Casal que há mais de 30 anos viaja até os lugares mais remotos do Brasil para fotografar a natureza. São adeptos da ciência cidadã, ou seja, do registro e fornecimento de dados e informações para a geração de conhecimento científico
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O Lajedo dos Beija-flores na cidade de Boa Nova, na Bahia, é um lugar que queríamos conhecer há muito tempo, mesmo antes da construção da infraestrutura que hoje lá existe. Sempre escutávamos dos amigos Marcos Holanda e Ester Ramirez sobre a beleza do local, sobre a grande quantidade de beija-flores e do sonho deles em construir lá um empreendimento destinado, principalmente, aos observadores de aves.
Fizemos nossa viagem para o Lajedo dos Beija-flores em novembro deste ano e lá ficamos por sete dias; dias que passaram tão rápido quanto os voos dos beija-flores que ficamos admirando e fotografando. Lá tivemos a constante companhia do competente guia Sidnei Sampaio e do Sr. João, que cuida do Lajedo com muito carinho.
Um pouco da história do Lajedo dos Beija-flores
Em 2014, os observadores de aves Marcos Holanda e Ester Ramirez viajaram para a Boa Nova em busca dos beija-flores-vermelhos (Chrysolampis mosquitos) e do gravatazeiro (Rhopornis ardesiacus), ave endêmica da mata do cipó (ambiente de transição entre a Mata Atlântica e a Caatinga), ameaçada de extinção e que se tornou o símbolo oficial da cidade. No município, conheceram o lajedo, uma grande área de formação rochosa repleta de bromélias e cactos coroa-de-frade que com suas flores atraem dezenas de beija-flores-vermelhos ao entardecer. Eles se encantaram com o local e ficaram preocupados ao perceber que aquela beleza estava ameaçada pela circulação do gado que pisoteava os cactos e toda vegetação rasteira nascida nas fissuras do lajedo.
O encanto foi tanto que eles resolveram adquirir a área, cercá-la e conservá-la até que pudessem construir uma infraestrutura para observação de aves. Desde então, o projeto foi sendo planejado, tomando formato até o empreendimento ser inaugurado em dezembro de 2020.
Infraestrutura do Lajedo dos Beija-flores
Toda infraestrutura foi construída em frente ao grande lajedo, onde termina a formação rochosa. Para atrair ainda mais as aves, foram plantadas mais de 4 mil mudas de cerca de 70 espécies de plantas preferidas pelos beija-flores e outras espécies, formando um lindo e colorido jardim – é um oásis de flores em plena mata do cipó. Foi feito também um pequeno lago para as aves se refrescarem.
Para os observadores, foram construídos dois observatórios cobertos com banheiros, energia solar, Internet, cadeiras, água mineral e uma máquina de café. Os bebedouros para beija-flores e os comedouros foram dispostos em locais que têm uma boa luz para as fotos, praticamente eliminando as indesejadas sombras. As trilhas são largas e muito bem cuidadas.
Pousada e refeições
Ficamos hospedados na Pousada Sande, que fica no centro de Boa Nova e a 10 minutos de carro do Lajedo. A pousada oferece café da manhã no horário que você combinar, o que é muito importante para passarinheiros que saem muito cedo. Fizemos todas as refeições no estabelecimento, mas alguns observadores preferem levar lanche e almoçar no próprio Lajedo.
O espetáculo do beija-flor-vermelho
A fêmea tem as partes superiores esverdeadas, a parte inferior na cor cinza e a cauda castanho-escuro.
O macho tem a cabeça e a nuca de cor vermelha, garganta e peito amarelo-alaranjados metálicos e cauda ferrugínea. Essa espécie possui a maior extensão de penas iridescentes, ou seja, que refletem as cores dependendo da incidência de luz. Os observadores de aves dizem que nesse momento é quando o beija-flor “acende”, pois suas cores mudam repentinamente durante alguns centésimos de segundos, como se tivesse acendido luzes em suas penas, mostrando cores vivas e metálicas de uma beleza incomum.
Apenas um bom registro fotográfico é capaz de eternizar esse belo momento e mostrar o que os olhos não conseguem perceber em sua totalidade pela sua extrema rapidez. Com certeza, o beija-flor-vermelho é uma das mais belas espécies de beija-flores do Brasil. Nós tivemos a oportunidade única de observar e fotografar aves dessa espécie durante sete dias, captando lindas imagens.
O passeio diário do inhambu-chororó e das codornas-do-Nordeste
O inhambu-chororó (Crypturellus parvirostris) é normalmente mais fácil de ser ouvido do que visto, sendo assim difícil se ter uma boa foto dessa ave. No Lajedo dos Beija-flores vimos essa espécie todas as manhãs e tardes em sua rotina caminhando lentamente para o lago.
Todos os dias de manhã e à tarde encontrávamos vários indivíduos da codorna-do-Nordeste (Nothura boraquira) na estrada de acesso ao Lajedo, já dentro do empreendimento. Era um lifer (primeiro registro) para nós e todos os dias parávamos o carro para tentar melhorar a foto.
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A facilidade de fotografar o difícil gravatazeiro
O gravatazeiro (Rhopornis ardesiacus) é uma ave ameaçada de extinção, com registros fotográficos no WikiAves em apenas dez cidades da Bahia e uma cidade no extremo norte de Minas Gerais. A maior quantidade de registros foi feita na cidade de Boa Nova. É conhecido como gravatazeiro por muitas vezes procurar suas presas, grilos, aranhas e cupins, no interior de grandes bromélias, conhecidas como gravatás, onde também fazem seus ninhos.
No Lajedo dos Beija-flores, fizemos muitos registros do gravatazeiro, tanto do macho quanto da fêmea, em um grande gravatá e nas suas imediações.
O raro balança-rabo-canela e os outros beija-flores
Outra preciosidade que visita diariamente o Lajedo dos Beija-flores é o raro beija-flor balança-rabo-canela (Glaucis dohrnii), espécie ameaçada de extinção e com registro fotográfico em apenas 12 cidades do Brasil, do norte do Espírito Santo e no Sul da Bahia. Observamos se tratar de um beija-flor solitário, permanecendo pouco tempo nas flores ou nos bebedouros, pois logo é afastado pelas outras espécies de beija-flores, que travam verdadeiras batalhas para defender suas fontes de alimentação.
Tivemos também a oportunidade de registrar o bico-reto-de-banda-branca (Heliomaster squamosus), o beija-flor-de-garganta-verde (Chionomesa fimbriata), o beija-flor-de-veste-preta (Anthracothorax nigricollis), o rabo-branco-acanelado (Phaethornis pretrei), o beija-flor-de-peito-azul (Chionomesa láctea), o besourinho-de-bico-vermelho (Chlorostilbon lucidus) e o beija-flor-tesoura (Eupetomena macroura), que percebemos ser bem maior e com cores mais acentuadas e brilhantes que a subespécie existente em São Paulo. No Lajedo já foram registradas 19 diferentes espécies de beija-flor.
Foi difícil virar as costas e se despedir
Foram dias em que, além de ver e fotografar tantas belas aves, também estávamos desfrutando de um enorme jardim e tendo em nossa frente um enorme lajedo. Tudo isso nos transmitia um sentimento de paz e tranquilidade. No último dia, estávamos contentes por termos desfrutado desse lugar paradisíaco e bateu uma tristeza quando estávamos virando as costas para partir.
Do Lajedo, além das fotos maravilhosas das aves, ficou também em nosso coração o sentimento de paz que vivenciamos e a certeza de que um dia iremos voltar.
Fontes: Lajedo dos Beija-flores, G1 – Terra da Gente e WikiAves
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