Fotografando baleias no Brasil

Olá! Seja bem-vindo(a) a mais um artigo da série em que destrinchamos algumas estratégias para fotografar diferentes animais do Brasil. Neste texto, vamos dar uma olhada em alguns dos maiores animais do mundo, que ainda assim conseguem passar despercebidos muitas das vezes. Estou falando das baleias, mais especificamente de duas espécies que aparecem na costa brasileira durante seus períodos reprodutivos: a baleia-jubarte (Megaptera novaeangliae) e a baleia-franca (Eubalaena australis).

Baleia-jubarte

As jubartes são animais que podem chegar a 16 metros de comprimento e pesar até mais de 30 toneladas. São mamíferos muito inteligentes e capazes de se comunicarem entre si. Sua alimentação é baseada principalmente em krill (crustáceos) e pequenos peixes de cardume, feita exclusivamente durante o verão nos mares antárticos. No inverno, tiram proveito de suas reservas de gordura e migram para o norte, onde se acasalam e criam os filhotes até o fim da primavera, período em que podem ser avistadas nas nossas águas – fica ligado, que estamos entrando nessa época!.

Atualmente, se recuperando da caça predatória que sofreram (a proibição, no Brasil, se deu em 1985), as populações dessa espécie estão aumentando ao redor do mundo, sendo estimadas num total aproximado de 20.000 indivíduos, segundo o Instituto Baleia Jubarte. Está listada como “menos preocupante” (Least Concern – LC) pela União Internacional para a Conservação da Natureza, a IUCN (atualizada em 2018) e é um grande símbolo de como a natureza consegue se regenerar rapidamente, depois que algumas ações danosas são revistas e cessadas.

Baleia-franca

As baleias-francas são ainda maiores, podendo alcançar surpreendentes 18 metros de comprimento e pesar mais de 60 toneladas (em ambas as espécies as fêmeas são um pouco maiores e mais pesadas que os machos). Possuem algumas calosidades bem características na região da cabeça que ajudam a diferenciá-las de outras espécies. Sua dieta consiste unicamente em krill e outros pequenos crustáceos que fazem parte do zooplâncton e é feita através da filtração da água, possibilitada pelas diversas cerdas presentes em sua boca. Assim como as jubartes, também se alimentam perto da Antártida durante o verão e migram ao norte, no inverno, para a reprodução.

Quanto à sua conservação, a história é bem semelhante a das jubartes. Hoje em dia, também está classificada como “menos preocupante” (Least Concern – LC) na Lista Vermelha da IUCN (última atualização em 2017).

Agora que estamos mais familiarizados com esses enormes mamíferos marinhos, vamos detalhar como fotografá-los.

Localização

As jubartes podem ser avistadas na costa brasileira entre o Rio Grande do Norte e a Bahia. A principal concentração anual dessas baleias é no Banco dos Abrolhos, situado a 65 km do litoral sul da Bahia. Contudo, nos últimos anos, avistamentos em outros pontos, como na Bacia de Campos (RJ) e em Ilhabela (SP) estão se tornando mais comuns, justamente por conta do crescimento no número de indivíduos da espécie. Outros lugares como Itacaré (BA), Caravelas (BA) e Vitória (ES) possuem uma boa infraestrutura que possibilita a observação, tendo o apoio de diversas iniciativas como o Projeto Baleia Jubarte, por exemplo. É possível avistar jubartes entre julho e novembro no Brasil, sendo o pico do nascimento dos filhotes entre agosto e setembro.

Já as baleias-francas, durante seu período reprodutivo, estão mais concentradas no litoral sul do país, principalmente em Santa Catarina (o Rio Grande do Sul fica em segundo lugar). Além disso, um pequeno grupo de indivíduos é conhecido por retornar anualmente para Abrolhos (BA), novamente. Com exceção desses locais, avistamentos em outros estados (SP, RJ, ES, PR), apesar de não serem impossíveis, são raros e esporádicos. Em Santa Catarina, o melhor lugar para encontrar essas baleias é na Área de Proteção Ambiental da Baleia Franca (o nome é meio autoexplicativo), também entre julho e novembro, sendo setembro o mês de pico das ocorrências. Esta espécie também recebe o incentivo de muitas organizações, como o Instituto Australis, financiado pela Petrobras.

Equipamento

O turismo de baleias é rigorosamente controlado pela legislação e fiscalização ambiental, que impõem uma série de limites em relação a como as embarcações devem se aproximar dos animais para garantir o bem-estar deles. Portanto, você estará em um barco a uma distância considerável, o que exige o uso de lentes teleobjetivas para registros mais detalhados das baleias. Também é possível utilizar lentes grande-angulares com a finalidade de incluir a paisagem e o horizonte do oceano, uma boa alternativa para estabelecer uma escala que dá ênfase ao tamanho desses seres.

As embarcações que levam aos pontos de observação costumam ser bem abertas, então esteja preparado(a) para ficar exposto(a) ao vento e respingos d’água. Para isso, é bom levar um casaco (se for impermeável melhor ainda) para se proteger do frio e alguma coisa para proteger seu equipamento, caso ele não tenha “weather sealing” (traduz-se livremente para “isolamento de clima”) de fábrica. Você pode comprar uma capinha de silicone personalizada para o seu modelo de câmera ou improvisar com uma simples sacola plástica, desde que os botões e a lente fiquem livres para uso. Para quem enjoa fácil, lembre-se de tomar algum remédio antes de embarcar ou levá-lo na mochila, caso ache necessário.

Em dias de céu aberto, o parasol é um grande aliado. Ele reduz o efeito do flare não intencional causado pelo impacto direto da luz solar nas extremidades da sua lente. Além disso, recomendo sempre utilizar alguma cordinha de segurança do seu equipamento, seja a que você coloca no pescoço ou no pulso. Por mais que ela possa limitar um pouco seus movimentos, acho que ninguém quer dar aulas de mergulho para sua própria câmera…

Especificamente para as baleias francas, que tem o comportamento de se aproximarem da costa, com um pouco de sorte é possível observá-las e registrá-las de terra, ou seja, sem precisar de uma embarcação. O trecho entre Imbituba e Garopaba do litoral catarinense é apontado como o melhor para vê-las do continente.

Vale lembrar que as fotografias subaquáticas e feitas por drones são excelentes opções para registrar as baleias, pois exploram pontos de vista e perspectivas quase nunca vistos. Porém, por serem áreas extremamente nichadas e com equipamentos muito específicos e individuais, não vou me alongar muito nos detalhes. Atenção: caso tenha um drone, atente-se a legislações e regras do local que for fotografar para ver se o uso é permitido.

Técnicas

 As baleias são mamíferos, portanto precisam eventualmente respirar o oxigênio da superfície. Esse é o momento que temos para fotografá-las. Ambas as espécies possuem diversos comportamentos de emersão, como a exposição da cauda e das nadadeiras peitorais, o borrifo, a “espiada” (quando o indivíduo permanece boiando só com a cabeça pra fora d’água) e os tão desejados saltos, muito mais comuns nas jubartes (que lançam cerca de 2⁄3 do seu corpo acima da superfície!).

Para os comportamentos mais tranquilos, nos quais as baleias estão lentas e permanecem mais tempo visíveis fora d’água, tenha calma e se preocupe somente em acertar na exposição e na nitidez da foto, configurando seu equipamento de acordo com a luz ambiente. Tente deixar o ISO o mais baixo possível para evitar o ruído. De resto, não há muitas regras. Elas são animais curiosos e dóceis, então provavelmente você terá uma boa quantidade de oportunidades até aperfeiçoar os ajustes.

Já para os saltos, deixe sua câmera preparada com uma velocidade do obturador alta (acima de 1/1000s) para congelar bem o movimento e não se preocupe tanto com o ISO – uma cena como essa capturada com sucesso faz esquecer qualquer ruído. Além disso, lembre-se de ativar o modo burst da câmera, no qual ela não para de tirar fotos enquanto você não soltar o botão do obturador – essencial para capturar vários frames em poucos segundos. Também mantenha o foco no modo automático que segue o assunto (AI Servo na Canon e AF-C em outras marcas), assim ele acompanhará a baleia durante todo o seu voo, sem deixá-la borrada.

Dicas extras

Nas jubartes, os saltos ocorrem com mais frequência em mães que estão com filhotes. Primeiro, o bebê começa a saltar como se estivesse pedindo para a mãe imitá-lo, a qual atende seu pedido logo em seguida. Se souber que sua área está povoada de fêmeas cuidando de seus filhos, já fique preparado(a) para esse tipo de situação.

A superfície da água costuma ficar mais esbranquiçada segundos antes das baleias saltarem por conta das bolhas, sendo esse o principal indício de onde elas vão aparecer para o momento do clique. O som dos borrifos pode ser ouvido a centenas de metros de distância, o que também pode ajudar a revelar a posição dos animais.

A experiência de estar cara-a-cara com uns dos maiores animais do planeta deve ser algo muito marcante e poder eternizar essas lembranças com a fotografia é algo que ainda tenho muita vontade de fazer. Espero que o conteúdo deste artigo sirva como uma boa base para quem tem o mesmo interesse que eu em registrar esses gigantes gentis.

Agradeço sua leitura e espero você na semana que vem para desvendar os segredos de como fotografar mais um animal. Abraço!

Observação: as opiniões, informações e dados divulgados
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