Por Paulo Henrique Demarchi
Formado em Administração e pós-graduado em Gestão Ambiental. É instrutor de Fiscalização Ambiental da Polícia Rodoviária Federal e membro do Grupo de Enfrentamento aos Crimes Ambientais da corporação
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É de conhecimento comum que quadrilhas que exploram os tráficos de drogas e de armas, o roubo de cargas e atuam em assaltos a bancos entre outras atividades criminosas estão cada vez mais organizadas, armadas e violentas. Com esse crescimento e fortalecimento quase sempre ligado a grandes facções criminosas, esses grupos estão desafiando a polícia e a Justiça cada vez com mais frequência.
Essa realidade também está presente nas quadrilhas que vivem do crime ambiental. Mais precisamente nas questões de tráfico de animais e as explorações ilegais de minérios e de produtos florestais. Esses grupos criminosos também são ligados a facções e estão presentes em todas as etapas desses delitos.
Em 2007, o relatório Ecomáfia, produzido pela associação Legambiente, constatou que as quatro máfias italianas (Cosa Nostra, na Sicília; Camorra, em Nápoles; 'Ndrangheta, na Calábria; e Sacra Corona Unita, na região da Apúlia) faturavam 23 bilhões de euros anuais exclusivamente com crimes ambientais. No Brasil, os grupos criminosos que vivem desse tipo de delito fazem questão de se denominar e divulgar suas atividades sem medo algum das forças policiais e da Justiça.
Policiais que trabalham no enfrentamento aos crimes ambientais conhecem grupos famosos como a Máfia do Ipê, a Máfia da Tora e a GDM (Galera da Madeira). Esses são apenas alguns entre dezenas já identificados pela presença constante nas atividades criminosas. Mas ultimamente, o fortalecimento desses grupos vem assustando servidores públicos e ONG´s que trabalham na defesa do meio ambiente.
Policiais rodoviários federais já foram hostilizados em audiências públicas, receberam o título de persona non grata em câmaras municipais e até foram ofendidos em assembleias legislativas. Recentemente, um PRF que trabalha e reside no norte do Mato Grasso e prefere não se identificar foi alvo de uma tentativa de intimidação após reter dois caminhões com madeira ilegal em seu plantão. Pessoas armadas realizaram sete disparos com arma de fogo na fachada de sua casa durante a madrugada.
Essa postura é extremamente preocupante, pois as atividades ilegais na questão ambiental se misturam diversas vezes com atividades legalizadas, o que dificulta muito a fiscalização e a comprovação dos ilícitos. A confusão entre legal e ilegal faz com que os órgãos de fiscalização não tenham a real dimensão daquilo com que estão trabalhando – diferente de atividades exclusivamente ilegais, como o tráfico de drogas, em que os órgãos públicos conseguem com mais facilidade quantificar a dimensão e o tamanho das organizações e do ativo financeiro movimentado.
O combate aos crimes ambientais precisa mais do que investimento público em operações. São necessários estrutura compatível e funcionários muito capacitados para poder enfrentar essas atividades criminosas altamente especializadas e que já contam com “profissionais” treinados em áreas técnicas e políticas com os objetivos de enganar os órgãos públicos e fraudar o processo de legalização dos recursos naturais.