Novo fóssil do RS tem conexão com espécies pré-históricas da Rússia

O Brasil é destaque em muitos assuntos paleontológicos e talvez um dos mais impactantes sejam os fósseis de vertebrados do Triássico encontrados no Rio Grande do Sul. Esse material fóssil tem conseguido tanto destaque que a região da Quarta Colônia, próxima à Santa Maria, conseguiu a chancela da Unesco para se tornar um geoparque.

Dos grupos de vertebrados mais animadores de se encontrar, os dinossauros se sobressaem pela construção cultural científica e cinematográfica sobre esses animais – que eu também adoro!. E no Rio Grande do Sul estão os registros mais antigos de dinossauros no mundo! Eles nos mostram como as primeiras espécies eram e ajudam a entender como se tornaram tão magníficas. Para além dos “terríveis”, a região também é rica em espécies de linhagens parentes dos mamíferos e, tal como com os dinos, ajudam a compreender a evolução desse grupo e como poderiam ter sido as interações ecológicas na região.

No entanto, para além de um ou outro grupo animal específico, os fósseis preservados nas rochas da região testemunharam um período da Terra bastante crucial para a evolução dos vertebrados e da vida: um tempo logo após a maior extinção em massa da história do planeta, chamada extinção Permo-Triássica.

Nessa época, os blocos terrestres se combinaram e formaram um supercontinente chamado de Pangeia, que levou a formação de cadeias montanhosas (tal como aconteceu na formação das cordilheiras dos Andes e do Himalaia) e a situações climáticas extremas nos ambientes terrestres, como secas severas. Dito isso, todo vestígio de vida encontrado em rochas formadas logo após esse período, como no caso dos afloramentos do Rio Grande do Sul, indica como foi o processo de recuperação biológica no planeta, o que implica, também, em entender a extinção e o surgimento de diversos grupos animais e as mudanças morfológicas que ocorreram.

Parentes pré-históricos dos anfíbios

Mas não somente os primeiros dinossauros ou os parentes distantes dos mamíferos foram encontrados em território gaúcho. Recentemente, uma nova espécie foi adicionada à fauna triássica da região, destoando do que usualmente é mais encontrado. A espécie se chama Kwatisuchus rosai e pertence a um grupo de tetrápodes mais próximos dos anfíbios atuais, conhecido como temnospôndilos. Esse foi um dos primeiros de tetrápodes a se diversificar no ambiente terrestre, atingindo grandes tamanhos e formas e se espalhando por vários lugares no mundo, mesmo dependendo de ambientes aquáticos para se reproduzir – as espécies não possuíam ovo amniótico como as tartarugas, os crocodilos e as aves. O grupo surgiu no Carbonífero e foi extinto no Cretáceo Inferior, perdurando por aproximadamente 240 milhões de anos. Portanto, algumas de suas linhagens sobreviveram à extinção Permo-Triássica.

Voltando ao Kwatisuchus rosai, ele foi encontrado em Rosário do Sul, em rochas da formação geológica Sanga do Cabral, que data de aproximadamente 250 milhões de anos. O que se preservou do fóssil foi a parte rostral do crânio do animal, isto é, a região do focinho, que contém também alguns ossos das regiões superior e do céu da boca (palato).

As rochas onde o Kwatisuchus rosai foi encontrado indicam que o ambiente local era aquático e com alta energia, porém efêmero. Isso quer dizer que em alguns momentos havia uma correnteza forte que depois era seguida por um evento de seca. Assim, muitos dos restos mortais de animais eram carregados e se quebraram antes de se fossilizar.

Um dos objetivos dos paleontólogos é saber não somente a que grupo uma espécie pertenceu, mas quem eram seus parentes mais próximos. E com o Kwatisuchus rosai não foi diferente: os pesquisadores puderam incluir a nova espécie em um banco de dados de outras espécies do grupo ao qual ele pertenceu (os temnospôndilos) e descobriram que ele foi parente de espécies cujos fósseis foram encontrados na Rússia, todos pertencendo a uma família chamada Benthosuchidae.

Rússia?! É bastante longe hoje em dia, né? Era também no Triássico, ainda que os continentes estivessem “grudados”. O Kwatisuchus rosai é o registro mais ao sul desse grupo e mostra que existiu uma conexão entre os dois locais. Apesar de existirem duas hipóteses sobre em que lugares da Pangeia esses corredores podem ter existido, elas não foram exploradas em muita profundidade, abrindo uma janela de pesquisa futura.

O Kwatisuchus rosai, então, é mais uma espécie descrita para o início do Triássico, mostrando a diversidade faunística da região nesse período de recuperação biótica pós-extinção e trazendo ainda mais relevância à paleontologia gaúcha e brasileira. A espécie ajuda a entender que tipos de animais habitaram aqui e como estiveram conectados com outras áreas do mundo naquela época.

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