é aplicada por questões ecológicas, econômicas e éticas. Um bom método de controle da raiva para a população de raposas no Canadá e na Europa foi a vacinação oral por iscas, pois a incidência da raiva entre animais selvagens e de produção caiu, assim como para os animais de estimação e a raiva humana.
Na América do Sul, a raiva tem sido documentada em carnívoros selvagens em várias áreas e estudos dos genomas do vírus da raiva isolados de várias espécies indicam a presença de vários hospedeiros primários da vida selvagem, incluindo o sagui (Callithrix spp.) e a raposa (Cerdocyon spp.). A vigilância da vida selvagem para a raiva é, no entanto, estudo complicado para permitir grandes inferências.
Os sintomas iniciais da raiva em humanos podem aparecer logo nos primeiros dias após a mordida – forma de transmissão do vírus. No começo, há uma sensação de formigamento ou coceira na área da mordida. Uma pessoa também pode ter sintomas semelhantes aos da gripe, como febre, dor de cabeça, dores musculares, perda de apetite, náusea e cansaço. Após alguns dias, os sintomas neurológicos se desenvolvem, o que inclui irritabilidade ou agressividade, movimentos excessivos ou agitação, confusão ou alucinações, espasmos musculares e posturas incomuns, convulsões, fraqueza ou paralisia (quando uma pessoa não pode mover alguma parte do corpo) e extrema sensibilidade a luzes fortes, a sons ou ao toque.
A pessoa infectada pode produzir muita saliva e espasmos musculares na garganta podem dificultar a deglutição. Isso causa o efeito “espumar na boca”, que há muito tempo está associado à infecção por raiva. Isso também leva ao medo de engasgo ou ao que parece ser um “medo da água”, outro sinal bem conhecido da raiva.
Os animais infectados têm o vírus em sua saliva. O vírus entra no corpo através de ferimentos na pele, olhos, nariz ou boca e se dissemina através dos nervos para o cérebro. Lá, ele se multiplica e causa inflamação e danos.
Mordidas de um animal selvagem infectado causam a maioria dos casos de raiva nos EUA. Guaxinins são os portadores mais comuns, mas os morcegos são mais propensos a infectar pessoas. Gambás e raposas também podem ser infectados e, em alguns casos, foram relatados em lobos, coiotes, linces e furões. Pequenos roedores como hamsters, esquilos, ratos e coelhos raramente são infectados. A vacinação generalizada de animais tornou rara a transmissão de cães a pessoas. Mundialmente, a exposição a cães raivosos é a causa mais comum de transmissão a seres humanos.
A raiva é quase sempre fatal. Assim, é importante preveni-la por imunização antes e depois da exposição suspeita ou comprovada ao vírus. As vacinas antirrábicas e as imunoglobulinas usadas para profilaxia devem estar em conformidade com as recomendações da Organização Mundial de Saúde.
A prevenção é o melhor remédio!
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