Possui graduação em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Mestra e doutoranda no Programa de Pós Graduação em Ecologia da mesma universidade, onde atua no Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (NERF).
Tem como principais interesses assuntos relacionados à ecologia de ferrovias e rodovias, assim como conservação da natureza e educação ambiental.
Quando falamos do impacto das colisões entre veículos e fauna (atropelamentos de animais), podemos imaginar um único evento envolvendo um animal, um carro e uma estrada. É normal pensarmos em escala local, pois é o que estamos acostumados a vivenciar. Entretanto, quando começamos a pensar no tamanho da malha rodoviária do país, podemos deduzir que esse impacto se repete inúmeras vezes nos mais distintos locais.
Além das estradas habituais que utilizamos para o deslocamento humano e de insumos, ainda temos vias relacionadas exclusivamente às atividades de mineração e de infraestruturas hidrelétrica e ferroviária, por exemplo. Ou seja, o tamanho do impacto das colisões se torna maior do que inicialmente poderíamos imaginar, tanto em magnitude quanto em sua distribuição no espaço.
Uma colisão dessas ocorre, obviamente, porque há um animal na rodovia. Mas qual a razão de um indivíduo utilizar a estrada? Será que ele está ali simplesmente porque a via foi construída na área onde vivia e, agora, esse espécime segue ocupando a mesma região para desempenhar suas atividades de alimentação e reprodução, por exemplo? Ou será que impactos de outros empreendimentos influenciaram o seu deslocamento e o fizeram estar ali? Seria o caso, por exemplo, da explosão para a instalação de uma torre eólica, do alagamento de um reservatório de uma hidrelétrica ou do desmatamento para instalação de uma linha de transmissão de energia. E, ainda, se todos esses empreendimentos e impactos estiverem presentes em uma mesma região, qual seria o responsável pera presença do animal na estrada?
A presença de diferentes empreendimentos em uma mesma região é uma realidade no território brasileiro. Temos regiões com mais de uma mineradora. Temos rodovias e ferrovias para escoar a produção e para atender o deslocamento dos funcionários dos diversos empreendimentos. Temos também hidrelétricas e linhas de transmissão perto desses outros empreendimentos. Tudo isso se soma à malha rodoviária utilizada para o transporte humano e de insumos.
A avaliação dos impactos cumulativos visa compreender as consequência que são resultantes de um conjunto de ações humanas, considerando até mesmo as ações pequenas e individuais. Todas e cada uma das atividades de cada empreendimento podem influenciar tanto em aumentar um impacto quanto em gerar novos. Poderíamos, então, pensar que diferentes ações humanas acabam influenciando a decisão de um animal utilizar a estrada e, consequentemente, de ele se envolver na colusão com um veículo, amplificando a magnitude desse impacto.
Infelizmente, não é simples compreendermos a cadeia de ações causadoras de um impacto e. quando olhamos para o impacto da colisão entre veículos e animais na estrada, acabamos conseguindo mitigar a última etapa dessa possível cadeia do impacto – por exemplo, instalando cercas que evitem o acesso dos animais à estrada.
É preciso que no planejamento de um empreendimento ou de um território sejam considerados todos os projetos dos diferentes empreendimentos, sejam eles existentes na região ou ainda em planejamento. Esse trabalho é necessário para entender melhor o efeito cumulativo dessas diferentes atividades humanas no impacto em questão, como na mortalidade da fauna em rodovias de uma determinada região. E nesse planejamento, deve-se realizar um diagnóstico da situação atual da região, identificando seu grau de conservação atual, mas também avaliar cenários futuros dos impactos, considerando as variadas consequências dos empreendimentos envolvidos.
Claro que não é simples considerar todas as atividades de uma cadeia de impactos, mas é um caminho que temos que trilhar. Vivemos em uma sociedade dependente de inúmeros empreendimentos já construídos e com muitos outros previstos para construção. Não podemos olhar para eles individualmente, pois seus impactos se somam ao afetar a biodiversidade.
Trago essa reflexão sobre um contexto mais amplo: ao passo em que nos tornamos mais conscientes da influência dos impactos dos diferentes empreendimentos (e conseguimos avaliá-los em conjunto), avançaremos na mitigação das colisões entre veículos e fauna, tentando considerar, além do evento de colisão em si. as razões dele estar acontecendo.
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Possui graduação em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Mestra e doutoranda no Programa de Pós Graduação em Ecologia da mesma universidade, onde atua no Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias (NERF). Tem como principais interesses assuntos relacionados à ecologia de ferrovias e rodovias, assim como conservação da natureza […]
