Por Marcelo Calazans
Técnico em agropecuária, administrador de empresas e fotógrafo. Foi professor da disciplina Fotografia de Natureza pelo Senac (MS)
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Olá! Tudo bem com você? Espero que sim…
Neste artigo, resolvi abordar a fotografia em preto e branco de animais, a história dessa arte, seus aspectos técnicos, dificuldades, etc. Para começar, vou tratar do “ressurgimento” (?) desse tipo de fotografia.
A palavra “ressurgimento” é seguida de um ponto de interrogação, pois, na realidade, esse tipo de fotografia nunca saiu de moda. E hoje, ela está mais em evidência do que nunca (vide Sebastião Salgado e Araquém Alcântara, entre outros).
A imagem em preto e branco está envolta em um ar de mistério, de nostalgia, que é diretamente ligada não só às memórias de fotografias antigas, mas também aos primórdios da história da própria fotografia. É fato que a imagem em preto e branco é extremamente eficaz em enfatizar formas e tons de um motivo. O preto e branco permite criar uma imagem forte de uma cena que poderia ter menos impacto se fosse feita em cores. Eu, particularmente, gosto de fotografia em preto e branco mais granulada. Claro, depende do assunto a ser registrado. Mas, o que quero destacar aqui, é que existem pontos importantes a serem levados em consideração na hora de se fazer uma foto em preto e branco. E antes de começar, lembre-se da regra principal sobre fotos em preto e branco: elas sempre vão pedir uma textura bem definida, para realçar ainda mais a escala de cinza da imagem.
Vale lembrar que foto em preto e branco não é aquela simplesmente feita sem cores. Não! E nem pode ser definida como uma simples captura de imagens em tons de cinza. É muito mais do que isso.
A escala de cinza é como se fosse um arco-íris, mas com tons de preto, branco e cinza somente. Nas suas infinitas tonalidades e que nos permitem criar sombras profundas ou não, ressaltar detalhes, ocultar outros menores. Muitos fotógrafos dizem que se você aprender o que fica bom para ser retratado em preto e branco, irá compreender muito melhor as outras cores e seus contrastes. Mas é só conhecendo o contraste de todas as cores que iremos conseguir capturar ótimas imagens em preto e branco. Texturas naturais como madeira, objetos metálicos e alguns detalhes repetitivos como listras, ondas e espirais sempre resultam em ótimas fotos.
Tenha em mente também que é importante tentar manter a simetria na textura. Essa simetria é geralmente perdida nas fotos em cores. E a mágica da fotografia em preto e branco é justamente essa: mostrar todos os detalhes que nossos olhos não percebem quando estão influenciados pelas cores. É por isso que a fotografia em preto e branco mantém e ganha novos adeptos a cada dia. Alguns, inclusive, são os melhores no geral.
Uma dica legal para se iniciar no mundo do preto e branco, é escolher objetos com cores bem distintas, de preferência cores como roxo escuro, amarelo e vermelho, e fotografá-los lado a lado. A câmera “os enxerga” de maneiras diferentes. É como se ela escondesse de nossos olhos como vemos uma cor em particular, para projetar essa mesma cor com muito mais intensidade e detalhes, mas dentro da escala de preto e branco e cinza. Temos certas ocasiões em que a foto a ser feita “escancara” que quer ser registrada em preto e branco.
Quando falamos em fotografia em preto e branco, não podemos esquecer de mencionar o “balanço de branco”, que é fator primordial para esse tipo de registro. Com sua equalização, conseguiremos captar a maior quantidade possível de escalas de cinza, sem perdas de nitidez e de texturas do objeto registrado. Tá, mas o que é “balanço de branco”? Calma que vou explicar de um jeito fácil de ser entendido.
“Balanço de branco” em inglês denomina-se white balance e corresponde ao processo de remover as cores não reais da imagem, de uma forma que ela mostre como sendo brancos os objetos que a olho nu são de fato brancos. A câmera interpreta a luz do ambiente a seu modo, e quando nós “batemos o branco”, quer dizer que estamos mostrando para ela qual é, de fato, o objeto branco naquela cena, para que, baseando-se por ele, ela possa calcular as demais cores corretamente. Essa é a maneira de deixar as cores da imagem o mais próximas possível do real.
Essa mesma definição vale para se obter fotografias em preto e branco. Se o “balanço de branco” não for feito de acordo, as partes com essa cor no assunto a ser registrado perderão nitidez, contraste, textura, podendo até mesmo ficar muito “estouradas” pelo excesso de luz rebatida pela superfície do objeto, como penas, escamas e outras partes dos animais. Com o “balanço de branco” no automático, a câmera faz todo este trabalho sozinha, o que acaba ocasionando um cálculo errado da temperatura da cor (imagem muito amarelada ou muito azulada), deixando a imagem muito fria ou muito quente. As cores da imagem podem ficar tão distantes do real que acabarão estragando a fotografia.
Também vou falar de dois itens muito importantes e que muita gente não dá o mínimo valor, mas que ajudam o fotógrafo, o diretor de fotografia, o cinegrafista, o operador de câmera, o filmmaker, enfim, para todo profissional que trabalha com registros de imagens tanto analógicas como digitais. Esses dois itens são ferramentas importantes, principalmente para exposição da luz e ajustes do “balanço de branco”. Eu estou me referindo da “escala de cinza” (gray scale) e do cartão de cinza 18% (gray card). Quando nós estamos medindo a intensidade de uma determinada fonte de luz de uma cena, com a finalidade de efetuar o ajuste correto ou o desejado da exposição, nós utilizamos um fotômetro que mede a luz incidente ou um spot meter que mede a luz refletida.
Hoje em dia, todas as câmeras fotográficas e câmeras de vídeo possuem fotômetros embutidos que medem a luz refletida. Mas se você se encontra numa situação de ter que corrigir a exposição de uma cena que é constituída por áreas claras e escuras (sempre quando estamos registrando a natureza, isso acontece, pois o assunto é dinâmico, se move o tempo todo) , é possível que algumas tonalidades intermediárias não existam nesse cenário real e a maioria dos fotômetros produzirá resultados insatisfatórios. Então, nesse caso, você pode apontar a câmera para uma área que contenha uma tonalidade média de cinza. Existe um tom de cinza que se refere a essa tonalidade média de 18% numa escala de tons que vai do branco absoluto ao preto absoluto. Você pode utilizar um cartão de cinza 18% para fazer um fotometria por substituição, para obter uma melhor exposição da luz, que, como eu disse, é primordial para se captar e manter a textura, a nitidez e o contraste ideal do registro. É um método relativamente simples.
Quando você estiver numa situação, por exemplo, com uma área extremamente clara, aponte a lente da sua câmera para um cartão de cinza (médio) 18%, deixe em modo manual, considere a leitura do fotômetro e veja também a combinação de velocidade e abertura. Na realidade, uma cena mediana não reflete 18% e sim 13% da luz que incide sobre ela. Quando você estiver utilizando um cartão de cinza 18% numa fotometragem, aumente 1/2 ponto na exposição (fator de compensação) para a maioria das situações. Mas se você estiver numa situação que for muito clara, diminua 1/2 ponto na exposição. Isso ajudará a conservar as texturas e os detalhes. Complicado? Não, quando se coloca tudo em prática, que é a melhor maneira de fixar conhecimentos aprendidos teoricamente.
E fotografia é isso. É prática!
Criei a galeria abaixo com algumas fotos que captei originalmente em cores e foram convertidas para preto e branco em programa de edição de imagens. A conversão de fotos em cores para preto e branco é muito utilizada hoje em dia e suas características e dificuldades serão apontadas por mim em uma próxima oportunidade. Tem muito mais coisas a serem colocadas aqui, para fechar o ciclo da fotografia em preto e branco. Mas isso é assunto para os próximos artigos, pois esse tema é extenso, muito técnico e, tenho certeza, vai despertar a curiosidade de todos.
Então temos um encontro marcado em maio, com mais uma parte sobre esse assunto. Nos vemos lá! Grande abraço!
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