Por Paulo Henrique Demarchi
Formado em Administração e pós-graduado em Gestão Ambiental. É instrutor de Fiscalização Ambiental da Polícia Rodoviária Federal e membro do Grupo de Enfrentamento aos Crimes Ambientais da corporação
nalinhadefrente@faunanews.com.br
Muitas pessoas perguntam há décadas: como o tráfico de fauna silvestre persiste no Brasil? Por que o governo ou a polícia não fazem nada? Por que esses traficantes não são presos?
Posso responder isso de forma clara, mas devo apresentar fatos conhecidos por todos:
– É muito complicado ter agentes do Estado em todos os pontos possíveis de captura de fauna nativa.
– Muitos modus operandi do tráfico de fauna são de fácil identificação.
– Muitas rotas são totalmente conhecidas.
– As épocas propícias para captura de várias espécies são de conhecimento amplo.
– Os modais para desovar a “carga” são identificados e facilmente fiscalizáveis.
– Os principais traficantes são conhecidos pelos órgãos policiais e normalmente não param com a atividade criminosa, pois, como a punição é mínima, o criminoso continua na atividade ilícita.
Pois bem. Analisando esses fatos podemos dizer que é extremamente difícil combater o tráfico de animais silvestres no ponto de coleta/captura dos animais, porém, em alguns pontos da cadeia logística, essa atividade é facilmente identificada e quebrada.
Mas, voltemos às perguntas que a população em geral faz: por que então essa atividade criminosa prospera e dificilmente é combatida?
Pois bem. Consigo identificar dois fatores que são fundamentais para o combate ao tráfico de animais silvestres não ser tão eficaz. O primeiro é a punição ridícula, que não consegue tirar o criminoso da atividade, pois não restringe sua liberdade e não atinge o esquema financeiramente de forma eficiente. Em suma, os criminosos se mantêm operando durante décadas, o Estado não possui ferramentas adequadas para retirá-lo do ciclo. O tráfico de animais silvestres no Brasil compensa.
O segundo fator é que o Estado não estrutura um setor adequado para combater essa atividade criminosa. As polícias não dão treinamento mínimo para seus agentes entender e combater os crimes ambientais. Os cursos de formações policiais, em regra, disponibilizam uma carga horária irrisória para trabalhar todos os possíveis crimes ambientais, o que faz com que os agentes vão para a atividade-fim, normalmente, às cegas para os crimes ambientais.
As delegacias, postos e viaturas policiais não dispõem de equipamentos mínimos, como luvas de contenção, luvas de látex e caixas de contenção. Em regra, o Estado não tem local para destinar animais vítimas do tráfico e raramente algum projeto sólido de reintrodução da fauna na natureza.
Talvez, se tivéssemos apenas o mínimo necessário – capacitação séria de servidores públicos, setor de inteligência para crimes ambientais e equipamentos básicos para o trabalho -, poderíamos ter um trabalho proativo para reduzir significativamente o tráfico de animais, que, infelizmente, é realizado pelas mesmas pessoas, passam pelas mesmas rotas, utilizam os mesmos modais logísticos e são comercializados da mesma maneira.
Enquanto não tivermos o mínimo para o trabalho, o Brasil será um terreno fértil para os crimes ambientais.