
Por Elisângela de Albuquerque Sobreira
Médica veterinária, mestre em Ecologia e Evolução pela Universidade Federal de Goiás (UFG) e doutora em Animais Selvagens pela Universidade Estadual Paulista (Unesp/Botucatu)
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A seleção natural é uma das principais forças motrizes da evolução biológica. A seleção natural é o processo pelo qual organismos que sobrevivem e se reproduzem melhor que outros deixam descendentes e se tornam mais populosos ao longo das gerações.
Diversos estudos sobre a vida selvagem mostraram que mesmo as espécies mais sociais parecem optar pela distância de indivíduos doentes para evitar transmissões de enfermidades.
Cientistas observaram primatas não-humanos na selva para entender o papel que a genética, a dieta, os agrupamentos sociais e a distância em uma rede social desempenham quando se trata dos microrganismos encontrados no trato gastrointestinal de um animal.
Um pesquisador observou grandes diferenças entre a microbiota intestinal dos grupos sociais. Indivíduos de diferentes grupos que estavam mais intimamente ligados na rede social da população tinham microbiota intestinal mais semelhantes. Essa descoberta indica que os microrganismos podem ser transmitidos durante encontros ocasionais com membros de outros grupos sociais. Os indivíduos com maior carga microbiana pertenciam a um grupo e os demais grupos com menor carga se distanciavam daqueles para evitar propagação de doenças.
Em outro estudo registraram-se casos de chimpanzés infectados com a poliomielite que acabaram sendo expulsos do seu grupo para evitar transmissão da doença para os demais indivíduos.
Outro cientista descobriu que os girinos não só podiam detectar uma infecção mortal por fungos em outros girinos, mas também os membros saudáveis evitavam ativamente aqueles que estavam doentes. Assim como as abelhas, os girinos dependem de sinais químicos para determinar quem está doente ou não.
Quando se trata de acasalamento, muitas espécies são exigentes quanto à seleção de um parceiro saudável. Fêmeas de camundongos, por exemplo, podem descobrir se os parceiros em potencial estão infectados com uma doença por meio de um bom odor. Se a fêmea do camundongo sentir o cheiro de uma infecção parasitária na urina do macho, ela provavelmente passará para outros parceiros mais saudáveis.
Estudos com animais selvagens podem nos ensinar muito sobre a importância de usar intervenções como o distanciamento social para garantir uma comunidade mais segura durante a pandemia.
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