Fotografando a onça-pintada

Olá, como vai? Com este artigo, iniciamos uma nova série na coluna Photo Animal. Vamos discutir sobre como registrar as chamadas espécies-bandeira do Brasil, além de outras um pouco menos conhecidas, mas que costumam ser bem fotogênicas.

A ideia é apresentar dicas que aumentem suas chances de fotografar cada animal, abordando desde as melhores localizações e técnicas até os equipamentos mais adequados e como se comportar na presença de um indivíduo.

Tendo isso dito, nada melhor do que estrear a série com a magnífica onça-pintada (Panthera onca).

Onça-pintada

Este felino, o maior das Américas, ocorre desde o México (apesar de raro) até a Argentina. No Brasil, que abriga a maior concentração desses animais do mundo, ela pode ser encontrada em praticamente todos os biomas (com exceção do Pampa, de onde já foi extinta), tendo suas populações consideravelmente maiores no Pantanal e na Amazônia, respectivamente. Além disso, a espécie está presente no cotidiano e em inúmeras áreas da cultura do nosso país, estando inclusive estampada na nota de R$ 50.

Apesar de ser um predador de topo de cadeia extremamente adaptado e eficiente, a onça-pintada está ameaçada de extinção em diversas regiões (como na Mata Atlântica e na Caatinga), estando classificada de forma geral como “quase ameaçada” (Near Threatened – NT) na Lista Vermelha da IUCN (a última atualização foi feita em 2016, antes dos enormes incêndios que com certeza tiveram um grande impacto negativo). As principais causas da diminuição no número de indivíduos são a perda de hábitat por consequência da atividade humana e a caça.

Depois dessa pequena ficha técnica, vamos voltar para a fotografia e ver como podemos capturar esse belíssimo animal pelas nossas lentes.

Localização

Como dito anteriormente, a maior chance que você terá de encontrar uma onça na natureza será no Pantanal. Estima-se que pouco mais de 1.600 indivíduos vivam nos mais de 200 mil quilômetros quadrados do bioma. Ainda assim, é como procurar agulhas em um palheiro. Claro que os outros biomas também são viáveis para tentar fotografar onças, mas estaríamos procurando menos agulhas em palheiros ainda maiores…

Além disso, o Pantanal seria o ambiente de minha escolha, já que é um dos mais abertos (em relação à vegetação) e acessíveis para a fotografia de vida selvagem, tanto por terra quanto por água. O ecoturismo é extremamente forte no local e tem uma boa infraestrutura. Muitos hotéis e agências de viagem proporcionam guias e atividades que podem facilitar os encontros com o felino. A região de Porto Jofre (MT) é a mais conhecida, entretanto há opções em Miranda (MS), Aquidauana (MS), Corumbá (MS) e Cáceres (MT).

Chegando ao hábitat das onças, acredito que a melhor oportunidade de fotografá-las seja na beira dos rios, onde temos uma visão mais limpa e direta até o animal (além da segurança que a separação por água proporciona). Tente perguntar para os locais onde os felinos costumam beber água, se banhar e até caçar, tentando descobrir os melhores pontos para preparar sua câmera. Além de ótimas nadadoras, as onças também conseguem escalar árvores, então não se esqueça de olhar para cima de vez em quando.

Equipamento

 É claro que para fotografar o felino com a mordida mais potente do mundo é preciso distância. Portanto, a primeira coisa que devemos levar, é uma lente teleobjetiva (uma com distância focal de no mínimo 200 mm deve dar conta do recado). Se você possuir um extensor, que aumenta ainda mais o alcance da lente, ele também pode ser muito útil.

Em dias de bastante sol e céu aberto no Pantanal, a falta de cobertura vegetal pode fazer com que a luz fique muito forte e reflita sobre o vidro da lente, causando aquelas manchas indesejadas na foto. Para resolver isso, o uso do parasol é recomendado.

As onças-pintadas são atentas, inteligentes e sabem do poder que possuem, logo elas raramente serão pegas de surpresa ou irão fugir de você. Portanto, não se preocupe tanto com o que estiver vestindo e com acessórios desnecessários. Tente preservar seu conforto e praticidade para não perder o clique na hora H.

Caso você tenha bastante tempo e conhecimento sobre as rotas que esses animais costumam fazer em um local, o uso de armadilhas fotográficas (câmeras “trap”) também é uma excelente alternativa, principalmente para capturar o comportamento mais natural possível deles.

Técnicas

 As técnicas e configurações da câmera que serão aplicadas vão depender bastante da situação em que a onça for encontrada. Se ela estiver parada, descansando ou andando bem devagar, não tem muito segredo. Configure as variáveis a fim de se obter as melhores exposição e nitidez possíveis, já que não há necessidade de usar velocidades altas do obturador para congelar o movimento.

Por outro lado, se você tiver a sorte de pegar esse predador em ação, seja ele caçando alguma presa, brigando com um rival ou até mesmo filhotes brincando entre si, recomendo aumentar bem a velocidade do obturador (algo em torno de 1/1000s) para evitar fotos borradas. Lembre também de aumentar um pouco o ISO e a abertura do diafragma para a foto não ficar escura demais nesses casos.

Para retratos e fotos mais de perto, é interessante utilizar grandes aberturas para destacar a onça do fundo. Enquanto isso, se quiser incluir a paisagem ou outros elementos, basta diminuir a abertura. Quanto ao foco, eu recomendo sempre deixar no modo automático que segue o assunto (AI Servo na Canon/AF-C em outras marcas) para evitar qualquer erro, afinal, um encontro com um animal desse nunca pode ser desperdiçado.

Dicas extras

 As onças são bastante territorialistas e costumam demarcar suas áreas de domínio constantemente. Arranhões em árvores, fezes e o cheiro forte de urina podem ser bons sinais que indicam a presença de um indivíduo nas proximidades.

Elas costumam ser mais ativas durante os períodos noturno e crepuscular, então fotografá-las durante a noite, apesar de ser um desafio ainda maior, também é possível.

Esses felinos são os únicos das Américas capazes de rugir e utilizam esse tipo de vocalização para se comunicarem com diferentes finalidades, como chamar os filhotes, atrair machos para o acasalamento e alertar rivais. Portanto, fique atento aos famosos esturros e tente ir em direção a eles, sempre com cuidado, claro.

Infelizmente ainda não tive o privilégio de encontrar uma onça-pintada na natureza. Nas duas grandes oportunidades que tive, bati na trave. No México, tive que me contentar em ver o Mick Jaguar (como os pesquisadores ingleses batizaram o único indivíduo que habitava a reserva) somente em imagens antigas de uma camera trap no computador. Já no Pantanal, o mais perto que cheguei foi de pegadas de uma mãe e seu filhote e de um boi que acabara de ser abatido, ainda com o corpo quente e o sangue fresco. Meu guia local chegou perto da carcaça e levantou seu pescoço, que estava totalmente quebrado. Foi uma cena muito interessante e assustadora ao mesmo tempo: ver a força que esses predadores têm é algo inesquecível.

Espero que tenha curtido o início dessa nova série da coluna. Sinta-se livre para nos enviar sugestões de espécies que você tenha curiosidade de saber como fotografá-las. Muito obrigado pela companhia e nos vemos na próxima semana. Um abraço!

Observação: as opiniões, informações e dados divulgados
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