Por Bruna Almeida
Bióloga e coordenadora do Projeto Reabilitação de Fauna Silvestre e das atividades de educação ambiental no Centro de Triagem de Animais Silvestres de Catalão (GO)
universocetras@faunanews.com.br
Os animais silvestres em geral reproduzem-se durante todo o ano, entretanto, no Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) de Catalão, em Goiás, há uma maior frequência de encaminhamento de filhotes órfãos no período de estiagem no Cerrado, que corresponde aos meses de abril a outubro. Por trás daqueles olhinhos assustados que chegam dentro de caixas, existem inúmeras histórias que são contadas no momento da entrega do animal e muitas outras que são omitidas.
Sempre digo aos futuros profissionais que trilham conosco os caminhos da fauna silvestre que saber o histórico do animal é fundamental na manutenção durante o período em que ele depende dos nossos cuidados, principalmente na fase inicial de vida. E claro que com a parceria entre biólogos, médicos veterinários e tratadores os resultados são mais positivos e satisfatórios.
Muitos são os filhotes que recebemos como, por exemplo, araras-canindé, periquitos, tucanos, primatas, corujas, onças, tamanduás-bandeira, urubus, gambás, lontras, iraras e quatis. Cada espécie necessita de cuidados e dietas especiais, o que é um desafio para todos os envolvidos no manejo e manutenção dos filhotes.
A temperatura, alimentação e higienização são fatores essenciais para a sobrevivência e desenvolvimento dos filhotes. As aves são acondicionadas na Unidade de Tratamento Animal (UTA), que funciona como uma incubadora e regula a temperatura conforme a necessidade da espécie. Já os mamíferos são acondicionados no berçário, área destinada e adaptada para esses filhotes, que conta o auxílio de aquecedores, especialmente no período noturno.
E os répteis? Bem, geralmente os répteis filhotes mais comumente encaminhados são os jabutis. Por serem animais ectotérmicos, ou seja, necessitam de uma fonte externa de calor para regular a temperatura do corpo, seja na fase inicial de vida ou na fase adulta, eles também recebem o aquecimento necessário para seu desenvolvimento e crescimento.
Dependendo da espécie, as aves podem ser alimentadas com papinhas específicas, fontes proteicas como carne e pequenos insetos. Como permanecem nos ninhos durante um período, é necessária a higienização dos pés e da cloaca, evitando a formação de crostas residuais causadas principalmente pelo acúmulo de fezes.
Quanto aos mamíferos, os cuidados são mais intensos, especialmente com os indivíduos encaminhados ainda de olhos fechados. Nesses casos, optamos pela alimentação inicial com soro fisiológico até que o individuo se estabilize, evitando a aspiração de fluidos que podem ir para os pulmões.
Os mamíferos se alimentam de leite na sua fase inicial da vida, mas qual é o leite ideal para suprir as necessidades desses filhotes? Em nossa rotina de cuidados estão incluídos os leites sem lactose, de soja, de búfala, de cabra, leite Support para cães e gatos, e até o leite NAN. E nessa fase, ainda recebem banho de sol e precisam ser estimulados para realizar as necessidades fisiológicas, bem como massagem para a eliminação de gases e/ou outros desconfortos intestinais.
São tantos os cuidados com esses pequenos órfãos, sendo que cada fase é registrada através de etogramas, fotografias, biometria e anotações, a fim de auxiliar na manutenção de outros indivíduos. Tratar de filhotes vai muito além de apenas dar mamadeiras e frutas. É uma dedicação intensa com a mistura de preocupação, satisfação e a sensação de dever cumprido, especialmente quando temos o prazer em devolver cada um para o seu ambiente natural.
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