
Por Cristine Prates
Bióloga, consultora ambiental e guia de observação de aves. Proprietária da Birding Chapada Diamantina. Tem experiência em projetos de pesquisa e conservação de aves da Caatinga.
observacaodeaves@faunanews.com.br

As guias de observação de aves Cristine Prates (quem aqui vos fala) e Tati Pongiluppi (minha antecessora nesta coluna) são destaque da edição 77 da revista Plurale. O universo do turismo de observação de aves é predominantemente masculino. Dados levantados pelo coletivo de guias “Brasil Silvestre” apontou que apenas 16% dos guias de observação de aves são do sexo feminino.
A Plurale destacou o trabalho que realizamos em uma expedição na Chapada Diamantina (BA). Se uma guia mulher é raro nesse meio, quando duas se juntam para liderar uma guiada é algo tão especial e raro de se encontrar que merece destaque.
A Tati é uma das únicas mulheres no Brasil que opera expedições de observação de aves tão longas em tempo e distância. E sonha em poder realizar as suas viagens contratando guias locais mulheres e encontrar com outras guias mulheres pela estrada. Porém faltam guias locais nas áreas atendidas por ela. Segundo a Tati, apenas na Chapada Diamantina é onde ela consegue guiar com outra guia mulher.
E por que será que as mulheres não estão ocupando esse nicho de trabalho? Participo da rede Ornito Mulheres (Instagram), um grupo com quase 250 amantes das aves que inclui ornitólogas, veterinárias, estudantes, fotógrafas, dentre outras, e muito se discute o porquê de as mulheres não ocuparem certos cargos no ramo profissional das aves.
A Tietta Pivatto – quem também já escreveu para a coluna Observação de Aves – realiza qualificações de guias de condutores de observação de aves por todos o Brasil e relata: “nos cursos que ministro, a quantidade de homens e mulheres é parecida, porém após a capacitação, a maioria das pessoas que seguem no ramo profissional são homens.” Ela acredita que, por uma questão cultural, os homens têm mais liberdade para viajar, enquanto as mulheres acabam tendo que ficar mais em casa com a família.
A ornitóloga Daniela Maia afirma ter concluído o curso de guia de turismo, mas até hoje não se sente segura para atuar na profissão. Uma outra guia que não quis se identificar confessa ter desistido de guiar após algumas tentativas frustradas. “Eu sempre quis, mas aqui os observadores já vem com o guia certo, e sempre os homens indicam outros homens, não dando oportunidade para nós mulheres crescermos na profissão”.
As publicações em revistas na área da Ornitologia são escritas em sua maioria por homens, as fotos de capas de revistas científicas também, bem como a atuação em consultorias ambientais. Não é diferente com guias de observação de aves.
O que será que faz essa diferença? Será que as oportunidades são iguais? Seria uma questão cultural? Segurança em campo? Maternidade? Cuidado com a família, pais, avós? Opressão do companheiro por causa das viagens? Falsa impostora? Clube do Bolinha? Todas as alternativas anteriores? Convido você, caro leitor, a fazer essa reflexão.
A expedição realizada na Chapada Diamantina por mim e pela Tati nos motivou a querer ver no Brasil mais mulheres operando no turismo de observação de aves. Inicialmente foi difícil acreditar no nosso potencial como guias devido aos medos impostos por uma sociedade machista num mercado ainda tão masculino. Mas quando decidimos iniciar a atividade, apesar de todos os desafios que a profissão de guia envolve, percebemos que tem espaço para mulheres sim e que algumas limitações eram ilusórias.

Recebemos retornos dos clientes reportando que o turismo de observação de aves tem muito a ganhar com uma maior presença feminina, com a organização, precisão nas informações, atenção em campo para perceber as aves e pela harmonia nas relações.
Para incentivar que mais mulheres ocupem esses espaços vazios na rede de guias de observação de aves, vão aí algumas profissionais que atuam na área e seus respectivos locais de atuação e perfis no instagram. Contrate o serviço das guias, vamos valorizar a presença feminina no universo do turismo de observação de aves e diminuir a lacuna de gênero no setor.
– Cecília Licarião – Fernando de Noronha (PE) – @licarião
– Cristine Prates – Chapada Diamantina (BA) – @cristineprates
– Eleonora Pinheiro – Manaus (AM) – @eleonorapinheiro4874
– Gisiane Lima – Manaus e cidades do entorno (AM) – @gigibiologia
– Giulia D’Angelo – Campinas (SP) – @giuliapassarinha
– Juliana Oliveira – Belo Horizonte (MG) – @julianaoliveira_birds
– Luciana Cruz – Baixada Santista (SP) – @lu_bird_lady_mangrove
– Tati Pongiluppi – Caparaó (ES) e grandes expedições pelo Sudeste e Nordeste – @tatipongiluppi
– Tietta Pivato – Ministra curso de condutores de observação de aves em todo Brasil @tietta_pivatto
– Vanilce Carvalho – Amazonas – @vanilcecarvalho










Anterior
Próximo
– Leia outros artigos da coluna OBSERVAÇÃO DE AVES
Observação: as opiniões, informações e dados divulgados
no artigo são de responsabilidade exclusiva de seu(s) autor(es)