Insektober: outubro é mês de desenhar insetos

O desafio é desenhar um inseto por dia. Consegue?

Elidiomar Ribeiro da Silva

Licenciado em Ciências Biológicas, mestre e doutor em Zoologia pelo Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professor do Departamento de Zoologia da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), sendo responsável pelo Laboratório de Entomologia Urbana e Cultural.
Entomólogo, tem carreira centrada no estudo da taxonomia das ordens Ephemeroptera, Hemiptera e Lepidoptera, sendo que recentemente vem se dedicando ao estudo da presença simbólica de animais nas manifestações culturais, a chamada zoologia cultural. Com mais de cem artigos científicos publicados, cerca de 200 trabalhos apresentados em congressos científicos, nove livros editados e sete capítulos de livros, orientou dez dissertações de mestrado e três teses de doutorado. É idealizador e editor do periódico A Bruxa, uma revista de biologia cultural, e do fanzine sobre ciência Homem-Leoa. É também o criador e organizador do Colóquio de Zoologia Cultural e da Mostra de Biologia Cultural.

23 de outubro de 2024

FAUNA NEWS Insektober: outubro é mês de desenhar insetos

Outubro realmente é um dos meses mais especiais do nosso calendário. É, por exemplo, quando se comemora o Dia das Crianças e se celebra a Padroeira do Brasil, ambos os temas já tratados por aqui [1] [2] [3]. Mas é também o mês dos desafios de desenhos, geralmente feitos no Instagram e refletidos em outras redes sociais. Dentre esses desafios, o Inktober muito provavelmente é o pioneiro.

O Inktober [4], criado por Jake Parker em 2009, é um desafio proposto para que desenhistas aprimorem suas técnicas artísticas, seguindo a proposta de 31 temas diários, sendo o nome uma fusão dos termos em inglês para tinta (ink) e outubro (October).

Ao longo do tempo, o Inktober cresceu e passou a receber também a participação não só de profissionais do desenho, mas também de amadores e outros interessados tão somente no lado lúdico da coisa. E serviu de inspiração para outros desafios na mesma linha, tão diversificados que se torna até difícil acompanhar. Transformando a minha já complicada rotina em um verdadeiro inferno, eu costumo participar de três desses desafios, além do próprio Inktober original: o Birdtober, com desenhos de aves; o Ferntober (até ano passado chamado de Folktober), com desenhos relacionados ao folclore; e o Insektober, sobre insetos. Como tempo e talento são coisas que não me sobram, imponho um limite para a elaboração de cada desenho, algo em torno de 5 minutos, o que não compromete minhas atividades corriqueiras. Até porque já faço desenhos de outra série já mencionada aqui [5], Bichos do Brasil.

Nessa brincadeira, a cada dia de outubro, já há um bom punhado de anos, faço ao menos cinco desenhos – aí tem que ser na base do rascunho rápido mesmo. Se você tem Instagram, vale à pena olhar as artes produzidas pelo pessoal. Tem coisa de cair o queixo! Para tal, busque as hashtags #inktorber, #birdtober, #ferntober, #folktober e #insektober.

O desafio

Tema de hoje neste espaço, o desafio Insektober merece um destaque à parte, uma vez que todas as formas de popularização dos insetos, grupo corriqueiramente de má fama, são super bem-vindas. Especificamente neste ano, no Insektober está sendo proposta uma temática relacionada ao folclore e à cultura popular, sendo que, com muita felicidade, eu fui convidado pelos organizadores para ajudar na escolha dos temas.

O responsável pela brincadeira é o Bug Bites, um podcast feito por quem e para quem ama insetos ou que queira conhecer um pouco mais sobre o mundo da Entomologia. São entrevistas, temas especiais, muita Ciência, curiosidades e informação [6]. Até agora foram lançados 143 episódios, sendo que eu tive a honra de participar de dois deles – um sobre Zoologia Cultural [7] e o outro sobre radiação adaptativa, com base em um experimento usando piolhos de pombos [8].

Conversei com o pessoal do Bug Bites a respeito do podcast em si e da realização do Insektober. Segue abaixo um pouco do que falamos.

Elidiomar Ribeiro da Silva – Como surgiu o Bug Bites?

Bug Bites – Tanto o Pedro quanto o Caio, criadores do Bug Bites Podcast, sentiam falta de conteúdo sobre Ciência na língua portuguesa. Além disso, alguns podcasts em inglês vez ou outra tinham episódios com histórias muito legais sobre insetos, mas a barreira do idioma transformava esse tipo de conteúdo em algo quase que exclusivo para um grupo muito seleto, muitas vezes um público que já contava com maior acesso à educação. Em um dia de 2018, depois de algum tempo pensando se seria legal fazer um podcast, Pedro e Caio decidiram criar o Bug Bites, para divulgar Ciência e também para popularizar o conhecimento sobre insetos, um dos grupos de animais de maior importância para a humanidade, mas conhecido por muitos poucos.

Elidiomar Ribeiro da Silva – Qual foi a formação inicial do Bug Bites? E qual é a formação atual?

Bug Bites – O Bug Bites foi criado por Pedro Rodrigues e Caio Zitelli, ambos entomólogos. O projeto nasceu durante o pós-doutorado do Pedro e o mestrado do Caio, ambos na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo (ESALQ/USP), em Piracicaba (SP).

Além do Pedro e Caio, fazem parte do time a Gabriela Vieira, que é agrônoma, professora, empreendedora e que também produz o podcast MIP em Dia; e a Fabiana Chimes, bióloga, que trabalha na Fiocruz, é professora universitária e comanda as redes sociais do Bug Bites e o nosso evento anual on-line, o Insektober.

Ao longo do amadurecimento do podcast, tivemos ainda o prazer de ter no nosso time a Eloísa Torrezan, bióloga, mestra em Genética pela ESALQ/USP e que hoje atua como professora; o Bruno Uehara, do perfil Observações Naturalistas; o artista Gustavo Gus e o biólogo Phillip Schuster.

À esquerda, tema do desafio Insektober relativo ao dia 21 de outubro de 2024. À direita, resposta minha ao desafio do dia – Imagens: @bugbitespodcast/@labeuc.elidiomar

Elidiomar Ribeiro da Silva – Como surgiu a ideia do Insektober?

Bug Bites – O Insektober surgiu a partir da ideia do Inktober, o desafio diário de desenhos à caneta (daí o ink), como um exercício de disciplina, mas também um jeito de se fazer parte de uma comunidade mundial em que todos estão realizando o desafio. O desafio deslanchou durante a pandemia e funcionava a partir de uma lista oficial, com um tema ou palavra para inspirar o desenho de cada dia. Mas desde então já inspirou muitos outros desafios parecidos. Tivemos a ideia de trazer o mesmo desafio para o público brasileiro que se interessa em ciência e arte – um par de interesses que é bastante comum! É legal ver a criatividade e, muitas vezes, aprender com o conteúdo que esse tipo de desafio acaba gerando! Muita gente pesquisa, traz informações novas, sempre temos surpresas. Assim, o Insektober também funciona como uma forma de outro tipo de interação com o público da Entomologia, atraindo também mais gente do meio artístico. Assim surgiu o Insektober.

Elidiomar Ribeiro da Silva – O Insektober está só no Instagram e Facebook ou é lançado em alguma outra rede social?

Bug Bites – Já estivemos no Twitter. Mas hoje estamos ativos somente no Instagram e Facebook.

Elidiomar Ribeiro da Silva – Quantas edições foram lançadas do Insektober?

Bug Bites – Cinco edições! Desde 2019 estamos desafiando o público da Entomologia para desenhar.

Elidiomar Ribeiro da Silva – Por que a edição 2024 teve essa aproximação com o folclore?

Bug Bites – Queríamos algo diferente, pensamos em interagir com a cultura folclórica e trazer mais criatividade para o desafio. O folclore, tanto no Brasil como a nível mundial, envolve muitas histórias com insetos, mas nem sempre. Essa diversificação é boa, pois desafia quem participa a usar a criatividade, além de fazer com que se pesquise sobre folclore e se aprenda (com sorte) algo novo. Assim, convidamos você para nos ajudar com a lista. E estamos vendo muitos desenhos fantásticos misturando Entomologia e folclore.

Elidiomar Ribeiro da Silva – Como vocês veem a aproximação entre Ciência e cultura?

Bug Bites – Nós pensamos que ambas andam juntas! A cultura, por ser algo popular, atrai mais a população em geral. Quando aliada à Ciência, junta informações importantes e escrita não tão formal, o que acaba por atrair muito mais pessoas.

Elidiomar Ribeiro da Silva – Há alguma história relacionada ao Bug Bites e/ou ao Insektober que tenha marcado vocês?

Bug Bites – Nossa, é difícil (risos)… Todas as histórias que fizeram o Bug Bites ao longo desses anos têm sua importância. Mas os episódios de Halloween [9] [10] foram complicados de fazer, por terem demandado um levantamento sobre algo bizarro e baseado em terror, com a necessária transcrição disso para uma linguagem simples e engraçada, o que foi um desafio. No Insektober muitas coisas nos marcaram, a edição em que as crianças participaram foi de uma criatividade ímpar, bem como os seguidores que montam mosaico com nome Insektober, onde as letras correspondem aos dias de desafio. Houve um momento em que uma seguidora fez um bloco de desenhos com os 31 dias de desafio. O Insektober é um momento do Bug Bites muito esperado não só por quem participa, mas por nós da equipe, que temos a satisfação de receber tanto desenho criativo e fantástico.

Tenho por mim que sei quem é a seguidora que, conforme mencionado pelo pessoal do Bug Bites, “fez um bloco de desenhos com os 31 dias de desafio”. Pois foi exatamente isso que, no Insektober do ano passado, a bióloga e entomóloga Elaine Della Giustina Soares fez (ilustrando a capa deste artigo). Por sinal, acompanhando os desenhos feitos por Elaine, que é professora da Universidade Federal da Integração Latino-Americana, no Paraná, para a atual edição do desafio, a impressão que se tem é que novamente uma bela arte será composta ao final de outubro.

O desafio Insektober Folclore 2024 está em plena vigência e fica aqui o convite para que todos se juntem a nós, artistas ou não, entomólogos ou não, na importante causa da popularização dos insetos e suas maravilhas. Ainda dá tempo, como não? Basta seguir o Insektober no Instagram ou no Facebook que o encantamento é certo! E também dê aquela justa moral ao podcast Bug Bites, que está hospedado em todas as grandes plataformas que agregam podcast, como a Apple Podcast, o Spotify e o Deezer. De quebra, ao escutar os episódios, você vai se surpreender, instruir, divertir e maravilhar. Pois é exatamente isso que o incrível mundo dos insetos faz com a gente.

E aí, está esperando o quê? Pegue uma caneta e participe. Até mês que vem.

Referências

Observação: as opiniões, informações e dados divulgados
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Sobre o autor / Elidiomar Ribeiro da Silva

Licenciado em Ciências Biológicas, mestre e doutor em Zoologia pelo Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professor do Departamento de Zoologia da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), sendo responsável pelo Laboratório de Entomologia Urbana e Cultural. Entomólogo, tem carreira centrada no estudo da taxonomia das ordens Ephemeroptera, Hemiptera […]