
Por Carlos Eduardo Tavares da Costa
Biólogo, bacharel em Direito e agente de Polícia Federal
nalinhadefrente@faunanews.com.br
Esta semana, lendo artigos de revistas especializadas em meio ambiente, me deparei com um que chamou atenção. Publicado no site da revista Planeta, tinha como título “Plástico oceânico está criando novas comunidades de vida em alto-mar”. Tendo como base a grande ‘mancha” de lixo plástico do Pacífico, uma verdadeira ilha de dejetos na costa oeste dos Estados Unidos, o artigo, apesar de não detalhar muitos dados técnicos, apresentava um fato novo intrigante: animais marinhos costeiros são encontrados a quilômetros de distância de seus habitat.
Ao me aprofundar no assunto, encontrei outro artigo, desta vez mais detalhado, em que a pesquisadora, Linsey Haram, que conduziu o trabalho no Smithsonian Environmental Research Centre, complementa o que está ocorrendo na região. Analisando pedaços com diâmetro superior a cinco centímetros, concluiu que em 85% da grande massa existem animais marinhos, sendo metade deles espécies costeiras. Acredita-se que essa “ilha” do Pacífico seja a maior e contenha a maior quantidade de plástico — cerca de 79 mil toneladas numa região de mais de 1,6 quilômetros quadrados.
Estamos assistindo a uma trágica adaptação em que peixes, moluscos, insetos marinhos e outros encontraram um novo lar.
640 mil toneladas de material de pesca são abandonadas anualmente no mar, segundo a Organização não-governamental World Animal Protection. Quando analisadas as proporções, as preocupações aumentam: 39% desse lixo plástico encontra-se em alto-mar (longe da costa), porém, apenas 0,5% encontram-se flutuando. 39,9% são constituídos por embalagens. Já 85% do lixo de plástico encontrado no fundo do mar é de material de pesca, incluindo redes, linhas e armadilhas, estima a organização ambientalista Greenpeace num relatório divulgado ainda este ano.
Algumas dúvidas surgiram e precisam ser dirimidas: já se formou uma cadeia alimentar nesses habitat? Como estão encontrando comida e que tipo de alimento consomem? Qual a variedade das espécies? Estando em águas internacionais, o risco de se tornarem espécies invasoras para outros países se torna factível? Até que ponto a chegada de novas espécies pode perturbar os ecossistemas oceânicos? Estando 64% da área oceânica mundial fora da soberania dos países, de quem seria a responsabilidade? Que nação tomaria iniciativa para solucionar o problema?
Provavelmente, boa parte da solução também venha dos processos de seleção natural com o descobrimento de bactérias consumidoras de plástico, mais precisamente polietileno.
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