Por Adriana Prestes
Bióloga, responsável técnica por áreas de soltura e monitoramento de fauna silvestre na Serra da Mantiqueira e Vale do Paraíba (SP) e secretária executiva do Grupo de Estudo de Fauna Silvestre do Vale do Paraíba, Litoral Norte e Serra da Mantiqueira
segundachance@faunanews.com.br
Em meu último artigo (“O processo de soltura de animais até o monitoramento“), publicado em 1º de junho de 2020, abordamos as diversas etapas de um processo de soltura até o momento de iniciar o monitoramento. Hoje, dou continuidade ao tema tratando especificamento do monitoramento.
Mas afinal, o que significa monitorar?
Vamos pelo começo. A ação de monitoramento pode ser entendida como ato de acompanhamento, vigilância, controle, supervisão, fiscalização, auditoria e inspeção.
Abrangente, não é?
Pois bem. Podemos dividir a ação de monitoramento em dois momentos: observar algo e registrar algo. O monitoramento só tem sentido e utilidade quando combinamos observações e registros.
Entendida a combinação de observação e registros, vamos às diferentes técnicas.
Grosso modo, entre tantas possibilidades, podemos destacar três metodologias bastante utilizadas em monitoramentos, sendo que as duas primeiras formas não requerem nenhum equipamento especial. São elas: o monitoramento por ponto fixo e o monitoramento por transecto. O terceiro método é o monitoramento por câmera trap.
A literatura apresenta vários trabalhos técnicos e científicos com os fundamentos dessas formas de monitoramento. A questão é que a ação de soltura não envolve necessariamente técnicos de carreira e cientistas. Quem nunca recolheu um passarinho, cuidou e depois soltou?
Portanto, à medida que mais pessoas passam a se envolver com ações de soltura e não somente técnicos e cientistas, é preciso pensar formas de adaptar as metodologias clássicas para o contexto do dia a dia. Então vamos lá!
Monitoramento por ponto fixo
Quando instalamos um comedor para pássaros e, ao observá-lo em intervalos regulares de tempo, tiramos fotos das aves, estamos fazendo um acompanhamento. Quais espécies visitam o local, o que comem, a que horas se alimentam, se ocorrem outros comportamentos associados ao ato de se alimentar, como a corte, se há interação entre animais da mesma espécie ou entre outras espécies, enfim, tudo o que ocorre naquele espaço. A qualidade da informação obtida depende de realizarmos os registros com atenção e de forma regular, ou seja, no mesmo local, de preferência no mesmo horário e da mesma forma (imagens, anotações, mapas, entre outros), e principalmente de sermos capazes de recuperar essas informações para o benefício dos animais de nosso interesse.
Em síntese, monitorar por ponto fixo consiste em ficar em algum local, por tempo determinado, registrando o que é percebido, sempre do mesmo modo.
Monitoramento por transecto
Imaginando que estamos fazendo a soltura em áreas arborizadas e com remanescentes florestais, podemos estabelecer rotas, trilhas e percorrê-las periodicamente. Ao fazermos essa ação, estamos percorrendo um “transecto”, isto é, uma linha, uma faixa em um terreno ao longo da qual se registram fatos, se realizam contagens do que se quer conhecer e estudar. Novamente, a qualidade da informação depende da regularidade e da capacidade de registrar as informações obtidas, que, ao longo de um período maior, por exemplo, um ano, servem para indicar tendências e regularidades. Com esse tipo de monitoramento, pode-se identificar quais espécies são comuns naquele trajeto, se foram avistados animais jovens, se foram observados alimentos consumidos pelos animais, como sementes e frutos, se novos animais aparecem no monitoramento, se há marcas feitas por animais no terreno ou em árvores.
Em síntese, monitorar por transecto consiste em percorrer um caminho definido e periodicamente observar as mudanças de cenário, registrando tudo da forma mais completa possível.
Monitoramento por câmera trap
Essa forma de monitoramento, até bem pouco tempo, era restrita à pesquisa técnica ou científica, principalmente porque o custo dos equipamentos era alto e sua obtenção difícil. Hoje, isso mudou e as câmeras estão trap disponíveis em vários modelos, podendo ser adquiridas por preços acessíveis e amplamente disponíveis para consumo.
O que é possível fazer com esse equipamento?
As câmeras trap, se forem corretamente colocadas e manejadas e por poderem funcionar de dia e de noite, são capazes de registrar fotos e vídeos que permitem identificar animais, sobretudo mamíferos silvestres que, por serem mais ariscos, nem sempre são avistados.
Mas claro que nenhum equipamento é magico! O bom monitoramento depende da regularidade na obtenção de dados e de análises sobre os dados para a identificação de fatos relevantes e a possível indicação de tendências. Também é sempre importante frisar que só é possível identificar padrões quando temos uma quantidade significativa de dados. Estamos falando de dados coletados por vários anos ou, para algumas espécies, por mais de uma década.
Existem várias publicações técnicas e científicas disponíveis on-line para aprender a realizar o armadilhamento fotográfico. Indico uma que, apesar de se destinar a um tipo específico de fauna, tem várias explicações úteis para quem vai usar as câmeras: Protocolo de Monitoramento de Mamíferos Terrestres de Médio e Grande Porte, de Fabrício Pinheiro da Cunha, publicado em 2013 em parceria do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (Cenap/ICMBio) e o Projeto Nacional de Ações Integradas Público-Privadas para Biodiversidade (Probio II).
Agora que você, leitor, já está devidamente informado, que tal botar a mão na massa?
“Bora” monitorar…
Observação: as opiniões, informações e dados divulgados
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