Por Bruna Almeida
Bióloga e coordenadora do Projeto Reabilitação de Fauna Silvestre e das atividades de educação ambiental no Centro de Triagem de Animais Silvestres de Catalão (GO)
universocetras@faunanews.com.br
Os centros urbanos cada vez mais se expandem invadindo áreas naturais e habitat de inúmeras espécies da fauna silvestre. A proximidade e a disponibilidade de recursos alteram hábitos e comportamentos de algumas espécies, entre elas o periquitão-maracanã (Psittacara leucophthalmus), ave comumente encontrada e adaptada às localidades urbanizadas.
Essas aves possuem ampla distribuição na América do Sul e ocorrem em grande parte dos Estados brasileiros. Elas apresentam hábitos diurnos, se deslocam constantemente em busca de alimento e utilizam os forros de residências como abrigo, bem como para construírem seus ninhos.
A presença dos periquitões-maracanã nas cidades os tornam susceptíveis a captura (para serem mantidos em cativeiro como pet), maus-tratos (vítimas de chumbinho e outras agressões humanas), atropelados em vias públicas e mutilados ao entrarem em contato com linhas de alta tensão. Eles também podem sofrer mutilações dos seus membros devido aos locais escolhidos para nidificarem e os materiais que levam para formarem os ninhos. Através das aberturas nos telhados, essas aves conseguem entrar e se instalam no local, podendo ocasionar prejuízos (roem os fios e causam curtos-circuitos) e perturbações aos proprietários devido as vocalizações e movimentações no forro.
O período reprodutivo dessas aves pode ser iniciado em agosto e ir até o mês de janeiro. Desde o início de fevereiro, o Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) de Catalão (GO) recebeu vários casos de periquitão-maracanã com ferimentos e lesões ocasionadas por linhas de nylon, fibras, plásticos entre outros materiais. Apesar da retirada dos materiais, nem sempre os membros são recuperados devido à gravidade e ao tempo de lesão, tendo como consequência a amputação do membro que apresenta estágio avançado de necrose para que reduza os riscos de uma infecção generalizada.
Os indivíduos mutilados permanecem no Cetas por tempo indeterminado, pois conforme relatado no artigo escrito pelo biólogo Yuri Marinho Valença, do Cetas Tangará (CPRH/PE), animais com esses problema não se encaixam nos padrões estéticos de exposição em zoológicos e/ou mantenedouros, além de serem aves comuns e consideradas não muito atraentes. A reintrodução em seu habitat natural torna-se inviável, pois o indivíduo utiliza os membros especialmente na alimentação, quando se apoia num pé e segura o alimento com o outro.
Mas o que fazer então para que esses incidentes não ocorram? Bem, sempre que identificar casais em seu telhado, verifique os possíveis locais que possam entrar e se instalarem. A utilização de telas ou outro material considerado resistente pode impedir a entrada de indivíduos e a nidificação, reduzindo os riscos para as aves e transtornos aos proprietários. Nos casos de casais que realizaram a postura dos ovos, o ideal é aguardar o nascimento até que cresçam e abandonem o ninho, adotando as medidas cabíveis que impeçam na próxima época reprodutiva a nidificação em sua residência.
A convivência e harmonia entre a fauna e os humanos é um grande desafio para a conservação da biodiversidade. Acreditamos que a educação é a chave para uma mudança de atitudes, valorização e respeito por todas as formas de vida existentes.
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