Por Andréia Nasser Figueiredo¹, Daniel Campesan² e Larissa Ferreira³
¹Bióloga, mestra em Ecologia e Recursos Naturais e doutora em Ciências, ambos na área de Educação Ambiental. É cofundadora e educadora ambiental na Fubá Educação Ambiental e atua no grupo Escola da Floresta – Sítio São João e no Instituto de Conservação de Animais Silvestres (Icas)
²Gestor e analista ambiental pela Universidade Federal de São Carlos. Educador da Fubá Educação Ambiental
³Gestora e analista ambiental graduada pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).Educadora da Fubá Educação Ambiental e colaboradora do Núcleo de Apoio à População Ribeirinha da Amazônia – NAPRA
educacaoambiental@faunanews.com.br
Refúgio e acolhimento em tempos de cuidado.
A primavera é sempre uma época de esperança e de pulsar de vidas. Entramos, no dia 22 deste mês, nessa nova estação do ano. E apesar do sopro de vida, não podemos negar o peso que tem essa a segunda primavera que vivemos sobre a pandemia da Covid-19. Mesmo com as medidas sanitárias flexibilizadas aos poucos, devido ao avanço da vacinação em massa, não tem como não sentir o quanto fomos impactados física e psicologicamente por essas medidas tão fundamentais para nossa sobrevivência.
Uma das consequências sentidas devido a essas medidas sanitárias foi o consumo e a exposição indiscriminada às tecnologias e às mídias sociais, o denominado tempo de tela. A tela (nosso computador, notebook, celular ou até mesmo a TV) tem sido nossa principal ferramenta para interação social nos ambientes profissionais e pessoais. Quem nunca participou de alguma reunião ou evento familiar ou do trabalho por videoconferência? Quem não se lembra do auge das lives dos artistas no começo da pandemia?
Nossa proposta então é que aproveite agora este tempo de leitura para refletir por alguns minutos sobre três questionamentos:
– Consegue listar alguns aspectos negativos relacionados ao âmbito social?
– Levando em consideração as diferentes realidades de acesso ao uso da tecnologia, na sua realidade, há algo que você sente falta nesses tempos?(
– Consegue relacionar esse seu sentimento com algum aspecto na sua saúde?
Se você, cara leitora ou caro leitor, listou de alguma forma a falta do convívio e de interação com a natureza, então, assim como nós, também sentiu e percebeu o quanto essa falta impacta nossa saúde mental. Como já dizia aquele velho ditado popular: ”só sabemos que precisamos de algo ou alguém, quando este nos falta”.
Saindo dos ditos populares e migrando para o mundo científico, o tema há muito vem sendo estudado por pesquisadoras e pesquisadores de diferentes áreas. Temos, por exemplo, o caso do transtorno de déficit de natureza descrito pelo escritor Richard Louv, autor do livro A Última Criança na Natureza. O assunto já foi bem abordado no campo da Educação Ambiental e vem suscitando reflexões bacanas na área. Vale consultar alguns textos se você tiver interesse em se aprofundar nessas reflexões. Nossas sugestões: newsletter da Fubá Educação Ambiental, O Eco e BBC News Brasil.
Mas como trabalhar no campo educativo essa reconexão? O primeiro passo é prever que vamos continuar respeitando e cumprindo os protocolos da pandemia. Outra ideia é incentivar a busca por essa conexão com a fauna e a flora que encontramos em nossos quintais e jardins. O simples ato de regar as plantas, sentir seus cheiros e texturas e ouvir o cantar dos pássaros que estão próximos pode ser um caminho possível para a conexão com os outros seres. Para as pessoas moradoras de grandes cidades ou que vivem em apartamentos, uma saída é buscar áreas comunitárias ou espaços verdes que possibilitem o contemplar, o ouvir os sons próximos ou mesmo aproveitar as sombras de árvores.
Aproveite o início da primavera e busque criar esses momentos para você ou para outras pessoas dentro de uma proposta educativa que tanto nos falta no presente. A interação com os espaços verdes urbanos, sejam os parques, praças, unidades de conservação ou mesmo bosques urbanos, proporcionam um papel muito importante no desenvolvimento cognitivo e social que nos permita a reflexão de como nós, enquanto sociedade e como indivíduo, podemos repensar as relações que estabelecemos com esses espaços e o quanto deveríamos pensar nossas decisões políticas em prol desses espaços terapêuticos.
Referência
LOUV, R. A Última Criança na Natureza – Resgatando nossas crianças do transtorno do déficit de natureza. 1 ed. São Paulo: Aquariana, 2016. 400 p.
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