Por Claudia Xavier
Bióloga, mestra em Zoologia pela Universidade Federal do Pará (UFPA) e pelo Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) e doutoranda em Zoologia (UFPA/MPEG). Trabalha no Laboratório de Aracnologia do Museu Emílio Goeldi
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Terminamos janeiro e ainda sentimos, por vezes, aquela aura de nostalgia pelo ano que se encerrou ao mesmo tempo que novas expectativas e metas para o ano que começou. O tempo é algo relativo. Não cabe aqui e nem é o intuito falar sobre as diversas percepções filosóficas e conceitos do mundo da física que permeiam a palavra “tempo”. Mas o tempo passa mais devagar ou mais depressa dependendo do referencial. O tempo vai passando, situações vão acontecendo, conhecimentos vão sendo gerados e adquiridos e quando, enfim, nos damos conta, anos já se passaram. É clichê, eu sei, mas realmente a impressão que tenho é que foi “dia desses” que comecei a escrever para a coluna Invertebrados.
E assim já se passaram dois anos desde o primeiro artigo que escrevi para o Fauna News.
Os aracnídeos são animais não muito bem-vistos pelas pessoas de maneira mais geral, já que não pertencem ao que chamamos carinhosamente de “fofofauna”. Apesar de haver aranhas bem carismáticas, como as papa-moscas, muitas pessoas acabam desenvolvendo aversão aos nossos amigos de oito pernas por desconhecimento ou por muitas informações errôneas que são divulgadas na grande mídia (as tão comuns fake news).
Nesses dois anos quase completamente pandêmicos, abordei bastante as aranhas, afinal, são meu objeto de estudo desde a graduação. Ok. Puxei um pouco mais de sardinha para o lado das fazedoras de seda.
Já que mencionei carisma, que tal relembrar ou quem sabe ler pela primeira vez sobre as carismáticas aranhas espinhentas do gênero Micrathena? Elas foram meu primeiro grupo de estudo quando eu era apenas uma jovem padawan estagiária no laboratório – então meu início aqui no Fauna News teve essa “memória afetiva”.
Do primeiro ao atual grupo que sigo estudando desde o mestrado, também tratei um pouco sobre as aranhas-soldado-corredoras da família Corinnidae, que, muitas vezes, podem passar despercebidas com algumas espécies que apresentam um mimetismo impressionante com formigas. Até quem tem os olhos treinados para achar esses bichos no campo acaba enganado!
As aranhas constituem um grupo bem diverso com mais de 50 mil espécies descritas no mundo todo. São encontradas nos mais diferentes ambientes, com exceção dos polos. Mas o que talvez possa interessar mais para você, que está lendo agora, é quais aranhas também habitam a sua casa e o seu jardim. Clicando no link mencionado anteriormente, você vai conhecer o nome de algumas espécies bem comuns de serem encontradas nas residências. E uma curiosidade: você sabia que aranhas “voam”? Elas não têm asas, mas possuem seu próprio método para chegar de um ponto a outro sem tocar o chão. É o chamado balonismo.
Grande parte do meu trabalho com aranhas é descrever a sua diversidade ainda não conhecida, o que inclui descrever espécies novas. Taxônomos podem ser bem criativos na hora de atribuírem nomes às espécies com as quais estão trabalhando e você pode conferir neste texto aqui. O nome que mais gosto é da espécie Ianduba dabadu, que faz referência à expressão falada pelo Fred Flinstone da animação Os Flinstones (yabba dabba doooo!).
Nesse tempo de duas translações da nossa estrela maior também escrevi sobre outros aracnídeos pouco conhecidos, como o Ricinulei, o aracnídeo cego. Um contraste com o que comumente as pessoas costumam imaginar quando falamos de aracnídeos, que seria uma aranha com muitos olhos, por exemplo. Muitos desconhecem, mas os carrapatos também são aracnídeos. Definitivamente não fazem parte da fofofauna e não são conhecidos por sua simpatia, mas ainda assim são importantíssimos de serem estudados por terem importância em saúde não só para nós, humanos. Você pode conhecer um pouco mais sobre um grupo de carrapatos pertencentes à família Ixodidae neste texto aqui.
Saindo dos artigos abordando grupos específicos, também tive a oportunidade de trazer para a coluna assuntos que são de extrema importância serem discutidos para que avancemos para uma sociedade mais justa e que respeite os direitos dos animais. Em 2021, abordamos a questão do tráfico de aracnídeos para a venda não só no Brasil (o que se faz ilegal) como também para o exterior. Em 2022, apresentei o SWA – Support Women in Arachnology, grupo formado por aracnológas que busca investigar e combater o viés de gênero da Ciência. O apoio a ambas as temáticas é sempre bem-vindo.
Sou muito feliz por ter a oportunidade de contribuir para que o conhecimento sobre um grupo tão fascinante quanto os aracnídeos ultrapasse os muros da academia. São animais do nosso cotidiano, que rotineiramente não recebem a atenção merecida. Para esse novo ano, desejo que possamos ter ainda mais trocas enriquecedoras e que nossa fauna receba a proteção que lhe é devida!
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