Casal que há mais de 30 anos viaja até os lugares mais remotos do Brasil para fotografar a natureza. São adeptos da ciência cidadã, ou seja, do registro e fornecimento de dados e informações para a geração de conhecimento científico
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Nossa primeira viagem ao Parque Nacional do Itatiaia (PNI) foi no final dos anos de 1980, quando nossos filhos ainda eram pequenos. Ficamos alguns dias hospedados no Hotel Donati, na parte baixa do parque, e queríamos somente estar em contato com a natureza. Voltamos a frequentar essa unidade de conservação novamente a partir de 2010, como observadores de aves. De lá para cá, fomos muitas vezes, tanto para buscar alguma espécie de pássaro que estava aparecendo por lá como também para visitar amigos que fizemos nessas viagens.
Sobre o parque
O Parque Nacional do Itatiaia é uma unidade de conservação de proteção integral brasileira localizada no maciço do Itatiaia, na serra da Mantiqueira, entre os estados do Rio de Janeiro e de Minas Gerais. Itatiaia é o parque nacional mais antigo do Brasil, tendo sido criado em 1937.
No interior do parque encontram-se alguns dos picos mais altos do Brasil, beirando 2.800 metros de altitude. A fauna e a flora são bastante diversificadas devido, principalmente, à diferença de altitude de seu relevo e ao clima variado.
Nascem no parque vários rios, formando uma rede hidrográfica de águas cristalinas e com várias piscinas naturais e cachoeiras.
A Mata Atlântica predomina na parte baixa da unidade, que tem a sua entrada na cidade de Itatiaia (RJ), e os campos de altitude predominam na parte alta, com acesso por Itamonte (MG). No Parque é possível encontrar diferentes espécies de aves em razão dessas diferentes altitudes e vegetações.
O PNI é muito grande e um guia faz toda diferença para registrar as espécies do local. O Hudson Martins é um guia que mora na região e sabe como ninguém onde encontrar cada espécie.
Quatro anos para encontrar o “Reizinho de Itatiaia”
Fizemos muitas viagens para o PNI e por diversas vezes nos hospedamos no Hotel do Ypê, que fica a 1.250 metros na parte baixa do parque. Esse hotel é incrustado na Mata Atlântica e de lá você tem uma vista incrível de parte da unidade de conservação. O restaurante tem uma varanda com bebedouros para beija-flores e pequenos comedouros para as aves, disputados por saíras-sete-cores, tiês-pretos, tiês-de-topete, catirumbavas que chegam em bandos, saís-azuis, saíras-amarelas, ferros-velhos, guaxes, beneditos-de-testas-amarelas, araçaris-bananas e até gaturamos-bandeiras já chegamos a registrar.
De setembro a dezembro, o topetinho-vermelho passa a visitar as flores das lantanas que ficam nos jardins do hotel. Nós passamos a chamá-lo de “Reizinho de Itatiaia”, pois o topetinho vermelho do macho parece uma coroa vermelha sobre a cabeça quando ele está pousado.
Esse lindo e pequeno beija-flor fica normalmente poucos minutos no local, sendo expulso pelos outros beija-flores maiores que dominam o pedaço. Em diversas viagens, nunca tínhamos conseguido fotografar o machinho. Antes de viajarmos, sempre perguntávamos na recepção do hotel se o topetinho-vermelho estava aparecendo. Mesmo indo somente quando o pessoal do hotel confirmava que ele estava por lá, durante três anos não conseguíamos fotografar o macho. No quarto ano de tentativas, em outubro de 2015, tivemos o tão esperado encontro. Foram dois dias em que ele apareceu com bastante frequência nos jardins e nos proporcionou muitas belas fotos.
Surpresas no caminho
Em uma de nossas viagens para Itatiaia, a Susana comentou com o Hudson que tinha o sonho de fotografar uma cobra, pois durante todos os anos de passarinhadas nunca tínhamos registrado uma cobra venenosa de grande porte. Para nossa surpresa, algumas horas depois, ele nos chama e mostra uma grande jararaca em uma pequena árvore próxima a nós. O que mais nos impressionou foi que ela estava na altura de nossas cabeças! Sempre nos preocupamos muito com as cobras durante as passarinhadas, nos precavendo com perneiras e com atenção no chão – a partir desse dia, percebemos que não basta prestar atenção somente onde pisamos.
Outra experiência interessante em Itatiaia, foi no hotel Simon, que se encontra abandonado há muitos anos. Depois de algumas horas andando pelas matas, paramos para descansar um pouco. A Susana, que fotografa tudo que aparece no caminho, estava registrando um sabiá-laranjeira que tinha chamado sua atenção pelo tamanho. Chegando em casa, na hora de editar as fotos, percebemos que na foto do sabiá aparecia também uma cobra caninana. Aí entendemos por que o sabiá estava inflando suas penas para parecer maior perante seu predador.
Parte alta do parque
Em algumas de nossas viagens, fomos até Itamonte para passarinhar na parte alta do PNI. Nossas passarinhadas sempre foram na estrada que liga Itamonte até a portaria do parque. Subimos por essa estrada e fomos parando nos pontos indicados pelo guia.
No início da estrada, você está com camiseta de manga curta e conforme você vai subindo a temperatura vai caindo. Lá pela metade do caminho, você já vestiu todos os agasalhos que tem no carro e mesmo assim está batendo os dentes de frio.
A vegetação vai mudando à medida em que você avança pela estrada e também passam a aparecer os pássaros típicos de altitudes altas, como o sanhaçu-frade, a saudades, o peito-pinhão, o beija-flor-de-topete, a maria-preta-de-garganta-vermelha, a maria-preta-de-bico-azulado e a difícil garrincha-chorona.
Além de natureza e pássaros
Para quem for passarinhar em Itatiaia, não deixe de visitar Penedo, que é um distrito de Itatiaia e fica próximo ao PNI. Penedo é um lugar aconchegante com forte influência da colônia finlandesa e possui excelentes restaurantes, onde você pode saborear uma boa truta. Lugar turístico com muitas pousadas e lojas de artesanatos.
Em todos esses anos que frequentamos o PNI, fizemos amizades que marcaram nossa vida. Dentre as várias amizades, destacamos a amiga Marcia Cunha Carvalho que morava em Penedo e foi uma das mulheres pioneiras em observação de aves – era chamada carinhosamente de a Dama dos Passarinheiros. Foram muitos passeios, passarinhadas e momentos de alegria que compartilhamos.
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