Biólogo e especialista em gerenciamento de risco de fauna em aeroportos e controle de animais sinantropícos nocivos. É analista de serviços tecnológicos do Senai- Firjan, membro da Associação Brasileira de Falcoaria e integrante da Rede Brasileira de Especialistas em Ecologia de Transportes (REET Brasil)
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Arte Venandi cum Avibus é um livro sobre “a arte de caçar com aves” , um tratado latino sobre ornitologia e falcoaria escrito em 1240 pelo Sacro Imperador Romano Frederico II . Mesmo parecendo ser um documento bem antigo sobre o uso da falcoaria para a captura de aves e mamíferos, ele é recente se comparado ao registro do século IV a.C., em que Aristóteles escreveu que “os meninos que querem caçar pássaros levam falcões com eles e os falcões se lançam sobre os pássaros”.
A falcoaria para dispersar fauna em sítios aeroportuários começou no final 1940, em bases aéreas no Reino Unido, um forte reduto da falcoaria mundial, devido ao passado medieval da arte na região. Embora seja uma abordagem atraente, a atividade é pouco aplicada perante o número total de aeroportos existentes.
Um trabalho em uma revista científica publicado em 1990, intitulado A Review of Falconary as a Bird-hazing Techinique concluiu que devido ao grande custo e à pouca demanda de aves e pessoas treinadas, bem como à possibilidade de repovoação da fauna afugentada meses depois da saída das aves de rapina, a falcoaria seria dispendiosa para o uso em aeroportos naquele momento. Sendo usada somente em casos específicos.
No entanto, a quantidade de aves em criadouros legalizados e pessoas treinadas cresceu bastante e, se empregada como uma metodologia associada com as várias outras que existem, como recursos sonoros e visuais, utilizados após a devida mudança de habitat e diminuição dos recursos, a falcoaria pode gerar bons resultados.
Mas o uso da fauna contra a fauna não é restrito à falcoaria. Em diversos aeroportos pelo mundo é possível ver cães treinados para afugentar animais residentes no sítio aeroportuário.
Com mais de 80 mil seguidores no Instagram e uma fundação que leva o seu nome, o cãozinho Piper K-9, da raça border collie, ficou famoso por ser um dispersor de fauna em Michigan (EUA). Além de ser uma importante ferramenta para a segurança aeroportuária, o uso de cães chama a atenção do público e cria a oportunidade de divulgação do risco da fauna. O RIOgaleão (Aeroporto Internacional Tom Jobim, na capital fluminense) com apoio da empresa Radar Ambiental, adotou essa técnica de manejo e possui dois animais, a cadelinha Gigi (cujo nome faz menção ao código do aeródromo, GIG) e o cãozinho Hammer.
Quanto a outra afirmação do trabalho de William A. Erickson e colaboradores publicado em 1990, citado acima, sobre a possibilidade de a fauna voltar, isso não se restringe ao uso da falcoaria ou de cães treinados. O princípio é o mesmo para toda forma de dispersão, pois havendo um nicho vago, será colonizado com o tempo. A pandemia nos mostrou isso, pois com a diminuição dos trabalhos de afugentamento de fauna em aeroportos do Brasil e do mundo, há diversos relatos do aumento nas populações de animais nos sítios aeroportuários e, com isso, uma tendência de mais colisões.
O uso de animais para afugentar outros animais vem sendo implantado no Brasil com uma nova roupagem por empresas do ramo, como a ProHabitat, a Nitidus Soluções Ecológica e a Linha Ambiental. Diferentemente das empresas que trouxeram essa técnica para o país, no inícios dos anos 2000, o uso recente como metodologia associada tem demonstrado que sua utilização pode ser eficiente, apesar de ainda carecer de trabalhos que demonstrem claramente seus resultados.
É importante variar as estratégias sob o comando de profissionais treinados e focar nos trabalhos de redução de focos atrativos, pois, do contrário, nenhuma técnica de afugentamento será eficaz.
Referência
– Erickson, William A.; Marsh, Rex E.; and Salmon, Terrell P. A Review of Falconary as a Bird-hazing Technique (1990). Proceedings of the Fourteenth Vertebrate Pest Conference 1990. 25. https://digitalcommons.unl.edu/vpc14/25
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